
Nos últimos meses, o governo dos Estados Unidos intensificou entrevistas a sul-africanos brancos que buscam status de refugiados, após a ordem executiva de 7 de fevereiro de 2025 emitida pelo presidente Donald Trump. A medida, que determinou o reassentamento de refugiados afrikâneres, alega que descendentes de colonizadores europeus na África do Sul são “vítimas de discriminação racial injusta”.
Contexto da Ordem Executiva
Em 7 de fevereiro de 2025, Trump suspendeu todas as admissões de refugiados citando “questões de segurança e custo” e, simultaneamente, determinou atenção especial aos afrikâneres sul-africanos, classificando-os como alvo de perseguição racial pelo governo de Pretória . A iniciativa surpreendeu, pois bloqueou milhares de refugiados de países em conflito, como Afeganistão e RDC, enquanto prioriza um grupo estatisticamente privilegiado.
Processo de Entrevistas em Pretória
Pelo menos 30 candidatos já foram aprovados em uma primeira rodada de entrevistas conduzidas por oficiais do Departamento de Segurança Interna (DHS) e da embaixada americana em Pretória. Segundo três entrevistados ouvidos pela Reuters, o atendimento foi “excepcionalmente amigável” e marcado por empatia com relatos de ataques a fazendas, disputas de terra e efeitos das leis de empoderamento negro que, segundo eles, os tornaram “inempregáveis” .
“Pude sentir que havia empatia”, disse Mark, agricultor na casa dos 50 anos, sobre o encontro de 55 minutos na embaixada.
Oficiais afirmam que, apesar de alguma resistência interna — inclusive “revirar de olhos” de agentes — há pressão administrativa para aprovar pedidos, ainda que reivindicações de dano econômico normalmente não configurem perseguição legalmente reconhecida .
Dados e Contrapontos
- Expressão de interesse: mais de 67.000 sul-africanos brancos manifestaram interesse no programa, segundo a Câmara de Comércio Sul-Africana nos EUA.
- Refugiados sul-africanos atuais: em 2024, apenas 70 refugiados e 2.043 requerentes de asilo da África do Sul nos EUA, sem distinção racial (dados ONU).
- Violência no campo: de 26.000 homicídios em 2024, 44 ocorreram em áreas rurais agrícolas; a maioria das vítimas era negra, segundo estatísticas policiais. Especialistas afirmam não haver evidência de perseguição racial direcionada a brancos .
Chrispin Phiri, porta-voz do Ministério de Relações Exteriores da África do Sul, ressalta: “Não há qualquer evidência de que o crime neste país vise deliberadamente uma raça específica.”
Reações e Implicações
Governo Sul-Africano
O Executivo em Pretória criticou a ordem de Trump como irônica, ao oferecer refúgio a um dos segmentos mais privilegiados economicamente do país, ignorando o legado de colonialismo e apartheid. Afrikâneres representam cerca de 60% da minoria branca, que equivale a 7,2% dos 63 milhões de sul-africanos.
Opinião Pública e Extrema-Direita
Narrativas de “genocídio branco” ganharam força em círculos de extrema-direita e foram reforçadas por figuras como Elon Musk, aliado de Trump nas redes sociais . Sites como “Amerikaners” e grupos de WhatsApp trocam dicas sobre vistos, voos charter e até transporte de animais de estimação.
Desafios Legais
Especialistas em direito de refugiados lembram que, para obter status, é preciso comprovar perseguição por raça, religião, nacionalidade, grupo social ou opinião política. Danos econômicos ou criminalidade geral não se enquadram facilmente nessa definição.
Conclusão
A política de reassentamento de sul-africanos brancos nos EUA evidencia tensões entre narrativa política e critérios legais de refúgio. Enquanto candidatos relatam atendimento cordial e aprovação inicial, analistas questionam a fundamentação jurídica das alegações de perseguição. O caso pode gerar precedentes sobre até que ponto fatores econômicos e disputas de terra configuram perseguição sob a lei internacional de refugiados.
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