Irã Aposta na Resistência Caso Negociações Nucleares com EUA Cheguem ao Impasse

Delegação iraniana deixando a embaixada de Omã após a quinta rodada de negociações nucleares entre EUA e Irã em Roma, maio de 2025.
Membros da delegação iraniana saem da embaixada de Omã em Roma, onde ocorreu a quinta rodada de negociações nucleares com os EUA, em 23 de maio de 2025. Foto: REUTERS/Guglielmo Mangiapane.

As negociações nucleares entre Irã e Estados Unidos, mediadas por Omã, voltaram ao centro das atenções com declarações do presidente iraniano Masoud Pezeshkian. Ao afirmar que o país “encontrará um meio de sobreviver” caso não haja acordo com Washington, Pezeshkian sinaliza a determinação de Teerã em resistir às pressões econômicas e diplomáticas impostas pelos EUA, que combinam sanções severas a ameaças militares.

Contexto Histórico e Jurídico

Em 2015, o Plano de Ação Conjunto Global (JCPOA) estabeleceu limites ao programa nuclear iraniano em troca de alívio gradual das sanções. Em maio de 2018, a administração Trump se retirou unilateralmente do acordo e restabeleceu sanções de amplo impacto, afetando principalmente o setor petrolífero iraniano. Desde então, Teerã reativou parcialmente suas atividades de enriquecimento de urânio, elevando o estoque de material enriquecido para além dos níveis permitidos pelo JCPOA.

No âmbito internacional, esses eventos envolvem o Tratado de Não-Proliferação Nuclear (TNP) e o mandato da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), que mantém inspeções regulares em instalações como Natanz e Fordow.

Posições das Partes

  • Irã
    • Defende que seu programa é exclusivamente civil, recusando-se a congelar o enriquecimento de urânio em níveis que toquem sua soberania tecnológica.
    • Rejeita acordos provisórios, considerando-os artifícios para impor sanções adicionais e reduzir sua margem de manobra.
    • Utiliza retórica de resiliência, afirmando que “não morreremos de fome”, para demonstrar coesão interna e preparar a opinião pública para retaliações econômicas.
  • Estados Unidos
    • Exigem limites estritos ao enriquecimento — abaixo de 3,67% de U-235 — e acesso irrestrito de inspetores internacionais.
    • Empregam a estratégia de “máxima pressão”, combinando sanções financeiras a setores-chave com a ameaça de ações militares contra instalações nucleares.
    • Defendem que qualquer adiamento prolongado amplia o risco de “breakout time” (tempo estimado para obtenção de capacidade nuclear armamentista), necessário para Teerã obter material suficiente para uma arma.

Impacto Econômico e Social das Sanções

As sanções americanas reduziram as exportações de petróleo iraniano de cerca de 2,5 milhões de barris diários (2017) para menos de 300 mil em 2024, segundo dados da OPEP. Isso resultou em:

  • Escassez de divisas, dificultando importações de medicamentos e bens essenciais.
  • Desvalorização do rial, que caiu mais de 60% frente ao dólar em três anos.
  • Inflação superior a 40% ao ano, corroendo salários e pressionando a classe média.

Apesar disso, o Irã tem buscado contornar as restrições por meio de parcerias com China e Rússia, além de desenvolver esquemas de troca em moedas locais.

Papel dos Mediadores e Reações Regionais

  • Omã mantém-se como canal neutro, facilitando o diálogo direto entre Teerã e Washington.
  • União Europeia preserva mecanismos financeiros alternativos (como o INSTEX), ainda com eficácia limitada.
  • Israel e Arábia Saudita, preocupados com a ambição iraniana, reforçam sua vigilância militar e demonstram apoio a uma posição americana mais dura.

Informações Recentes

Segundo o relatório da AIEA divulgado neste mês de maio de 2025, as inspeções apontam que o Irã tem cumprido os níveis de enriquecimento permitidos desde a última rodada técnica, embora mantenha estoques acima do limite anterior ao JCPOA. Ainda não há data oficial para a sexta rodada de conversações, mas diplomatas apontam para junho de 2025 como período provável.

Cenários Possíveis

  1. Acordo Abrangente: combina congelamento parcial do enriquecimento (até 5% por 10 anos) com alívio gradual das sanções, condicionados a inspeções rígidas.
  2. Colapso das Negociações: intensificação de sanções, potencial escalada militar no Golfo e aumento do isolamento econômico iraniano.
  3. Pat de Longo Prazo: negociações estagnam em acordos interinos, criando um status quo frágil, sem avanços significativos para nenhuma das partes.

Conclusão

O impasse reflete a disputa por prestígio e soberania. Enquanto os EUA pressionam para limitar a capacidade nuclear de Teerã, o Irã demonstra resiliência e busca alternativas econômicas para resistir às sanções. O resultado dependerá da disposição mútua para ceder em pontos-chave, especialmente em níveis de enriquecimento e mecanismos de verificação. Até lá, a região permanece em estado de tensão e as avaliações de risco — tanto político quanto militar — seguem elevadas.

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