
Após um hiato de sete anos marcado por tensões crescentes e trocas de ameaças, Irã e Estados Unidos retomaram nesta semana conversas diplomáticas de alto nível sobre o programa nuclear iraniano. A reunião, realizada na capital de Omã, simboliza um passo significativo em direção à reconstrução do diálogo entre os dois países, interrompido desde a retirada dos EUA do acordo nuclear de 2015 durante a gestão de Donald Trump.
Contexto: o que levou à retomada?
O Plano de Ação Conjunto Global (JCPOA, na sigla em inglês), firmado em 2015, estabelecia limites para o programa nuclear iraniano em troca da suspensão de sanções econômicas. A decisão de Trump, em 2018, de retirar os EUA do acordo e restabelecer sanções severas levou o Irã a expandir suas atividades nucleares, aumentando o enriquecimento de urânio para níveis próximos ao necessário para armas nucleares.
Desde então, o Oriente Médio tem assistido a um ciclo de tensões, ataques indiretos e uma crescente desconfiança mútua. A eleição de Joe Biden e, agora, o retorno de Trump à presidência reacenderam o interesse em buscar uma solução negociada, ainda que com abordagens distintas. A nova rodada de diálogo reflete uma pressão internacional crescente por estabilidade regional — especialmente diante dos conflitos em Gaza e das tensões entre Israel e o Irã.
A reunião em Omã: sinais de avanço?
A reunião contou com a presença do enviado especial dos EUA para o Oriente Médio, Steve Witkoff, e do negociador iraniano Abbas Araghchi. Embora tenha ocorrido majoritariamente de forma indireta, com interlocução do chanceler de Omã, houve também uma breve conversa presencial entre os representantes. Fontes diplomáticas classificaram o encontro como “promissor e construtivo”, ainda que nenhum acordo imediato tenha sido anunciado.
Segundo diplomatas, o Irã expressou disposição para negociar estritamente questões nucleares, deixando de fora temas sensíveis como seu programa de mísseis balísticos e o apoio a grupos armados na região. Os EUA, por sua vez, indicaram que desejam uma abordagem mais ampla, que contemple esses pontos.
Próximos passos: nova rodada em Roma
A próxima rodada de conversas está agendada para o dia 19 de abril. Essa continuidade sinaliza o interesse mútuo em manter o canal diplomático aberto, embora obstáculos significativos permaneçam. Um dos principais impasses é a exigência iraniana de alívio imediato das sanções, enquanto os EUA pedem garantias de verificação e cumprimento dos limites nucleares.
Análise: o que pode mudar?
Se bem-sucedidas, as negociações podem representar um reequilíbrio estratégico no Oriente Médio, reduzindo o risco de uma corrida nuclear na região. Além disso, um acordo renovado pode aliviar a pressão econômica sobre o Irã e contribuir para a estabilidade dos mercados globais de energia.
No entanto, analistas alertam que as divergências profundas entre os dois países, somadas ao cenário político interno dos EUA e ao papel do Irã em conflitos regionais, podem dificultar um avanço concreto no curto prazo.
A retomada do diálogo, por si só, já é uma mudança relevante na dinâmica internacional, especialmente considerando o histórico recente de ameaças e hostilidade. Mas a caminhada até um novo acordo será longa — e exigirá concessões significativas de ambos os lados.
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