O Kremlin celebra recusa dos EUA em apoiar adesão da Ucrânia à OTAN

Vista do Kremlin no centro de Moscou, Rússia, em 13 de fevereiro de 2025.
O Kremlin visto do centro de Moscou, em 13 de fevereiro de 2025. A estrutura continua sendo símbolo do poder político russo. Foto: Maxim Shemetov/Reuters

Contexto e posicionamento de Moscou

Segunda‑feira(21), o porta‑voz do Kremlin, Dmitry Peskov, declarou que a posição da administração do presidente Donald Trump — que descarta a adesão da Ucrânia à OTAN — “causa satisfação” ao governo russo e está em total sintonia com seus interesses de segurança. Segundo Peskov, manter a Ucrânia fora da aliança militar ocidental corresponde a uma das “raízes” do conflito iniciado em fevereiro de 2022.

“Ouvimos diversas vezes, em vários níveis, que a adesão da Ucrânia à OTAN está excluída. Claro que isso nos satisfaz e coincide com nossa posição”, enfatizou o porta‑voz.

Razões de fundo e histórico de adesão

A expansão da OTAN para o Leste Europeu sempre foi vista por Moscou como ameaça ao seu “espaço de influência”. No cúpula de Bucareste (2008), líderes da aliança acordaram que Ucrânia e Geórgia poderiam se tornar membros — decisão que irritou o Kremlin e, para analistas, plantou as sementes da atual escalada militar. Em 2019, Kiev incorporou em sua Constituição o compromisso com a adesão à OTAN e à União Europeia, aprofundando o fosso geopolítico.

Impacto humanitário: números e testemunhos

  • Mortes e feridos: De 24 de fevereiro de 2022 a 31 de março de 2025, o Escritório de Direitos Humanos da ONU (OHCHR) verificou ao menos 12.910 mortes de civis e cerca de 30.700 feridos em todo o território ucraniano. Só em março de 2025, ao menos 164 civis foram mortos e 910 feridos, um aumento de 50% em relação ao mês anterior.
  • Deslocamento: Segundo o ACNUR, cerca de 3,7 milhões permanecem deslocados internamente e 6,8 milhões buscaram refúgio fora do país.

Maria, professora de Kharkiv, descreve: “A cada sirene, corremos para os porões, sem saber se voltaríamos com a casa em pé.” Relatórios de ONGs como Human Rights Watch documentam o uso de munições de efeito ampliado, ampliando ainda mais o sofrimento civil.

Análises de especialistas

Dr. Fiona Hill, ex‑conselheira de Segurança Nacional dos EUA, adverte que “Putin não tem incentivo para uma paz durável na Ucrânia; as negociações são moldadas pela dinâmica de poder entre os EUA e a Rússia, e a Ucrânia permanece à margem”.

Andriy Zagorodnyuk, ex‑ministro da Defesa da Ucrânia, afirma: “O preço para deter a Rússia na Ucrânia é alto, mas será muito menor do que o custo de um novo mundo autoritário, caso a invasão de Putin prospere”.

Em relatório do CSIS, especialistas ressaltam que “qualquer acordo de cessar‑fogo deve incluir suporte militar robusto à Ucrânia para dissuadir futuras agressões”.

O que está em jogo

Principais riscos e consequências:

  • Prolongamento do conflito e agravamento da crise humanitária.
  • Consolidação de fronteiras de facto e precedente para anexações territoriais.
  • Erosão da ordem internacional baseada em regras e princípios de soberania.
  • Fortalecimento da influência russa sobre o Leste Europeu.
  • Fragilidade das garantias de segurança ocidentais sem o ingresso da Ucrânia na OTAN.

Perspectivas de paz e acordo Trump‑Putin

O presidente Trump renovou expectativas de um acordo de paz ainda esta semana, sugerindo que Rússia e Ucrânia poderiam retomar “grandes negócios” com os EUA. Peskov, porém, enfatizou que negociações devem ocorrer “em modo absolutamente discreto” e fora do debate público.

Enquanto Moscou e Washington ajustam suas estratégias, a população civil permanece à mercê dos desdobramentos, aguardando que um futuro acordo traga, enfim, a paz que ainda não chegou.

Seja o primeiro a comentar

Faça um comentário

Seu e-mail não será publicado.


*