
Enfrentando perdas conjuntas de cerca de US$ 60 bilhões em 2024 e um excesso de capacidade que mais que dobra a demanda global, a indústria solar chinesa vive uma crise histórica. Entre tarifas de importação dos EUA, cortes de subsídios domésticos e uma guerra de preços que empurra custos abaixo dos pontos de equilíbrio, fabricantes como Trina Solar e GCL clamam por consolidação e restrição de novas instalações. No entanto, especialistas alertam que a combinação de investimentos desenfreados e falta de cortes reais de produção adia uma recuperação substancial para o fim de 2025, no mínimo.
Escalada de Sobrecapacidade e Queda de Preços
- Capacidade versus Demanda: Em 2023, a China respondeu por cerca de 861 GW de capacidade de módulos fotovoltaicos, enquanto a demanda global foi de apenas 390 GW—um desequilíbrio que gera pressão deflacionária continental.
- Recuo na Produção Global: A produção mundial de painéis recuou 7% em maio de 2025 e projeta nova queda de 4–5% em junho, sinalizando que o excesso produtivo permanece sem freios efetivos.
- Cortes Autônomos: Para mitigar a pressão no segmento de Polisilício, empresas como Tongwei e Daqo New Energy reduziram produção já no final de 2024, mas especialistas afirmam que esses ajustes são insuficientes diante do problema estrutural.
Perdas Bilionárias e Risco de Falências
- Risco de Insolvência: Pequenas e médias fabricantes enfrentam uma “faxina” iminente: o número de novos projetos de manufatura caiu mais de 75% no primeiro semestre de 2024, e várias empresas já sofreram pedidos de recuperação judicial.
- Impacto Financeiro em 2025: Longi Green Energy registrou um prejuízo de ¥5,2 bi (≈ US$ 740 mi) no primeiro semestre, invertendo lucros de ¥9,3 bi no mesmo período de 2024. Tongwei, TCL Zhonghuan e outras gigantes também fecharam no vermelho, refletindo margens médias de EBITDA de apenas 4,7% em 2024, ante 12,4% no ano anterior.
Intervenção Governamental e Consolidação
- Projetos de Quotas: Inspirados pela OPEP, fabricantes avaliam sistemas de cotas de produção para equilibrar oferta e demanda, mas ainda não há consenso nem mecanismo formalizado.
- Proibição de Novas Linhas: Em fevereiro de 2025, a NDRC recomendou banir novas licenças de produção, mas fábricas continuaram a ser inauguradas nos meses seguintes.
- Fusões e Aquisições: Zhu Gongshan (GCL) e Gao Jifan (Trina) defendem uma consolidação acelerada—já em curso com a compra da Jiangsu Runergy pela Tongwei—visando eliminar capacidade ociosa e racionalizar ativos.
Ajustes em Subsídios e Leilões de Energia
- Inner Mongolia: A região anunciou que não garantirá preço mínimo a novos projetos de renováveis, sinalizando um provável “hiato” em licitações até que o mercado se ajuste.
- Cortes de Subsídios: Em 2025, o governo reduziu subsídios a novos projetos solares, exigindo venda de energia via leilões abertos. Até agora, a maioria das províncias ainda não definiu suas regras de leilão, gerando incerteza e desaceleração de investimentos.
Diversificação de Mercados Externos
- Foco em Soluções Integradas: A Trina projeta reduzir a manufatura para 50% do faturamento em até três anos, direcionando investimentos a soluções de armazenamento e sistemas fotovoltaicos integrados.
- Expansão Além dos EUA: Em resposta às tarifas americanas, fabricantes buscam novas frentes de exportação. O Oriente Médio já recebe investimento crescente em fábricas de módulos, enquanto mercados em Leste Europeu e Sul da Ásia despontam como destinos alternativos.
Perspectivas para 2025 e Além
- Fundo do Ciclo: Analistas do Morgan Stanley preveem que será necessário 6–12 meses de ajustes drásticos para estabilizar preços, condicionados à paralisação de grandes linhas de produção ou a uma redução significativa de custos unitários.
- Previsão de Instalações: A Associação Chinesa de Indústria Fotovoltaica estima que a nova capacidade instalada em 2025 cairá entre 215 GW e 255 GW, uma retração de até 22,5% em relação aos 277 GW de 2024.
- Recuperação Tardia: Com as “limpas” inevitáveis e um ambiente regulatório mais austero, o setor só deve vislumbrar uma recuperação robusta no final de 2025 ou até início de 2026, caso os cortes de capacidade e a consolidação se acelerem.
Conclusão
Em suma, o mercado solar chinês caminha por um cenário de ajuste doloroso, onde subsídios menores, leilões incertos e uma concorrência sem freios exigem decisões duras — desde a consolidação por fusões até a adaptação a novos mercados. A tão esperada retomada de margens dependerá, sobretudo, da capacidade dos atores em frear o excesso de oferta e instituir mecanismos de governança de produção suficientemente rígidos para extinguir o ciclo de custos abaixo dos patamares sustentáveis.
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