Turquia dá as boas-vindas ao alívio das sanções contra a Síria

Presidente turco Tayyip Erdogan cumprimenta o presidente sírio Ahmed al-Sharaa durante reunião em Istambul, maio de 2025.
Presidente Tayyip Erdogan se reúne com o presidente sírio Ahmed al-Sharaa e suas respectivas equipes em Istambul, 24 de maio de 2025. Foto: Murat Cetinmuhurdar/PPO/Handout via REUTERS.

Em encontro não programado no Palácio de Dolmabahçe, o Presidente turco Tayyip Erdogan recebeu Ahmed al-Sharaa, líder de facto da Síria desde dezembro de 2024, e declarou que a Turquia apoia integralmente as recentes decisões de suspender as sanções impostas pelos Estados Unidos e pela União Europeia sobre Damasco.

Contexto das medidas internacionais

  • Estados Unidos: Em 23 de maio, o Tesouro norte-americano emitiu a General License 25, que autoriza transações financeiras e comerciais com o governo interino de al-Sharaa, o Banco Central sírio e demais entidades estatais, e introduziu uma isenção de 180 dias ao Caesar Act, criando um período transitório para amplição de investimentos e provisão de serviços essenciais (eletricidade, água).
  • União Europeia: Em 20 de maio, ministros de Relações Exteriores da UE votaram pela remoção imediata de todas as sanções econômicas à Síria, condicionadas apenas à observância de padrões mínimos de direitos humanos e governança,

Evolução das relações turco-sírias

Historicamente, a Turquia foi uma das principais apoiadoras de rebeldes que derrubaram o governo de Bashar al-Assad, encerrando uma dinastia familiar de cinco décadas em dezembro de 2024. Porém, esse alinhamento mudou radicalmente:

  • Interesses estratégicos: Ancara mantém tropas e zonas de segurança no norte sírio para conter o YPG, grupo curdo considerado uma ramificação do PKK.
  • Medidas de segurança: O chefe da inteligência turca, İbrahim Kâlın, discutiu com al-Sharaa planos para o desarmamento e integração do YPG nas forças de segurança sírias, o que Erdogan repete como requisito para normalização plena.
  • Apoio econômico: Empresas turcas estão previstas para liderar projetos de reconstrução de infraestrutura, energia e habitação, aproveitando a abertura proporcionada pelo alívio das sanções.

Posições complementares e tensões regionais

  • Questão israelense: Erdogan afirmou que “a **ocupação e agressão de Israel em território sírio é inaceitável” e prometeu que Turquia continuará a condenar tais ações em todas as plataformas internacionais.
  • Enviado especial dos EUA: O embaixador Tom Barrack, destacado como enviado especial para a Síria, reforça o reconhecimento de Washington ao papel mediador de Ancara e visa coordenar as etapas de reconstrução com a Turquia.
  • Influências externas: Rússia e Irã ainda mantêm presença militar e interesses em várias regiões sírias, exigindo de Damasco e Ancara um delicado equilíbrio diplomático.

Perspectivas e desafios

  1. Reestruturação econômica: A suspensão das sanções deve facilitar o acesso a créditos internacionais e atrair investimentos estrangeiros, mas o caráter temporário das isenções americanas pode gerar cautela no setor privado.
  2. Processo político: A inclusão de representantes curdos e ex-rebeldes moderados num diálogo nacional é vital para evitar novos conflitos internos.
  3. Garantias de direitos: Observadores independentes cobram a criação de mecanismos de monitoramento de direitos humanos, essenciais para a permanência do alívio sancionatório na UE.

Conclusão


A declaração de Erdogan reforça a posição de Ancara como ator-chave na reconstrução e política de transição sírias. Embora a suspensão de sanções abra oportunidades econômicas e diplomáticas, seu sucesso dependerá da estabilidade interna, do cumprimento de compromissos de desarmamento e do respeito a padrões mínimos de direitos humanos.

Seja o primeiro a comentar

Faça um comentário

Seu e-mail não será publicado.


*