
Irã e Estados Unidos encontram-se em rota de colisão sobre as negociações que visam restaurar o acordo nuclear de 2015 (JCPOA). Quatro rodadas de diálogo trouxeram avanços pontuais, mas sem equacionar divergências centrais como o nível de enriquecimento de urânio e a limitação do programa de mísseis balísticos. Enquanto isso, a liderança iraniana admite não ter um “Plano B” sólido caso as conversas malogradas aprofundem o impasse.
Cenário geopolítico e ausência de alternativa clara
Fontes iranianas revelam que Teerã avalia recorrer ao apoio de China e Rússia, mas reconhece que ambos têm recursos e prioridades limitados: Pequim enfrenta tensão comercial com Washington e enfraquecimento da demanda global de energia; Moscou concentra-se em seu conflito na Ucrânia. Em declaração recente, um alto funcionário afirmou que “o Plano B consiste em manter a atual estratégia: evitar escaladas, fortalecer a defesa e estreitar laços com aliados”, mas admitiu que, sem alívio imediato de sanções, a economia iraniana continua à beira do colapso.
Pontos de atrito: enriquecimento e mísseis
- Enriquecimento de urânio: os EUA exigem que o Irã mantenha o enriquecimento abaixo de 3,67%, enquanto Teerã considera essa restrição excessiva sem garantias de durabilidade do acordo.
- Programa de mísseis balísticos: Washington propõe incluir negociações sobre esse arsenal, mas o Irã rejeita qualquer limitação que não faça parte de um acordo global de segurança.
O próprio Ayatollah Ali Khamenei classificou as demandas americanas como “excessivas e ultrajantes”, reduzindo as expectativas de avanço antes da quinta rodada marcada para 23 de maio em Roma.
Confiança abalada pelo legado Trump
A retirada dos EUA do JCPOA em 2018, sob a administração Trump, corroeu a credibilidade de qualquer compromisso futuro. Para restaurar a confiança, Teerã exige garantias formais de que um novo pacto resistirá a mudanças políticas nos EUA — um ponto crítico que as potências europeias (França, Reino Unido e Alemanha) buscam mitigar com o mecanismo de “snapback” até 18 de outubro.
Nota sobre o snapback: O mecanismo de snapback, previsto na Resolução 2231 do Conselho de Segurança da ONU, permite que qualquer país signatário do acordo de 2015 reimponha automaticamente as sanções internacionais contra o Irã, caso este descumpra os termos do pacto, sem necessidade de aprovação do Conselho. França, Reino Unido e Alemanha sinalizaram que poderão acionar esse mecanismo ainda em agosto, caso não haja progresso concreto nas negociações.
O que acontece se…
Colapso das negociações e retomada de enriquecimento
- Enriquecimento acelerado acima de 20% e possível suspensão de inspeções da AIEA.
- Reação internacional: sanções mais duras de EUA e UE, e risco de ação preventiva de Israel.
Acordo provisório
- Acordo inicial para limitar o enriquecimento e ampliar as inspeções por um período delimitado (6–12 meses).
- Alívio parcial de sanções, com retomada gradual das exportações de petróleo e injeção de recursos na economia iraniana.
Escalada militar indireta
- Ciberataques e contra-ataques direcionados a instalações nucleares e infraestrutura energética.
- Intensificação de operações por procuração na região (Iêmen, Iraque) e maior tensão naval no Golfo Pérsico.
Perspectivas e riscos
Autoridades europeias alertam que um impasse prolongado não apenas agrava a crise econômica interna do Irã como também pode resultar em uma escalada militar não intencional. Até o fechamento desta edição, não houve confirmação de resultados da quinta rodada em Roma, mas fontes indicam que ambas as partes estão dispostas a avaliar concessões técnicas visando um acordo de caráter político ainda em 2025.
Conclusão
O duplo desafio de alinhar as linhas vermelhas iranianas e americanas e de resgatar a confiança mútua permanece o fator decisivo para romper o impasse. Sem um Plano B viável, Teerã e Washington arriscam transformar uma disputa diplomática em crise regional, com consequências imprevisíveis para a segurança global.
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