
Em 23 de abril de 2025, o governo espanhol anunciou a suspensão de um polêmico contrato de US$ 7,5 milhões para aquisição de munições junto à empresa israelense IMI Systems. A decisão, tomada pelo primeiro-ministro Pedro Sánchez, atende a pressões de aliados de esquerda dentro da coalizão governamental, que ameaçavam abandonar o apoio parlamentar caso o negócio fosse mantido.
Contexto do Acordo
- Objeto do contrato: 15 milhões de unidades de munição, destinadas à Guarda Civil espanhola, força semimilitar responsável por segurança rural e controlo de fronteiras.
- Assinatura: fevereiro de 2024 pelo Ministério do Interior, contrariando compromisso anterior de não comprar armas de Israel.
- Valor: US$ 7,5 milhões (cerca de € 6,9 milhões).
Apesar de, em outubro de 2023, a Espanha ter anunciado o fim das exportações de armamentos para Israel e, em fevereiro de 2024, a intenção de não adquirir material bélico israelense, o contrato com a IMI Systems foi fechado, gerando imediata controvérsia interna.
Pressão da Coalizão de Esquerda
O bloco Sumar – grupo de partidos de esquerda no governo minoritário – reagiu com veemência. Cinco ministros desse grupo chegaram a protestar formalmente, considerando o acordo uma “violação flagrante” dos compromissos antimilitaristas do Executivo, especialmente diante da “genocídio em curso” na Faixa de Gaza, segundo palavras de Yolanda Díaz, vice-primeira-ministra e líder do Sumar (Al Jazeera).
Uma pesquisa do jornal online 20minutos.es revelou divisão da opinião pública:
- 48,46 % — oposição ao acordo
- 46,94 % — apoio ao acordo
- 4,58 % — indecisos
Igor Otxoa, da organização Guernica Palestine, afirmou que prosseguir com a compra “seria uma traição às mais de 50 000 vítimas em Gaza”.
Motivações e Implicações Políticas
- Segurança Jurídica
- Críticos, como a analista Astrid Barrio López (Universidade de Valência), alertam para a insegurança jurídica gerada: empresas podem temer perdas financeiras caso contratos sejam cancelados por motivações políticas.
- Manutenção da Coalizão
- Sánchez optou pela suspensão para evitar uma crise ministerial e garantir a continuidade do governo socialista minoritário, que depende dos votos de Sumar no Congresso.
- Compromissos Internacionais
- Em paralelo, o governo aprovou aumento dos gastos de defesa para 2 % do PIB, atendendo a metas da NATO e a pressão do presidente dos EUA, Donald Trump, o que já havia irritado aliados de esquerda.
Linha do Tempo
Data | Evento |
---|---|
Out/2023 | Espanha anuncia fim de vendas de armas a Israel. |
Fev/2024 | Declara não comprar armamentos israelenses; assina, porém, contrato de munições. |
Out/2024 | Estudo interno avalia possibilidade de rescisão do contrato. |
Abr/2025 (23) | Anúncio oficial da suspensão do contrato pela intervenção de Pedro Sánchez. |
Reações e Próximos Passos
- Sumar: exigi recuperação do valor já pago e garantias de não repetição de compras similares.
- Ministério do Interior: avalia consequências financeiras; rescindir acarretaria indenização sem entrega de material.
- Mercado de Defesa: acompanha impacto na reputação da Espanha como cliente confiável.
O episódio expõe o delicado equilíbrio entre compromissos de política externa, pressões de coalizão e obrigações contratuais. A decisão de Sánchez preserva a estabilidade governamental no curto prazo, mas levanta questões sobre segurança jurídica e consistência das políticas de armamento.
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