UE reivindica maior ambição em seu acordo com os EUA

Bandeiras da União Europeia em frente ao Banco Central Europeu em Frankfurt, Alemanha.
Bandeiras da União Europeia tremulam diante da sede do Banco Central Europeu, em Frankfurt, Alemanha — 18 de julho de 2024. Foto: REUTERS/Jana Rodenbusch

Na reunião de ministros do Comércio da União Europeia em Bruxelas, realizada nesta quinta‑feira, representantes de 27 países membros deixaram claro que o recém‑anunciado Acordo Comercial “Inovador” entre EUA e Reino Unido não serve de parâmetro para os europeus. Para os ministros, manter as tarifas de 10% sobre produtos britânicos — parte do pacto Trump–Starmer firmado há uma semana — revela falta de profundidade e poderia desencadear medidas de retaliação por parte da UE.

Contexto do acordo Reino Unido–EUA

Em encontro no início de maio, o Presidente dos EUA, Donald Trump, e o Primeiro‑Ministro britânico, Keir Starmer, anunciaram um acordo que reduz algumas tarifas, mas mantém em 10% o imposto sobre produtos do Reino Unido — incluindo itens como bebidas alcoólicas e cerâmica — ao mesmo tempo em que alivia tarifas sobre aço e automóveis. Apesar de saudado como um “passo inicial”, o pacto foi considerado modesto pelos europeus.

Perspectivas da presidência polonesa da UE

Michal Baronowski, vice‑ministro da Economia da Polônia — país à frente da presidência rotativa da UE — afirmou que o bloco não precisa de um “acordo rápido” e que seria possível obter condições mais vantajosas:

“Não acho que esse seja o nível de ambição que a Europa acolheria com satisfação. Podemos ter um acordo melhor do que permanecer com tarifas elevadas.”

Baronowski destacou também a trégua com a China como sinal de possível desescalada, mas frisou que a UE deve manter seu poder de negociação no médio prazo.

A linha de dura sueca e as possíveis retaliações

O ministro sueco Benjamin Dousa foi ainda mais incisivo, afirmando:

“Se for isso que a Europa obtém, os EUA podem esperar medidas de retaliação do nosso lado. Mal chamaria isso de acordo comercial.”

Atualmente, a UE aplica tarifa de 25% sobre importações de aço, alumínio e automóveis dos EUA, além de tarifa “recíproca” de 10% sobre quase todos os demais produtos, valor que pode subir para 20% caso as negociações em curso não resultem em avanço até 8 de julho.

Linhas de fratura entre ministros

França: Laurent Saint‑Martin reiterou que não aceitará tarifas recíprocas de 10%, vistas como prejudiciais tanto para a UE quanto para a economia norte‑americana.

Finlândia: Ville Tavio concordou que a imposição de 10% “não seria benéfica para os EUA”.

Comissão Europeia: Preparou uma lista de €95 bilhões em importações americanas passíveis de novas tarifas, mas defende solução negociada a fim de evitar escalada.

Caminhos de negociação

O Comissário Europeu para o Comércio, Maroš Šefčovič, anunciou ter conversado na quarta‑feira com o Secretário de Comércio dos EUA, Howard Lutnick, e ressaltou a intenção de “intensificar o engajamento” para alcançar acordo que:

  1. Eliminar tarifas recíprocas sobre produtos manufaturados;
  2. Reduzir alíquotas sobre bens agrícolas;
  3. Incluir cláusulas ambientais e de proteção de dados;
  4. Firmar compromissos de cooperação em cadeias de suprimento estratégicas.

Impacto para o mercado europeu e britânico

Um pacto mais ambicioso poderia:

  • Fortalecer a competitividade das indústrias automotiva e metalúrgica da UE;
  • Incentivar empresas britânicas a manterem operações no continente;
  • Ampliar a celeridade na homologação de produtos, beneficiando consumidores.

Dados de Fluxo Comercial Recente

Em 2024, o comércio de bens entre UE e EUA atingiu um valor total de aproximadamente €865 bilhões, divididos em €531,6 bilhões de exportações da UE para os EUA e €333,4 bilhões de importações de bens americanas para a UE, resultando em um superávit comercial de €198,2 bilhões para o bloco europeu. Isso representou um crescimento de 5,5% nas exportações e uma queda de 4,0% nas importações em comparação a 2023.

Conclusão

A UE sinaliza que não aceitará um acordo de segunda ordem. Ao buscar um pacto mais robusto que o estabelecido entre EUA e Reino Unido, Bruxelas reforça sua estratégia de autonomia estratégica e de preservação dos interesses de seu mercado único. Resta agora acompanhar se Washington demonstrará disposição real para ir além do “acordo inicial” e evitará uma nova rodada de retaliações comerciais com os europeus.

Seja o primeiro a comentar

Faça um comentário

Seu e-mail não será publicado.


*