
Em pronunciamento televisionado ontem, segunda-feira, o primeiro-ministro Narendra Modi deixou claro que a Índia “responderá com precisão e decisão” caso ocorra qualquer novo atentado terrorista em solo indiano. Foi seu primeiro comentário público desde que as Forças Armadas indianas realizaram operações contra supostos “acampamentos terroristas” do outro lado da fronteira, no Paquistão e na Caxemira paquistanesa, na última semana.
Contexto Histórico e Desencadeador Imediato
A escalada começou após um ataque em 15 de abril, quando militantes islâmicos mataram 26 turistas hindus na região da Caxemira administrada pela Índia. Nova Deli atribuiu a responsabilidade a grupos apoiados por Islamabad, o que o Paquistão nega, alegando que os locais atingidos eram zonas civis.
Após quatro dias de intensos combates, envolvendo mísseis e drones, e temores de escalada nuclear, um cessar-fogo mediado pelos Estados Unidos entrou em vigor em 10 de maio. No entanto, em vez de abrandar o discurso, Modi endureceu as condições para qualquer futuro diálogo:
- “Terror e negociações não combinam; terror e comércio não combinam”, afirmou, ressaltando que não haverá conversas enquanto o Paquistão abrigar redes terroristas.
- Suspensão do pacto de compartilhamento hídrico – o tratado de águas de Cabul – como retaliação às ações atribuídas a grupos militantes.
“Chantagem Nuclear” e Perspectiva de Conflito
Modi mencionou explicitamente o risco de “chantagem nuclear” por parte do Paquistão, referência ao fato de Islamabad possuir uma política declarada de primeiro uso caso sua existência esteja ameaçada. Analistas militares veem nessa declaração uma tentativa de neutralizar a retórica punitiva paquistanesa, deixando claro que a Índia tem capacidade — e disposição — para responder mesmo sob o espectro nuclear.
“Ao enfatizar a precisão cirúrgica, Nova Deli sinaliza que quer evitar baixas civis massivas, mas também manda um recado claro de dissuasão”, avalia Anita Desai, especialista em estratégia nuclear do Observer Research Foundation, com sede em Nova Deli.
Monitoramento do Cessar-Fogo e Novo Acordo Militar
Na tarde de 12 de maio, os Diretores-Gerais de Operações Militares (DGMOs) da Índia e do Paquistão reuniram-se por telefone e acordaram:
- Não disparar um único tiro em direção ao outro lado do LoC;
- Reduzir gradualmente o contingente de tropas nas áreas de fronteira.
Além disso, civis deslocados começaram a retornar às suas vilas, e aeroportos reabriram após dias de paralisação. Essa trégua momentânea, embora ainda frágil, trouxe um alívio econômico imediato, especialmente para zonas rurais afetadas pela instabilidade.
Impactos Geopolíticos e Econômicos
O anúncio de Modi permite “pausa” nas operações, mas deixa claro que a Índia manterá pressão:
- Estados Unidos: o presidente Donald Trump elogiou o cessar-fogo, destacando o papel de Washington na mediação e prometendo ampliar o comércio com ambos os países.
- Mercados Financeiros: o índice Nifty 50 da Índia teve sua melhor sessão desde fevereiro de 2021, e os títulos paquistaneses subiram após a aprovação de um empréstimo de US$ 1,4 bilhão pelo FMI.
- China: manifestou-se disposta a “manter comunicação” e a “desempenhar papel construtivo” para consolidar a paz na região.
Condições para o Diálogo e Desafios Futuros
Modi listou as exigências para futuras negociações:
- Desmantelamento de todas as infraestruturas terroristas em solo paquistanês;
- Cessão de qualquer apoio a grupos militantes;
- Retomada plena do tratado de compartilhamento de águas;
- Investigação neutra dos atentados na Caxemira.
Por ora, permanece incerto se Islamabad aceitará essas condições ou se insistirá na necessidade de um processo de diálogo mais amplo, que inclua questões territoriais. A comunidade internacional segue vigilante: um novo surto de violência poderia escalar rapidamente e comprometer a estabilidade na região.
Conclusão
A retórica endurecida de Modi reflete não apenas o momento político interno — com eleições regionais próximas e pressão por segurança —, mas também um reposicionamento estratégico da Índia como potência regional intransigente frente ao terrorismo. Ao condicionar o diálogo à erradicação de bases militantes no Paquistão, Nova Deli se coloca como protagonista de uma nova doutrina sul-asiática de dissuasão reforçada, mesmo diante de riscos nucleares.
Se essa postura levará a avanços duradouros ou a nova escalada dependerá da reação de Islamabad — e da capacidade das potências externas de manter a atual trégua.
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