Agricultores franceses mobilizam tratores em Paris contra afrouxamento das normas ambientais

Tratores estacionados em frente à Assembleia Nacional da França durante protesto de agricultores em Paris, 26 de maio de 2025
Tratores bloqueiam a frente da Assembleia Nacional em Paris durante protesto dos agricultores contra a flexibilização das normas ambientais, 26/05/2025. [Mohammed Badra/EPA-EFE]/ Al Jazeera

Em 26 de maio de 2025, mais de 150 produtores reunidos pela FNSEA (Federação Nacional de Sindicatos de Agricultores da França) bloquearam rodovias e estacionaram cerca de dez tratores em frente à Assembleia Nacional, em Paris, em protesto ao projeto de lei Duplomb, que debate alterações para flexibilizar regulamentações ambientais no setor agrícola.

Eixos do projeto de lei

  1. Autorizações de instalações de criação: proposição de simplificação e aceleração de licenças para explorações de grande porte.
  2. Uso da água: liberação para construção de reservatórios de irrigação, medida apoiada em cenários de seca crônica nas regiões do sul.
  3. Reautorização do neonicotinóide acetamiprido: banido em abril de 2018 por seus efeitos nocivos às abelhas, pleiteia-se sua volta sob o argumento de menor toxicidade relativa e maior eficiência contra pragas da beterraba-açucareira.

Dados Quantitativos

  • Pesticidas na UE: em 2023, a venda total caiu para ≈ 292 000 t, o menor nível desde 2011. A França representou 23 % desse total (≈ 67 000 t).
  • Irrigação na França: do consumo de 4,4 bilhões m³ de água em 2020, 2,9 bilhões m³ destinam-se à agricultura.
    • Provence-Alpes-Côte d’Azur: cerca de 660 milhões m³ de capacidade instalada, com 250 milhões m³ reservados para situações de seca.
    • Île-de-France: responde por ≈ 145 milhões m³ (≲ 5 %).
  • Tamanho das explorações (UE, 2020):
    • 63,8 % têm < 5 ha (pequenos produtores).
    • 7,5 % excedem 50 ha e detêm 68,2 % da área cultivada

Vozes da Sociedade Civil

Sem o acetamiprido, nossa colheita de beterraba cai cerca de 30 %, expondo-nos a prejuízos que não podemos suportar.”
– Confédération Paysanne Auvergne-Rhône-Alpes (Confederação Camponesa da Auvergne-Rhône-Alpes)

Produtores orgânicos e pequenas cooperativas reforçam que não dispõem de margens para adotar alternativas de controle de pragas mais onerosas.

Contexto Legal e Histórico

  • Duplomb no Senado: o texto já havia sido aprovado em fevereiro de 2025 pela Casa alta, com apoio da ministra da Agricultura, Annie Genevard.
  • Regulamento (CE) nº 1107/2009: fixa critérios de avaliação de riscos, eficácia e toxicidade para pesticidas na UE; qualquer adaptação nacional deve respeitar seus parâmetros.

Perspectiva Europeia

  • Polônia (2024): mobilizações resultaram em subsídios ao combustível e garantias de preços mínimos para laticínios.
  • Espanha: projeto de “mégabassines” — reservatórios de grande porte — enfrenta disputas judiciais, apesar da meta de criar 100 novos reservatórios até 2025.
  • Mercado Comum: flexibilizar normas francesas pode favorecer exportações de açúcar de beterraba, mas tensiona as regras da Política Agrícola Comum, que impõe metas de uso sustentável de água e pesticidas.

Análise de Impacto Ambiental

Box: Neonicotinóides – riscos e alternativas

  • Ação: bloqueio dos receptores nicotínicos de acetilcolina em insetos.
  • Polinizadores: doses subletais afetam navegação e reprodução de abelhas.
  • Alternativas: uso de feromônios, aplicação de Bacillus thuringiensis (uma bactéria utilizada como inseticida biológico) e rotação de culturas.

Citação de Especialista

“Embora menos tóxico que outras moléculas da classe, o acetamiprido ainda demanda estudos de longo prazo para avaliar seu efeito subletal em polinizadores.”
– Dra. Sophie Martin, INRAE

Conclusão

os deputados de esquerda e dos Verdes apresentaram centenas de emendas, buscando reforçar cláusulas ambientais. A FNSEA anunciou continuidade das manifestações até 28 de maio e convocou nova mobilização em Bruxelas na semana seguinte, visando a aprovação da lei sem alterações.

O embate expõe o dilema europeu entre competitividade do setor e proteção dos recursos naturais, demandando um debate legislativo que equilibre produtividade e resiliência ecológica.

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