
Em encontro não programado no Palácio de Dolmabahçe, o Presidente turco Tayyip Erdogan recebeu Ahmed al-Sharaa, líder de facto da Síria desde dezembro de 2024, e declarou que a Turquia apoia integralmente as recentes decisões de suspender as sanções impostas pelos Estados Unidos e pela União Europeia sobre Damasco.
Contexto das medidas internacionais
- Estados Unidos: Em 23 de maio, o Tesouro norte-americano emitiu a General License 25, que autoriza transações financeiras e comerciais com o governo interino de al-Sharaa, o Banco Central sírio e demais entidades estatais, e introduziu uma isenção de 180 dias ao Caesar Act, criando um período transitório para amplição de investimentos e provisão de serviços essenciais (eletricidade, água).
- União Europeia: Em 20 de maio, ministros de Relações Exteriores da UE votaram pela remoção imediata de todas as sanções econômicas à Síria, condicionadas apenas à observância de padrões mínimos de direitos humanos e governança,
Evolução das relações turco-sírias
Historicamente, a Turquia foi uma das principais apoiadoras de rebeldes que derrubaram o governo de Bashar al-Assad, encerrando uma dinastia familiar de cinco décadas em dezembro de 2024. Porém, esse alinhamento mudou radicalmente:
- Interesses estratégicos: Ancara mantém tropas e zonas de segurança no norte sírio para conter o YPG, grupo curdo considerado uma ramificação do PKK.
- Medidas de segurança: O chefe da inteligência turca, İbrahim Kâlın, discutiu com al-Sharaa planos para o desarmamento e integração do YPG nas forças de segurança sírias, o que Erdogan repete como requisito para normalização plena.
- Apoio econômico: Empresas turcas estão previstas para liderar projetos de reconstrução de infraestrutura, energia e habitação, aproveitando a abertura proporcionada pelo alívio das sanções.
Posições complementares e tensões regionais
- Questão israelense: Erdogan afirmou que “a **ocupação e agressão de Israel em território sírio é inaceitável” e prometeu que Turquia continuará a condenar tais ações em todas as plataformas internacionais.
- Enviado especial dos EUA: O embaixador Tom Barrack, destacado como enviado especial para a Síria, reforça o reconhecimento de Washington ao papel mediador de Ancara e visa coordenar as etapas de reconstrução com a Turquia.
- Influências externas: Rússia e Irã ainda mantêm presença militar e interesses em várias regiões sírias, exigindo de Damasco e Ancara um delicado equilíbrio diplomático.
Perspectivas e desafios
- Reestruturação econômica: A suspensão das sanções deve facilitar o acesso a créditos internacionais e atrair investimentos estrangeiros, mas o caráter temporário das isenções americanas pode gerar cautela no setor privado.
- Processo político: A inclusão de representantes curdos e ex-rebeldes moderados num diálogo nacional é vital para evitar novos conflitos internos.
- Garantias de direitos: Observadores independentes cobram a criação de mecanismos de monitoramento de direitos humanos, essenciais para a permanência do alívio sancionatório na UE.
Conclusão
A declaração de Erdogan reforça a posição de Ancara como ator-chave na reconstrução e política de transição sírias. Embora a suspensão de sanções abra oportunidades econômicas e diplomáticas, seu sucesso dependerá da estabilidade interna, do cumprimento de compromissos de desarmamento e do respeito a padrões mínimos de direitos humanos.
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