China realiza exercícios militares ao redor de Taiwan e chama presidente de “parasita”: tensões na região se intensificam

Um navio da Guarda Costeira da China é visto em uma tela gigante exibindo reportagens sobre as patrulhas de fiscalização da guarda costeira nas águas ao redor de Taiwan, do lado de fora de um shopping center em Pequim, China, em 1º de abril de 2025. REUTERS/Florence Lo
Tela em Pequim exibe patrulha da Guarda Costeira da China perto de Taiwan, reforçando soberania nacional. REUTERS/Florence Lo

Nesta terça-feira, as Forças Armadas chinesas desencadearam uma série de exercícios militares nas águas que circundam Taiwan – com operações registradas ao norte, sul e leste da ilha. A iniciativa, apresentada como uma “advertência severa” contra o separatismo, ganhou contornos dramáticos ao acompanhar um vídeo de propaganda no qual o presidente taiwanês, Lai Ching-te, foi retratado de forma depreciativa, sendo chamado de “parasita.”

As manobras ocorrem em um momento de escalada das tensões no Estreito de Taiwan, poucos dias após a visita do secretário de Defesa dos Estados Unidos, Pete Hegseth, à Ásia, onde criticou abertamente Pequim. Segundo o Comando do Teatro Oriental do Exército de Libertação Popular (ELP), os exercícios militares envolvem navios, aeronaves e unidades de artilharia com o objetivo de simular bloqueios, ataques a alvos terrestres e marítimos, além de interceptações aéreas. Taiwan, por sua vez, respondeu com o envio de embarcações para monitorar os movimentos da marinha chinesa.

Uma demonstração de força e retórica ofensiva

Em um contexto de crescente tensão entre Pequim e Taipei, o Comando do Teatro Leste da China divulgou imagens de navios, aeronaves e sistemas de artilharia em exercícios que incluíram simulações de bloqueio, ataques a alvos marítimos e terrestres, além de interceptações aéreas. Em um dos vídeos, a imagem do presidente Lai foi distorcida, aparecendo como um inseto verde manipulado por hashis sobre um cenário de Taiwan em chamas – uma metáfora gráfica que reforça a narrativa de que o líder taiwanês estaria “envenenando” a ilha.

Comparação com exercícios militares passados e mudança de estratégia

Os exercícios militares recentes se inserem em um padrão de demonstração de força por parte de Pequim. Em maio de 2024, apenas três dias após a posse de Lai Ching-te, a China realizou um conjunto similar de operações militares, simulando o controle total sobre áreas estratégicas próximas ao primeiro arco de ilhas do Pacífico Ocidental. Em 2022, após a visita da então presidente da Câmara dos EUA, Nancy Pelosi, a Taiwan, a China conduziu um dos maiores exercícios militares da história recente na região, disparando mísseis sobre a ilha e cruzando a linha mediana do Estreito de Taiwan.

Dessa vez, no entanto, Pequim optou por não nomear oficialmente as manobras, uma mudança em relação a operações anteriores que possuíam codinomes específicos. De acordo com analistas, essa ausência de nomenclatura pode indicar uma normalização desse tipo de exercício como parte da política de pressão contínua sobre Taiwan.

Taiwan: polo tecnológico global sob ameaça

Além do contexto geopolítico, Taiwan é um dos principais polos tecnológicos do mundo, sendo responsável pela produção de semicondutores avançados por meio da Taiwan Semiconductor Manufacturing Company (TSMC). A empresa é peça-chave na cadeia global de suprimentos de tecnologia, abastecendo gigantes como Apple, Nvidia e AMD. Um eventual conflito militar envolvendo Taiwan poderia causar impactos devastadores na economia global, interrompendo o fornecimento de chips essenciais para diversos setores, de eletrônicos de consumo a armamentos modernos.

Riscos de escalada militar segundo especialistas

Especialistas alertam que, apesar da frequência das operações militares chinesas, a possibilidade de um confronto direto não pode ser descartada. O analista de defesa da RAND Corporation, Timothy Heath, destacou que, embora a China tenha optado por ações intimidadoras em vez de um ataque direto, qualquer erro de cálculo pode desencadear uma escalada militar descontrolada. “A presença constante de forças militares aumenta o risco de incidentes que podem sair do controle e levar a um conflito aberto”, afirmou.

Já Bonnie Glaser, diretora do programa Ásia no German Marshall Fund, aponta que Pequim busca testar os limites da resposta taiwanesa e americana. “A China quer medir até onde pode ir sem provocar uma retaliação significativa dos EUA. Essa é uma estratégia arriscada, mas calculada.”

Próximos passos de China e Taiwan

Os desdobramentos futuros dependerão da resposta internacional e das decisões estratégicas de Pequim e Taipei. Do lado chinês, há indícios de que novas manobras militares podem ser conduzidas ao longo do ano, reforçando a postura assertiva de Xi Jinping em relação à reunificação com Taiwan. Taiwan, por sua vez, continuará fortalecendo sua defesa e buscando apoio de parceiros internacionais, especialmente dos Estados Unidos.

No campo diplomático, a posição de Washington será determinante. O governo dos EUA já condenou os exercícios chineses, classificando-os como desestabilizadores para a região. No entanto, uma resposta mais incisiva – como o envio de navios da Marinha americana ao Estreito de Taiwan – pode elevar ainda mais as tensões.

Enquanto isso, Taiwan segue monitorando de perto as ações chinesas, mantendo suas forças em alerta máximo para evitar qualquer surpresa estratégica. A crise no Estreito de Taiwan permanece como um dos principais pontos de instabilidade na geopolítica asiática, com possíveis impactos de longo alcance para o equilíbrio global.

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