Khamenei e o Vazio de Liderança: Como os Ataques Israelenses Abalaram o Círculo Íntimo do Supremo Líder do Irã

Supremo Líder do Irã, aiatolá Ali Khamenei, falando durante a cerimônia do 36º aniversário da morte do aiatolá Ruhollah Khomeini em seu mausoléu em Teerã, Irã, 4 de junho de 2025.
Aiatolá Ali Khamenei discursa no mausoléu de Ruhollah Khomeini durante a cerimônia do 36º aniversário da morte do fundador da Revolução Islâmica, em Teerã, 4 de junho de 2025. Foto: Escritório do Supremo Líder Iraniano/WANA via REUTERS.

Em meados de junho de 2025, o aiatolá Ali Khamenei, de 86 anos e Supremo Líder da República Islâmica do Irã desde 1989, viu sua rede de conselheiros mais próximos sofrer um golpe histórico. Ataques aéreos atribuídos a Israel eliminaram, em poucos dias, vários dos mais experientes comandantes da Guarda Revolucionária Islâmica (IRGC) — entre eles o chefe de Estado‑Maior Conjunto, Major‑General Mohammad Bagheri, e o comandante‑em‑chefe da IRGC, General de Corpo de Exército Hossein Salami. Esses eventos criaram lacunas críticas em áreas vitais de defesa, inteligência e estratégia regional, elevando o risco de erros de cálculo que podem repercutir tanto na segurança interna do Irã quanto na estabilidade do Oriente Médio.

O Vazio Criado pelos Ataques de 13 de Junho de 2025

Na madrugada de 13 de junho, sob o codinome “Operation Rising Lion”, a Força Aérea Israelense e o Mossad bombardearam diversos alvos em mais de uma dúzia de localidades do Irã. Entre as principais vítimas:

  • Major‑General Mohammad Bagheri, chefe do Estado‑Maior Conjunto das Forças Armadas, presente no comando subterrâneo atingido.
  • General de Corpo de Exército Hossein Salami, comandante‑em‑chefe da IRGC, figura central na formulação da estratégia militar iraniana.
  • General Amir Ali Hajizadeh, comandante da Força Aeroespacial da IRGC e mentor do programa de mísseis balísticos.
  • Gholam Ali Rashid, veterano comandante do quartel‑general Khatam al‑Anbiya, responsável por importantes projetos de defesa.
  • Seis cientistas nucleares de alto nível, incluindo Fereydoun Abbasi‑Davani e Mohammad Mehdi Tehranchi.

Essas mortes representam a maior decapitação de líderes militares iranianos em uma única ação desde a Guerra Irã‑Iraque (1980–1988).

Estrutura Informal do Círculo Íntimo de Khamenei

Até então, o círculo interno de Khamenei reunia de 15 a 20 conselheiros de confiança — comandantes da IRGC, clérigos e políticos fiéis — convocados ad hoc para decisões de alto impacto. Esse grupo fornecia a inteligência e as opções estratégicas que embasavam a análise final do aiatolá, que combina obstinação com cautela extrema. Fontes descrevem seu processo de “cost‑benefit analysis” como vital para a sobrevivência do regime. A súbita perda de tantos membros-chave compromete a qualidade das avaliações militares e de segurança apresentadas ao líder supremo.

Riscos de Miscoordenação e Erros Estratégicos

Analistas e participantes das reuniões com Khamenei alertam que a escassez de vozes experientes aumenta o perigo de miscalculações. Sem o know‑how dos generais eliminados, o regime pode:

  • Subestimar as capacidades de retaliação israelense
  • Superestimar o apoio de seus aliados regionais
  • Falhar na projeção coerente de poder

Isso eleva o risco de confrontos descontrolados em múltiplas frentes — no Golfo Pérsico, na Síria e no Líbano — bem como a desestabilização interna, tornando menos eficazes as ações de repressão a protestos sociais.

As Alternativas Restantes e o Papel de Mojtaba Khamenei

Apesar das perdas militares, Khamenei ainda conta com conselheiros em outras áreas:

  • Ali Asghar Hejazi, vice de segurança política e peça-chave na inteligência interna.
  • Mohammad Golpayegani, chefe de gabinete do Supremo Líder.
  • Ali Akbar Velayati e Kamal Kharazi, ex‑ministros das Relações Exteriores, para assuntos diplomáticos.
  • Ali Larijani, ex‑presidente do Parlamento, em políticas domésticas e nucleares.

Entretanto, quem tem assumido maior protagonismo é seu filho Mojtaba Khamenei. Com laços profundos junto à IRGC e papel de intermediador entre clérigos, militares e burocratas, Mojtaba atua como um pivô na ausência dos generais veteranos, ampliando sua influência política e religiosa.

O Desgaste da “Coalizão da Resistência”

A “Coalizão da Resistência” — formada por Hezbollá no Líbano, milícias iraquianas, o regime sírio e grupos palestinos — também sofreu reveses:

  • Hassan Nasrallah, líder do Hezbollah, foi morto em 27 de setembro de 2024, tiverando seu funeral em fevereiro de 2025, reunindo enorme apoio popular em Beirute.
  • Apesar de sanções e insurgências, Bashar al‑Assad ainda mantém o poder em Damasco, mas com influência regional reduzida.

Esses eventos corroem o prestígio de Teerã na região, dificultando a coordenação de respostas conjuntas contra Israel.

Retaliação e Perspectivas Futuras

Em 15 de junho, o Irã lançou mísseis de médio alcance em direção a alvos no deserto de Negev, no sul de Israel, como demonstração de retaliação, sem causar vítimas. Observadores apontam que a substituição de conselheiros experientes por quadros mais jovens e radicais na IRGC pode levar a políticas externas e internas ainda mais beligerantes, com menor apreço por limites estratégicos. A capacidade de Khamenei de equilibrar retaliação e cautela será crucial para evitar uma guerra total e preservar a sobrevivência do regime.

Conclusão

Khamenei enfrenta um período sem precedentes de isolamento interno, enquanto o tabuleiro estratégico regional se redesenha com a perda de aliados históricos e de seus principais comandantes. As lacunas deixadas pelos generais mortos, combinadas à ascensão de Mojtaba e às novas dinâmicas na Síria e no Líbano, alteram profundamente o equilíbrio de poder. A sobrevivência do sistema teocrático dependerá da habilidade do líder em reconstruir sua rede de conselheiros, calibrar respostas militares e evitar uma escalada que possa comprometer a continuidade do regime.

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