
Ministro turco afirma que, embora difícil de aceitar, um acordo entre Moscou e Kiev é preferível à alternativa de mais mortes e destruição.
Em declaração exclusiva à Reuters nesta sexta-feira, o ministro das Relações Exteriores da Turquia, Hakan Fidan, afirmou que qualquer acordo de paz entre Ucrânia e Rússia será “difícil de digerir”, mas enfatizou que essa opção é preferível à alternativa de mais mortes e destruição. Em meio a um cenário complexo de relações internacionais, a posição de Ancara reflete um equilíbrio delicado entre o apoio a Kiev e a manutenção de relações cordiais com Moscou.
Contexto Histórico e Papel da Turquia
Desde o início da invasão russa em fevereiro de 2022, esforços diplomáticos para cessar o conflito têm esbarrado em impasses territoriais, desconfiança mútua e interesses geopolíticos. A Turquia, por sua posição estratégica entre Europa e Ásia, tenta exercer papel de mediadora desde os primeiros meses da guerra, mantendo relações amistosas tanto com Kiev quanto com Moscou. Essa postura dupla tem permitido a Ancara contribuir para a integridade territorial da Ucrânia com assistência militar, enquanto se posiciona contra sanções unilaterais aplicadas à Rússia.
Análise da Declaração de Hakan Fidan
“Difícil de Digerir, mas Preferível”
“Será extremamente difícil digerir qualquer proposta. Mas, quando comparamos com a outra opção, que é mais morte e destruição, acredito que, independentemente das condições que tivermos, serão mais razoáveis do que a alternativa.”
— Hakan Fidan, ministro das Relações Exteriores da TurquiaEssa declaração evidencia a complexidade das negociações de paz, sugerindo que, embora o caminho proposto seja árduo, ele se mostra menos catastrófico do que a continuação do conflito.
A Influência dos Estados Unidos
Fidan destacou ainda a importância dos Estados Unidos no processo, afirmando que o presidente Donald Trump estaria, finalmente, seguindo uma agenda para acabar com o conflito. Segundo o ministro, os EUA desempenham um papel crucial, especialmente em termos de oferecer garantias de segurança para a Ucrânia — suporte que, segundo ele, a Europa não conseguiria fornecer sozinha.
“Há um grande esforço para que os americanos se envolvam novamente com o apoio à segurança da Ucrânia.”
Perspectivas para a Segurança Europeia e o Papel da Turquia
A possibilidade de um acordo de paz eleva o papel da Turquia na reestruturação da arquitetura de segurança na Europa. Em um cenário onde as potências europeias buscam fortalecer suas defesas e garantir a integridade de Kiev, Ancara é vista como um potencial garantidor, dado que possui a segunda maior força militar na OTAN.
Além disso, a Turquia já reiterou sua disposição para sediar novas rodadas de negociações de paz, tendo recebido anteriormente encontros iniciais entre representantes de Moscou e Kiev em 2022, reforçando sua imagem como um mediador indispensável para a resolução do conflito.
Impacto das Sanções e a Questão dos S-400
Outro ponto abordado por Fidan foi a crítica às sanções impostas pelos Estados Unidos à indústria de defesa turca, conhecidas como CAATSA, aplicadas após a aquisição dos sistemas de defesa S-400 da Rússia. Tais sanções também resultaram na exclusão da Turquia do programa F-35.
“As sanções deveriam ser corrigidas. Acredito que o Sr. Trump, com suas técnicas de resolução de problemas e sua equipe, será capaz de encontrar algum tipo de solução.”
— Hakan Fidan
Essa posição demonstra a esperança de que uma reaproximação com os Estados Unidos possa ocorrer, beneficiando não apenas a indústria de defesa turca, mas também o equilíbrio da segurança transatlântica.
Conclusão
A declaração de Hakan Fidan evidencia a complexidade dos caminhos para um eventual acordo de paz na Ucrânia. Embora a proposta seja “difícil de digerir”, Ancara sustenta que qualquer alternativa é preferível à continuação do conflito, marcada por mais mortes e destruição. Ao mesmo tempo, o posicionamento turco reforça seu papel estratégico na segurança regional e no reposicionamento das relações transatlânticas, especialmente num momento de redefinição das políticas de defesa na Europa.
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