
Nas últimas semanas, a escalada da violência sectária nas regiões drusas nos arredores de Damasco atingiu um novo patamar. Em 30 de abril de 2025, o governo de Israel confirmou que efetuou um ataque de advertência contra um grupo extremista que se preparava para atacar aldeias drusas na Síria. A ação marca mais um capítulo na política israelense de proteção à minoria drusa síria – alinhada à tradicional comunidade drusa do Levante e àquela que vive sob controle israelense no Golã ocupado.
Contexto da violência sectária
Estopim do conflito
- Em meados de abril, um áudio insultando o Profeta Maomé, atribuído por militantes sunitas a um membro da comunidade drusa, provocou revolta em Jaramana, região predominantemente drusa próxima a Damasco.
- Combates intensos entre milícias drusas e gunmen sunitas deixaram mais de uma dezena de mortos em 29 de abril.
Expansão para Sahnaya
- No dia 30 de abril, os confrontos alcançaram Sahnaya, também de maioria drusa. Segundo o Ministério da Saúde sírio, 11 pessoas morreram e dezenas ficaram feridas após ataques de “grupos fora da lei” contra civis e instalações de segurança estatal.
Reação do regime sírio
- O porta-voz do Ministério do Interior sírio negou indícios de ataque em Sahnaya, mas anunciou que reagirá “com punho de ferro” contra qualquer ação que vise desestabilizar o país.
Análise histórica das relações Israel–drusos–Síria
Desde a Guerra dos Seis Dias, em junho de 1967, quando Israel capturou o planalto do Golã da Síria, as dinâmicas entre Tel Aviv, Damasco e a comunidade drusa local se mostraram complexas:
- Anexação do Golã (1981)
- Israel estendeu sua legislação ao Golã, efetivando a anexação – não reconhecida pela ONU.
- A população drusa do Golã, cerca de 24 000 pessoas, recebeu status de residentes permanentes israelenses. Muitos mantêm ainda laços familiares e culturais com drusos na Síria e no Líbano.
- Relações ambíguas
- Ao longo das décadas, drusos do Golã beneficiaram-se de serviços israelenses (saúde, educação), mas enfrentaram pressão para integração política limitada.
- Damasco sempre reivindicou soberania sobre o Golã e apoiou, em diferentes momentos, movimentos drusos contrários à ocupação.
- Cooperação tática
- Durante a guerra civil síria, Israel permitiu tratamento médico a feridos drusos em hospitais israelenses e, segundo relatos, manteve canais abertos com líderes drusos para evitar ataques de milícias sunitas extremistas nas áreas fronteiriças .
- Em troca, drusos do Golã atuaram como informantes locais, auxiliando na coleta de inteligência sobre movimentos de grupos jihadistas.
Essa história de interdependência tática e de tensões políticas desenha o cenário em que o recente ataque de advertência se insere: Israel age tanto por laços comunitários quanto por cálculo estratégico de fronteira.
O papel de Israel
Motivações estratégicas e humanitárias
- Proteção de minorias: Desde dezembro de 2024, com a ascensão de islamistas sunitas no sudoeste sírio, Israel reafirmou sua política de proteger a minoria drusa, que compartilha laços religiosos e sociais com os drusos de Israel e do Líbano — sobretudo no Alto do Golã, anexo por Israel em 1981, lar de cerca de 24 000 drusos .
- Interesse geopolítico: Manter a Síria fragmentada e sem controle central forte impede o fortalecimento de movimentos pró-Iran ou pró-Hezbollah na fronteira norte de Israel, historicamente alvo de ataques de mísseis e infiltrações.
O “ataque de advertência”
- Alvo: Um grupo extremista que, segundo declaração conjunta do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu e do ministro da Defesa Israel Katz, preparava ofensiva contra drusos em Sahnaya.
- Mensagem ao regime sírio: Israel deixou claro que espera que Damasco impeça novas ameaças aos drusos, sob risco de novas intervenções.
Impactos imediatos
Efeito | Descrição |
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Redução temporária da tensão | Militantes extremistas foram dispersos, segundo fontes israelenses. |
Aviso ao regime | Reforço de que Israel monitorará e intervirá caso a minoria drusa seja ameaçada. |
Reação civil | Drusos de Sahnaya vivem em “pânico extremo”, refugiados em casa, segundo moradores. |
Desafios e perspectivas
Fragilidade da autoridade central síria
- O novo governo islamista em Damasco ainda não consolidou controle sobre milícias locais.
- A comunidade drusa exige garantias que, até o momento, não foram efetivamente cumpridas.
- Risco de escalada regional
- Cada intervenção israelense pode gerar retaliações por grupos pró-Assad ou pró-Irã.
- A polarização sectária ameaça expandir o conflito para outras minorias (alawitas, cristãos).
- Cenário humanitário
- Civis drusos enfrentam deslocamento interno e insegurança alimentar.
- Organizações de direitos humanos apontam para risco de limpeza étnica em áreas periféricas de Damasco.
Conclusão
O ataque de advertência israelense em 30 de abril de 2025 reflete a convergência de interesses estratégicos e de proteção de minorias na política de Tel Aviv em relação à Síria. Embora tenha proporcionado alívio imediato à comunidade drusa de Sahnaya, a medida expõe a fragilidade do monopólio da força pelo governo sírio e o risco constante de novas rupturas sectárias. Sem garantias efetivas de segurança para os drusos e sem uma autoridade central forte em Damasco, a região permanece vulnerável a ciclos de retaliação. A trajetória futura dependerá tanto da capacidade de o regime sírio impor ordem quanto da prudência de Israel ao equilibrar seus objetivos de segurança com o respeito à soberania vizinha.
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