Em mais uma escalada letal do conflito que já dura dois anos, um ataque de drone atribuído às Forças de Apoio Rápido do Sudão (RSF) matou pelo menos 11 pessoas em um campo de deslocados no estado do Rio Nilo. A ofensiva também danificou uma estação de energia nas proximidades pela quarta vez desde o início da guerra em abril de 2023, aprofundando a já grave crise humanitária no país.
Contexto do conflito
Desde abril de 2023, tensões entre o Exército sudanês, liderado pelo general Abdel Fattah al-Burhan, e as RSF, comandadas por Mohamed Hamdan Dagalo (Hemedti), evoluíram para um conflito aberto. O confronto já provocou:
- Mais de 12,4 milhões de deslocados internos e refugiados, segundo a ONU.
- Colapso sistemático da rede elétrica, com ataques repetidos a infraestruturas de energia.
- Crescimento da insegurança alimentar e do colapso dos serviços básicos.
O ataque em al-Damer
Na noite de sexta-feira, testemunhas relataram quatro ataques de drone contra um campo improvisado a cerca de 3 km da usina de Atbara, na cidade de al-Damer. O campo abrigava aproximadamente 180 famílias — muitas delas fugidas de Khartoum — vivendo em barracas e prédios abandonados, sem assistência adequada.
“Meu filho, meu primo, o marido da minha filha e duas crianças… O menino tem 10 anos e a menina cerca de dois anos”,
lamentou a testemunha Haleema à Al Jazeera.
Além dos 11 mortos, 23 pessoas ficaram feridas, incluindo ao menos nove crianças, segundo um oficial médico local.
Perspectiva das Autoridades Sudanenses
O governo sudanês, em comunicado oficial, condenou veementemente o ataque e acusou as RSF de buscarem “minar a estabilidade da região para enfraquecer o poder militar do Estado”. O general Abdel Fattah al-Burhan afirmou que “essas ações terroristas contra civis revelam o verdadeiro objetivo das RSF: desestabilizar o país e impor sua vontade pela força”.
Impacto na infraestrutura elétrica
O governador local informou que o ataque derrubou a estação de energia de Atbara pela quarta vez desde abril de 2023. A RSF já havia sido acusada de atacar linhas de transmissão e usinas em áreas controladas pelo Exército, estratégia que agrava:
- Apagões generalizados – milhões ficaram sem eletricidade por semanas.
- Interrupção de serviços essenciais – hospitais, abastecimento de água e comunicações comprometidos.
- Risco elevado para civis – falta de refrigeração de alimentos e medicamentos, além de insegurança noturna.
Dados Estatísticos Atualizados
| Indicador | Valor | Fonte |
|---|---|---|
| Deslocados internos e refugiados | 12,4 milhões | ONU (abril 2025) |
| Mortos no conflito | +70.000 | ONU (março 2025) |
| Ataques a infraestruturas elétricas | 15 ocorrências desde 2023 | Ministério de Energia do Sudão |
| Famílias no campo de al-Damer | ~180 | Governo local |
Citações de Especialistas
“O uso de drones pelas RSF reflete uma evolução tática significativa, aproximando-se do que vimos em conflitos no Sahel, onde forças não estatais empregam tecnologia para ampliar seu impacto.”
— Mohamed Hassan, analista de segurança regional.
“Atacar civis e infraestrutura crítica tem um duplo efeito: gera medo entre a população e pressiona o governo a negociar em condições desfavoráveis.”
— Dr. Aisha El-Tayeb, pesquisadora de conflitos africanos.
Testemunhos e cenas do rescaldo
Mawaheb Mohamed, outra sobrevivente, descreveu o horror:
“O primeiro drone caiu bem atrás de nós. Quinze minutos depois, outro veio — foram quatro ao todo. Tinha corpos dilacerados… a cena era insuportável.”
Após o ataque, autoridades foram vistas apagando o fogo em tendas em chamas, enquanto sobreviventes embarcavam em ônibus rumo a um destino incerto.
Caminhos para assistência
Organizações humanitárias enfrentam sérios obstáculos para operar:
- Rotas de acesso inseguras devido aos combates.
- Infraestrutura destruída, dificultando o transporte de suprimentos.
- Necessidade de corredores humanitários protegidos por todas as partes.
A comunidade internacional é instada a:
- Exigir cessar-fogo imediato para permitir ajuda.
- Financiar programas de energia de emergência, como geradores solares.
- Ampliar apoio psicológico a vítimas, especialmente crianças.
Conclusão:
O ataque de drone das RSF ao campo de deslocados em al-Damer representa mais um capítulo trágico no conflito sudanês. Este ataque não só agrava a crise humanitária no Sudão, mas também reflete uma tendência crescente de impasses em negociações de paz em diversas partes da África, como o que ocorre no Leste da República Democrática do Congo. Para mais sobre esse impasse, confira nosso artigo sobre o fracasso das negociações em Doha e como ele afeta a RDC.
Segunda Rodada em Doha Fracassa e Impasse no Leste da RDC se Aprofunda
Faça um comentário