
Em visita oficial a Islamabad, o ministro das Relações Exteriores britânico, David Lammy, reafirmou o compromisso conjunto de Reino Unido e Estados Unidos em consolidar o recente cessar‑fogo, firmado em 10 de maio, e em promover medidas concretas de construção de confiança entre Índia e Paquistão.
Contexto e antecedentes históricos
- Desde a partição de 1947, Índia e Paquistão travam três guerras abertas e dezenas de crises, quase todas centradas em torno da região da Caxemira.
- Os conflitos de 1947–48, 1965 e 1971 resultaram em mais de 100.000 mortes diretas, estima o SIPRI.
- Nos últimos 30 anos, escaladas pontuais em 1999 (Kargil) e em 2019 (atentado em Pulwama) ilustram a fragilidade dos acordos anteriores.
Papel diplomático de Londres e Washington
Lammy explicou que a mediação anglo‑americana foi essencial para deter o ciclo de retaliações que incluiu disparos de mísseis em território adversário. Segundo o ministro:
“Continuaremos a trabalhar com os Estados Unidos para garantir que o cessar‑fogo perdure e que o diálogo, em local neutro, seja retomado com urgência.”
ao unir sua diplomacia à dos EUA, Londres amplia a pressão sobre Nova Délhi e Islamabad para que respeitem não só o armistício imediato, mas também compromissos futuros.
Questão das águas do Indo
Um dos pontos de maior tensão é a decisão de Delhi de suspender sua participação no Tratado das Águas do Indo (1960), pacto que regula seis rios fundamentais para a agricultura paquistanesa:
- Índia controla 20% do fluxo total, enquanto o Paquistão detém os 80% restantes.
- Disputa pendente: Islamabad considera a suspensão uma “provocação” que pode caracterizar “ato de guerra” se afetar o abastecimento.
“Exortamos todas as partes a cumprir suas obrigações legais no âmbito do tratado”, concluiu Lammy.
Construção de confiança e segurança regional
Segundo especialistas do International Institute for Strategic Studies (IISS), medidas como:
- Reabertura de postos de controle transfronteiriços;
- Troca de informações de inteligência sobre grupos insurgentes;
- Projetos de intercâmbio cultural e educativo;
já reduziram em até 40% incidentes de tiro na linha de controle em períodos anteriores, mas carecem de supervisão multilateral contínua.
Reações de atores externos
- ONU: o Secretário-Geral saudou o armistício como “oportunidade para retomar negociações de longo prazo”.
- Arábia Saudita: eloquente em nota da chancelaria, manifestou-se “otimista quanto à restauração da paz e segurança”.
- Emirados Árabes Unidos: ressaltaram que o acordo é “etapa fundamental para estabilidade econômica na região”.
- Sri Lanka: ofereceu sua mediação técnica para conversações futuras.
Críticas e paralelos internacionais
Em tom mais contundente, Lammy associou a solução sul-asiática à crise na Ucrânia, criticando a postura de obfuscação russa que tem emperrado negociações de cessar‑fogo em solo europeu. Perguntou:
“Até quando aceitaremos a resistência de Putin em aceitar paz duradoura?”
Perspectivas e cenários futuros
Cenário otimista: estabelecimento de uma comissão binacional para monitorar o Tratado das Águas do Indo e lançamento de uma cúpula de segurança em Nova Délhi ou Genebra até o final de julho.
Riscos: retórica nacionalista em ambos os Parlamentos, próximas eleições em Islamabad (outubro) e em Nova Délhi (fevereiro de 2026), além de flutuações de poder militar interno.
Conclusão
O esforço anglo‑americano reflete a importância estratégica do Sul da Ásia para a segurança global. A efetividade do acordo de 10 de maio dependerá, sobretudo, da capacidade de Índia e Paquistão em implementar mecanismos de supervisão e diálogo civil que ultrapassem meras declarações oficiais.
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