México ameaça processar Google após renomeação do Golfo do México para “Golfo da América”

O presidente dos EUA, Donald Trump, fala com repórteres após assinar uma proclamação renomeando o Golfo do México para "Golfo da América" em 9 de fevereiro de 2025 [Kevin Lamarque/Reuters]. Fonte: Al Jazeera
O presidente dos EUA, Donald Trump, assina uma proclamação para renomear o Golfo do México para "Golfo da América" em 9 de fevereiro de 2025 [Kevin Lamarque/Reuters]. Fonte: Al Jazeera

O México está enfrentando uma controvérsia com o Google após a gigante de tecnologia alterar a nomeação do Golfo do México para “Golfo da América” em suas versões de Google Maps acessadas dos Estados Unidos. A mudança foi realizada em resposta a uma ordem executiva assinada pelo presidente dos EUA, Donald Trump, e gerou uma série de reações políticas e jurídicas. O governo mexicano, que considera a alteração uma violação de sua soberania territorial, está aguardando uma segunda resposta do Google antes de entrar com um processo judicial.

O Caso: A Disputa Geográfica e o Impacto nas Relações Bilaterais

A controvérsia surgiu depois que, ao acessar o Google Maps a partir dos Estados Unidos, o Golfo do México foi renomeado para “Golfo da América”. Para os usuários no México, o nome ainda aparece como “Golfo do México”, e em outros países, a plataforma agora exibe ambos os nomes: “Gulf of Mexico (Gulf of America)”. Essa alteração foi realizada em resposta à ordem executiva de Trump, que no início de fevereiro de 2025, determinou a mudança como parte de um esforço para “honrar a grandeza americana”.

O governo mexicano, liderado pela presidente Claudia Sheinbaum, expressou indignação com a mudança e exigiu que o nome original do golfo fosse restaurado em todas as versões do Google Maps. Sheinbaum afirmou que seu governo aguarda uma resposta final da empresa antes de recorrer ao sistema judiciário para resolver o impasse. A posição do México é clara: não aceitará a alteração do nome de uma área que é parte de seu território soberano, já que o Golfo do México é compartilhado entre três países — México, Estados Unidos e Cuba.

A Resposta do Google

Em resposta à solicitação do governo mexicano, o Google emitiu uma carta informando que a alteração feita nos seus mapas estava em conformidade com suas políticas internas, as quais aplicam uma abordagem imparcial e consistente em todas as regiões. A carta, assinada por Cris Turner, vice-presidente de assuntos governamentais e políticas públicas da empresa, destacou que a mudança do nome do golfo foi uma medida para manter uma representação precisa e atualizada de informações geográficas, alinhada com as fontes autoritativas utilizadas pela companhia.

Além disso, Turner indicou que a empresa estaria aberta a se reunir pessoalmente com representantes do governo mexicano para discutir a questão. No entanto, ele deixou claro que o Google manteria sua política de nomeação, citando que as convenções internacionais de mapeamento não regulam como empresas privadas devem representar características geográficas.

O Contexto Político e a Ordem Executiva de Trump

A mudança do nome do Golfo do México para “Golfo da América” é parte de um movimento maior liderado por Trump, que inclui outras ações simbólicas, como a restauração do nome “Mount McKinley” para a montanha mais alta da América do Norte, localizada no Alasca. A montanha foi renomeada Denali durante a administração de Obama, em um reconhecimento ao nome indígena da região. A ordem executiva de Trump, portanto, não se limita a alterar o nome do Golfo, mas reflete uma ideologia nacionalista de resgatar símbolos considerados representações da “grandeza americana”.

Trump também proclamou o dia 9 de fevereiro como o “Dia do Golfo da América”, um movimento que gerou divisões políticas dentro dos Estados Unidos. O governo de Trump está usando suas ordens executivas para reafirmar sua visão de história e identidade nacional, algo que tem sido uma característica de sua administração desde o início. Para muitos críticos, essas ações refletem uma tentativa de controlar a narrativa geográfica e histórica em favor de uma visão mais centrada nos Estados Unidos.

A Repercussão Internacional

A mudança gerou reações não apenas no México, mas também dentro dos Estados Unidos. A Associated Press (AP), uma das principais agências de notícias do mundo, se recusou a adotar o novo nome imposto por Trump e, como resultado, foi barrada de participar de certos eventos na Casa Branca. A AP manteve o nome “Golfo do México” em seus relatórios, embora tenha reconhecido a nova ordem. Essa postura reflete um descompasso crescente entre os órgãos de mídia independentes e a administração Trump, especialmente quando se trata de questões que envolvem a representação de território e história.

A situação também levanta questões sobre o poder das grandes corporações de tecnologia, como o Google, em influenciar a percepção pública e os debates sobre soberania nacional. Se o Google continuar a adotar o nome “Golfo da América” em suas plataformas, poderá ser visto como uma forma de endossar as ações do governo dos Estados Unidos, o que poderia ter implicações legais e diplomáticas.

O Impacto Jurídico e as Perspectivas Futuras

O governo mexicano está preparado para entrar com uma ação judicial caso não consiga resolver a questão por meio de diálogo com o Google. As autoridades mexicanas consideram que a mudança do nome do Golfo do México infringe a soberania territorial do país, dado que o México detém o controle de cerca de 49% da área, enquanto os Estados Unidos têm jurisdição sobre cerca de 46%. A decisão de um tribunal pode estabelecer um precedente importante para o modo como as empresas privadas de tecnologia tratam questões territoriais e geográficas em suas plataformas digitais.

O México também está enfrentando um momento delicado nas relações com os Estados Unidos, e a disputa sobre o nome do golfo é apenas mais um exemplo das tensões políticas entre os dois países. A resolução desse conflito poderá afetar não só a relação bilateral, mas também a forma como os cidadãos e governos percebem o poder das empresas de tecnologia no cenário global.

Conclusão

A disputa entre o México e o Google sobre o nome do Golfo do México coloca em evidência as complexas interseções entre tecnologia, geopolítica e soberania nacional. Com o governo mexicano ameaçando um processo judicial, a questão se torna um ponto de confronto significativo entre a autoridade estatal e as empresas de tecnologia multinacionais. O desfecho desse caso terá repercussões não apenas para as relações México-EUA, mas também para as normas globais de representação digital e a responsabilidade das grandes corporações de tecnologia nas questões de soberania e integridade territorial.



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