
O conflito entre as Forças Armadas do Sudão (SAF) e a paramilitar Força de Apoio Rápido (RSF) entra em seu terceiro ano com ataques intensificados em várias regiões do país. Entre domingo(11) e terça-feira(6), combates foram registrados em Port Sudan, el-Fasher, West Kordofan e West Darfur, deixando dezenas de mortos, feridos e aprofundando uma já grave crise humanitária.
Contexto Histórico
Desde abril de 2023, o embate entre SAF e RSF tem deixado mais de 20.000 mortos e deslocado cerca de 15 milhões de pessoas, segundo a ONU. A disputa pelo controle do Estado do Darfur remonta às rebeliões da década de 2000, mas ganhou nova dimensão após a ruptura da aliança entre ex-aliados em 2023.
Novos Ataques em el-Fasher
- Na capital do Norte do Darfur, pelo menos nove civis, incluindo quatro crianças, foram mortos e outros sete ficaram feridos em ataques da RSF no domingo, de acordo com relatório do SAF.
- Em resposta, o SAF afirma ter eliminado seis combatentes da RSF e destruído três veículos em operação de retaliação.
- El-Fasher é a última grande cidade sob controle do SAF em Darfur; a RSF tenta tomá-la há mais de um ano, pressionando também dois grandes campos de deslocados na periferia.
Port Sudan Sob Fogo de Drones
- Port Sudan, única rota de entrada de ajuda humanitária, sofreu ataques de drones iniciados em 4 de maio, que atingiram o principal depósito de combustíveis, o aeroporto civil internacional e a central elétrica.
- As autoridades controladas pelo SAF conseguiram conter os incêndios no depósito e em outros alvos estratégicos, porém alertaram para risco de desastre ambiental devido à propagação das chamas.
- O secretário-geral da ONU, António Guterres, advertiu que tais ataques “amençam aumentar as necessidades humanitárias e complicar operações de auxílio” no país.
Expansão dos Confrontos em West Kordofan e West Darfur
- No sábado, o SAF realizou ataques aéreos contra posições da RSF em el-Khuwei (West Kordofan) e em áreas de West Darfur. A RSF havia capturado el-Khuwei na semana anterior.
- Forças de defesa civil informaram ter retomado o controle de el-Khuwei após intensos combates no domingo, de acordo com verificação da Al Jazeera.
- Drones também foram vistos atingindo o aeroporto de Atbara, no estado do Rio Nilo, ampliando o alcance dos ataques aéreos para além de Khartoum.
Impacto Humanitário
- Com navios de auxílio bloqueados e estradas danificadas, as agências internacionais enfrentam dificuldades logísticas para distribuir suprimentos a milhões de deslocados.
- Organizações humanitárias alertam para risco de fome em regiões ainda mais isoladas, sobretudo em Darfur e no Sul do país.
- A população civil, especialmente crianças e idosos, permanece vulnerável a surtos de doenças, falta de água potável e desabastecimento de medicamentos.
Análise Tática
- A RSF tem utilizado drones para atacar infraestrutura vital, numa tentativa de paralisar a retaguarda do SAF e intensificar a pressão política sobre o governo.
- O SAF, por sua vez, aposta em ataques aéreos e operações de solo rápidas para isolar formções da RSF e recuperar terreno em regiões-chave.
- Especialistas apontam um risco de escalada para conflito regional, já que grupos armados de países vizinhos podem ser atraídos pela desestabilização.
Reações Internacionais
- A União Africana e a Liga Árabe convocaram sessões de emergência para mediar cessar-fogos locais e garantir corredores de ajuda.
- Países do Ocidente, preocupados com a segurança do Mar Vermelho, consideram sanções contra lideranças da RSF por uso de drones contra civis.
- Organizações de direitos humanos, como a Anistia Internacional, exigem investigações independentes sobre possíveis crimes de guerra.
Conclusão
O terceiro ano de guerra civil no Sudão mostra novo capítulo de violência e destruição, sem perspectiva imediata de cessar-fogo. A intensificação dos ataques em el-Fasher, Port Sudan, West Kordofan e West Darfur aprofunda a crise humanitária e coloca a população civil em situação crítica. Uma solução política exige, urgentemente, mediação internacional efetiva e compromisso das partes em respeitar corredores de ajuda e cessar‐fogo locais.
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