BPCE da França fecha acordo para adquirir 75 % do Novo Banco por € 6,4 bilhões

Logo do Novo Banco na fachada da sede em Lisboa, Portugal, 31 de março de 2017.
Logo do Novo Banco na fachada de sua sede em Lisboa, em 31 de março de 2017. Foto: Pedro Nunes/Reuters.

O grupo bancário francês BPCE — controladora das redes Banque Populaire e Caisse d’Épargne — anunciou nesta sexta‑feira ter assinado um memorando de entendimento para comprar 75 % do capital do Novo Banco, de Portugal, por € 6,4 bilhões (aprox. US$ 7,39 bilhões). A transação, firmada com o fundo norte‑americano Lone Star, constitui a maior operação bancária transfronteiriça na Zona Euro dos últimos dez anos.

Detalhes do Acordo

  • Financiamento: A operação será realizada com recursos próprios do BPCE, preservando um índice CET1 (capital de nível 1) acima de 15 %, bem acima dos mínimos regulatórios
  • Valor e participação adquirida: BPCE pagará € 6,4 bilhões por 75 % do Novo Banco, comparado aos € 1 bilhão investidos pela Lone Star em 2017.
  • Venda das participações restantes: Estado português (11,5 %) e Fundo de Resolução Bancária (13,5 %) também acertaram a venda de seus lotes a BPCE sob termos idênticos, permitindo ao grupo francês deter 100 % da instituição.
  • Cronograma: A conclusão está prevista para o primeiro semestre de 2026, sujeita às aprovações do Banco Central Europeu e das autoridades de concorrência europeias.

Contexto Competitivo e Regulatório

  • Oferta concorrente: Antes do desfecho, o banco espanhol CaixaBank também apresentou proposta, mas acabou superado por BPCE. O governo português vê positivamente a escolha de um grupo francês, por ampliar a diversificação do sistema financeiro nacional e evitar maior concentração de capital em mãos espanholas.
  • Apoio da Comissão Europeia: Em fevereiro de 2023, a Comissão Europeia concluiu que o auxílio estatal destinado ao Novo Banco era compatível com as regras de mercado interno, encerrando o processo de reestruturação iniciado em 2017 e liberando o caminho para uma venda a um investidor privado.

Histórico e Perfil do Novo Banco

Criado em agosto de 2014 a partir dos “ativos bons” do colapsado Banco Espírito Santo, o Novo Banco surgiu para garantir a estabilidade do sistema financeiro português após o resgate estatal de € 4,9 bilhões. Sob gestão da Lone Star desde 2017, recuperou lucratividade, alcançando retorno sobre o capital tangível superior a 20 % em 2021.

Hoje, o Novo Banco detém:

  • € 30 bilhões em depósitos e € 28,5 bilhões em empréstimos líquidos (cerca de 9 % de market share em Portugal);
  • 1,7 milhão de clientes, quase 300 agências e mais de 4 200 funcionários.

Implicações Estratégicas para o BPCE

  1. Diversificação geográfica: A aquisição consolida a entrada do BPCE em seu segundo mercado de varejo na Europa, reduzindo concentração de riscos no mercado francês.
  2. Sinergias operacionais: Espera‑se otimização de custos ao integrar plataformas tecnológicas da Natixis em Portugal com a rede do Novo Banco.
  3. Expansão de produtos: A BPCE amplia seu portfólio de crédito ao consumo e corporativo em território luso, além de reforçar financiamentos a projetos de infraestrutura e transição energética.
  4. Atendimento às diretrizes do BCE: O negócio está alinhado com o apelo do Banco Central Europeu por consolidação bancária na zona do euro, fortalecendo a União Bancária Europeia.

Perspectivas e Desafios

  • Integração: O processo de unificação de sistemas, marca e equipes deve durar entre 12 e 18 meses após o fechamento, exigindo gestão cuidadosa de cultura organizacional e compliance.
  • Visão 2030: No contexto de seu plano estratégico de longo prazo, o BPCE prioriza diversificação, digitalização e sustentabilidade, e vê no mercado lusitano um laboratório para inovações em serviços bancários e ESG.
  • Concorrência futura: CaixaBank e outros bancos espanhóis, ainda fortes em Portugal, deverão ajustar suas estratégias de preço e serviços para enfrentar um BPCE já credenciado e capitalizado.

Conclusão

O acordo entre BPCE e Lone Star para a aquisição do Novo Banco não apenas marca um novo capítulo na consolidação bancária europeia, mas também reposiciona Portugal como destino atraente para capitais transfronteiriços, equilibrando influências financeiras na Península Ibérica e abrindo caminho para investimentos em infraestrutura e inovação financeira no país.

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