Retomada Jihadista no Nordeste da Nigéria

Veículo blindado das Forças de Segurança da Nigéria passa por casas recém-construídas em Ngarannam, Borno, antes da cerimônia de reabertura da comunidade, destruída por Boko Haram em 2015.
Veículo blindado das Forças de Segurança da Nigéria em Ngarannam, Borno, onde casas destruídas por Boko Haram em 2015 estão sendo reconstruídas, antes da cerimônia de reabertura da comunidade. (Foto: REUTERS/Christophe Van Der Perre)

Desde o início de 2025, o Nordeste da Nigéria tem testemunhado uma escalada sem precedentes de ataques perpetrados pelo Boko Haram e seu rival dissidente, o Estado Islâmico na Província da África Ocidental (ISWAP). Apenas no último fim de semana, ao menos 22 pessoas foram mortas em incursões nos estados de Adamawa e Borno, enquanto 26 vítimas sucumbiram na segunda-feira após um artefato explosivo atingir dois veículos em Borno. Desde janeiro, dezenas de civis e militares perderam a vida em uma sequência de atentados que sinalizam um preocupante regresso jihadista à região. Neste artigo, oferecemos uma análise aprofundada, incluindo contexto histórico, impactos sociais e econômicos, dados atualizados, relatos de especialistas e comparações regionais.

Contextualização histórica mais ampla

A insurgência de Boko Haram teve início em 2009, quando o grupo, liderado por Mohammed Yusuf, emergiu em Maiduguri com a proposta de instaurar um Estado islâmico na região, rejeitando a educação ocidental e o governo central nigeriano. A repressão violenta das forças de segurança em 2009, que resultou na morte de Yusuf, radicalizou ainda mais os seguidores e deu início a uma campanha sangrenta de atentados e sequestros.

Em 2016, disputas internas levaram à cisão que originou o ISWAP, alinhado ao Estado Islâmico internacional. Enquanto o Boko Haram, sob Abubakar Shekau, manteve táticas de extrema violência contra civis, o ISWAP passou a focar em ataques militares mais estruturados, procurando ganhar apoio local ao fornecer serviços básicos em áreas que controla.

A geopolítica regional, marcada pela porosidade das fronteiras com Camarões, Chade e Níger, facilitou o fluxo de combatentes e armamentos. Além disso, o vácuo de governança em vastas áreas rurais permitiu que os grupos se enraizassem, explorando tensões étnicas e econômicas pré-existentes. A presença de outras organizações extremistas no Sahel, como o Al-Qaeda no Magrebe Islâmico (AQIM), também influenciou a troca de táticas e redes de financiamento, fortalecendo a insurgência nigeriana.

Impactos sociais e econômicos

Além do deslocamento forçado e da crise de segurança alimentar, a violência jihadista causa impactos econômicos severos:

  • Destruição de infraestrutura: Escolas, hospitais e estradas foram alvo frequente de ataques, elevando os custos de reconstrução e reduzindo a conectividade regional.
  • Interrupção do comércio local e regional: Mercados em cidades como Maiduguri e Yola enfrentam quedas drásticas no movimento, afetando renda de comerciantes e agricultores que dependem de feiras itinerantes.
  • Redução do investimento: A percepção de insegurança afasta investidores nacionais e estrangeiros, retardando projetos de desenvolvimento e criação de empregos.
  • Impacto no desenvolvimento econômico: Estima-se que o PIB dos estados afetados cresça a uma taxa anual até 2% inferior à média nacional, devido à instabilidade e aos altos gastos em segurança.

Dados e Estatísticas

IndicadorValor estimado (2025)Fonte
Mortes civis desde janeiro150+HRW, ACLED
Mortes de militares em ataques75+Instituto Internacional de Estudos Estratégicos
Deslocados internos450.000ACNUR
Escolas fechadas ou destruídas300+UNICEF
Redução do PIB regional-2% em relação à média nacionalBanco Central da Nigéria

Entrevistas e relatos de civis locais

  • Aisha Umar, de 32 anos, deslocada de Bama, relata: “Perdemos nossa casa e vivemos em um acampamento sem acesso a água potável. As crianças não podem ir à escola há meses.”
  • Coronel Mohammed Abdullahi (aposentado, ex-operacional no MNJTF): “A adaptabilidade desses grupos, especialmente com drones, pegou nossas tropas de surpresa. Precisamos urgente de capacitação em guerra eletrônica.”

Comparações com outras regiões

Conflitos jihadistas em Mali e Burkina Faso compartilham semelhanças: uso de explosivos improvisados, insurgência em áreas rurais e fragilidade do Estado. No entanto, enquanto no Sahel ocidental há maior intervenção da França e da MINUSMA, no Nordeste da Nigéria a cooperação internacional é mais fragmentada, limitando a eficácia das operações conjuntas.

Conclusão

A combinação de fatores históricos, sociais e econômicos, somada à inovação tática dos jihadistas, exige uma resposta multifacetada. Entre as ações recomendadas:

  • Reforço de vigilância de fronteira com tecnologia anti-drone.
  • Programas de reabilitação econômica para populações afetadas.
  • Cooperação regional estruturada, integrando Mali e Burkina Faso em compartilhamento de inteligência.
  • Investimento em educação e projetos de inclusão social para minar recrutamento extremista.

Sem essas medidas, o ressurgimento jihadista no Nordeste da Nigéria pode se consolidar, ameaçando a estabilidade de toda a região do Lago Chade.

Seja o primeiro a comentar

Faça um comentário

Seu e-mail não será publicado.


*