Exército Sudanês Retoma Cartum Central: Avanços Militares, Impactos Humanitários e Perspectivas do Conflito

O chefe do exército sudanês, Abdel Fattah al-Burhan, faz um gesto para os soldados dentro do palácio presidencial após o exército sudanês anunciar que havia assumido o controle do edifício, na capital Cartum, Sudão, em 26 de março de 2025. Conselho Soberano de Transição do Sudão/Divulgação via REUTERS.
O chefe do exército sudanês, Abdel Fattah al-Burhan, cumprimenta as tropas após a tomada do palácio presidencial em Cartum, Sudão, durante o avanço militar em 26 de março de 2025. Divulgação via REUTERS.

O exército sudanês conseguiu um avanço significativo ao retomar o controle de áreas centrais de Cartum, forçando as Forças de Apoio Rápido (RSF) a recuar de pontos estratégicos da capital. Esse movimento, que ocorre num contexto de um conflito de dois anos, tem gerado esperanças de estabilização em meio a uma divisão territorial acentuada e uma crise humanitária sem precedentes.

Avanços Militares e Controle Estratégico

Na quarta-feira, testemunhas locais relataram que as tropas do exército sudanês conseguiram expulsar os combatentes da RSF do centro de Cartum. O chefe do exército, Abdel Fattah al-Burhan, visitou pessoalmente o palácio presidencial e o aeroporto da capital, simbolizando o restabelecimento do controle sobre os principais pontos de acesso. Em um comunicado, al-Burhan afirmou:

“Hoje, a retomada do aeroporto e do coração de Cartum demonstra que nosso compromisso com a soberania nacional é inabalável. Estamos determinados a restaurar a ordem e a unidade em nosso país.”

O exército também anunciou a tomada de uma base estratégica ao sul da capital, considerada o último bastião relevante da RSF na região, e divulgou imagens de drones que mostravam multidões transitando por uma represa, evidenciando a retirada das forças rivais para o outro lado do Nilo.

Por sua vez, o líder da RSF, Mohamed Hamdan Dagalo (conhecido como Hemedti), comentou a situação:

“Estamos reavaliando nossa posição em Cartum para proteger nossos homens e assegurar que possamos continuar defendendo os interesses do povo do oeste do Sudão. Este movimento não encerra nossa luta.”

Essa declaração ressalta a contínua disputa e a possibilidade de reagrupamento estratégico por parte da RSF, mesmo diante dos avanços do exército.

Impacto Humanitário e Dados de Organizações Independentes

O conflito que assola o Sudão há dois anos gerou a maior crise humanitária do mundo, de acordo com a ONU. Mais de 12,5 milhões de pessoas foram deslocadas, e áreas devastadas sofrem com a fome e surtos de doenças. Organizações de direitos humanos, como a Human Rights Watch e a Anistia Internacional, têm denunciado violações contínuas dos direitos civis e a destruição de infraestrutura vital, ressaltando que:

“A instabilidade prolongada e os constantes combates agravam a situação dos civis, que já enfrentam dificuldades extremas para acessar serviços básicos e refúgio seguro.”

Além dos danos diretos, analistas apontam que a economia nacional sofre com a interrupção das atividades comerciais e a incerteza que paira sobre o futuro do país. Pequenos empresários e trabalhadores relatam prejuízos significativos, enquanto a população luta para manter a normalidade em meio a um cenário caótico.

Perspectivas Pessoais: Vozes da População e dos Refugiados

Relatos de cidadãos comuns oferecem uma visão mais humana e pessoal do conflito. Fatima, uma residente de Cartum que teve que deixar sua casa devido à violência, comentou:

“Cada dia é uma luta pela sobrevivência. Perdemos nossos lares, e agora, ver o exército retomar o centro nos dá esperança de que a ordem possa voltar, mas o medo ainda persiste em nossos corações.”

Outro relato, de Ahmed, um refugiado que cruzou a fronteira para buscar segurança em um país vizinho, ressalta a angústia vivida por milhões:

“Fomos forçados a deixar tudo para trás. O conflito não afeta apenas territórios, mas vidas inteiras. Esperamos por um dia em que possamos voltar sem medo.”

Essas narrativas ilustram o impacto devastador do conflito na vida dos sudaneses, enfatizando a urgência de soluções que priorizem a proteção dos direitos humanos e a reconstrução social.

Contexto Político e Possíveis Desdobramentos

O atual cenário militar evidencia uma tentativa de restabelecer a autoridade do governo central, mas a divisão entre o controle exercido pelo exército no centro e o domínio persistente da RSF no oeste do país cria um risco real de partição de facto. Especialistas em política sudanesa alertam para os seguintes pontos:

  • Precedentes Judiciais e Governança:
    A recente intervenção do exército, ao retomar pontos estratégicos, pode definir precedentes para futuras ações que limitem a atuação das forças paramilitares. Essa disputa também coloca em xeque a estrutura de governança que estava em processo de transição após o golpe de 2021.
  • Riscos de Fragmentação Territorial:
    Enquanto o exército fortalece seu controle em Cartum, a RSF consolida sua influência no oeste. Essa divisão territorial pode aprofundar as tensões e dificultar uma solução política unificada.
  • Impacto na Estabilidade Regional:
    O conflito, além de devastar o Sudão, tem repercussões na região do Chifre da África, aumentando o risco de instabilidade em países vizinhos e dificultando a cooperação internacional para a resolução do conflito.

Líderes internacionais também têm se manifestado, com representantes da União Africana e das Nações Unidas enfatizando a necessidade de negociações e de apoio humanitário imediato para prevenir uma catástrofe ainda maior.

Conclusão

O avanço do exército sudanês em Cartum central é um sinal importante de que forças estão se reposicionando em um conflito prolongado e devastador. As declarações contundentes de Abdel Fattah al-Burhan e os relatos dos líderes da RSF ilustram a intensidade da disputa pelo controle, enquanto dados de organizações de direitos humanos e os testemunhos pessoais ressaltam o enorme custo humano e econômico dessa guerra. Em meio a um cenário de incertezas e divisões territoriais, a retomada de pontos estratégicos na capital pode ser um passo para restaurar a ordem, mas a persistente fragmentação e os desafios humanitários indicam que o caminho para a paz e a estabilidade no Sudão ainda será longo e repleto de obstáculos.

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