
No domingo, 25 de maio de 2025, durante a tradicional cerimônia do Te Deum em comemoração ao bicentenário da Revolução de Maio, o Arcebispo de Buenos Aires, Dom Jorge García Cuerva, utilizou seu púlpito para criticar com veemência as políticas de austeridade do presidente Javier Milei. Na presença do chefe de Estado e de seus ministros, o prelado afirmou que “nossa nação está sangrando”, clamando por uma “cura social” para resgatar fraternidade, tolerância e respeito em um país marcado pelo agravamento da pobreza e pelo sofrimento de aposentados.
Contexto Político e Econômico
Desde sua posse em dezembro de 2023, Milei, defensor do “choque fiscal” e de propostas libertárias, promove cortes profundos nos gastos públicos, elimina subsídios em serviços essenciais e avança na ideia de dolarização da economia. Embora tais medidas tenham conseguido reduzir temporariamente a inflação, elas também elevaram as desigualdades e pressionaram os grupos mais vulneráveis.
O Drama dos Números: Dados e Estatísticas Recentes
Indicador | Valor | Fonte |
---|---|---|
Pobreza (2º sem. 2024) | 38,1 % | INDEC (mar/2025) (pagina12.com.ar) |
Indigência (2º sem. 2024) | 8,2 % | INDEC (mar/2025) (pagina12.com.ar) |
Pobreza (UTDT, jan/2025) | 33,5 % | La Derecha Diario (derechadiario.com.ar) |
Canasta Básica Total (Janeiro/2025) | ARS 1.033.716 | INDEC via Clarín (clarin.com) |
Inflação Mensal (Janeiro/2025) | 2,2 % | INDEC via Clarín (clarin.com) |
Estimativa: São cerca de 3,5 milhões de aposentados vivendo com renda per capita inferior a USD 5 por dia, o que evidencia uma “ferida aberta e sangrante”.
Impacto nas Políticas de Austeridade e Reação Social
Os aposentados argentinos realizam protestos semanais exigindo reajustes que assegurem acesso digno a medicamentos e alimentos. Embora o governo defenda que os cortes são necessários para conter o déficit, a população idosa enfrenta perdas reais de 30 % no poder de compra das pensões desde 2021.
Vozes do Conhecimento: Entrevistas com Especialistas
“Os cortes de despesas foram realizados sem focalização social: afetam desproporcionalmente quem mais precisa.”
— Dra. Mariana Rossi, economista independente, Universidad de Buenos Aires.“Modelos de transferência condicionada, como o Bolsa Família no Brasil, demonstram que é possível reduzir a pobreza sem agravar o déficit, desde que acompanhados de tributação progressiva.”
— Dr. César Muñoz, pesquisador em políticas sociais, CEPAL.
Análise de Política Pública: Alternativas ao “Choque Fiscal”
- Redirecionamento de Subsídios
- Realocar parte dos subsídios a combustíveis e energia para programas específicos de assistência a famílias vulneráveis e aposentados.
- Tributação Progressiva
- Aumentar alíquotas do Imposto de Renda para as faixas de maior renda, aliviando a carga sobre aposentados.
- Renda Mínima Condicionada
- Implementar programas inspirados no Ingreso Ético Familiar (Uruguai) e no BPC (Brasil), atrelados a condicionalidades em saúde e educação.
- Reestruturação da Dívida
- Renegociar prazos e juros externos para liberar recursos destinados à proteção social.
O Papel da Igreja e o Clima de Debate
Ao criticar o que chamou de “terrorismo pelas redes sociais”, Dom García Cuerva denunciou o ódio e a agressão que permeiam o discurso público, condenando termos pejorativos usados pelo governo para desqualificar opositores. Ao posicionar a Igreja como fórum moral, reafirmou sua influência em questões sociais cruciais.
Conclusão
Os recentes dados oficiais mostram que a pobreza, embora tenha recuado levemente após o choque inicial, permanece elevada, e a indigência continua afetando milhões. O sacrifício social imposto pelas políticas de Milei precisa ser equilibrado por medidas focalizadas e reformas tributárias que garantam justiça social sem comprometer a sustentabilidade fiscal. O apelo do Arcebispo de Buenos Aires evidencia a urgência de um consenso que ofereça dignidade aos mais vulneráveis e restaure a coesão social na Argentina.
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