Polícia eslovaca abre investigação contra ex-ministro da Defesa por ajuda à Ucrânia

Ministro da Defesa da Eslováquia Jaroslav Naď fala em coletiva de imprensa ao lado da ministra da Defesa da Alemanha Christine Lambrecht em Bratislava, dezembro de 2022.
Ministro da Defesa da Eslováquia, Jaroslav Naď, durante coletiva com a ministra da Defesa da Alemanha, Christine Lambrecht, em Bratislava, em 19 de dezembro de 2022. Foto: REUTERS/Radovan Stoklasa.

Em 18 de junho de 2025, a polícia da Eslováquia realizou buscas e tentou deter o ex‑ministro da Defesa, Jaroslav Naď, e outros ex‑altos funcionários, no âmbito de uma investigação conduzida pelo Escritório do Procurador Europeu (EPPO) sobre o envio de munições e equipamentos militares à Ucrânia após a invasão russa de 2022. A ação reflete a guinada do governo de Robert Fico, em 2023, que suspendeu toda ajuda militar a Kiev e apelou por melhores relações com Moscou.

Contexto político

Desde outubro de 2023, o premiê Robert Fico vem orientando a Eslováquia em direção a uma postura mais neutra em relação ao conflito Rússia‑Ucrânia, suspendendo o envio de armamentos e questionando a permanência do país na OTAN. Ao mesmo tempo, seu governo acusou publicamente a administração anterior de “traição” e de violar normas orçamentárias ao doar equipamentos militares a Kiev.

A operação policial

Na manhã de hoje,18 de junho, agentes da polícia eslovaca cumpriram mandados de busca e apreensão de documentos em órgãos do Ministério da Defesa e tentaram deter Jaroslav Naď, atualmente em férias no Canadá, e outro ex‑funcionário ministerial. Enquanto Naď não pôde ser localizado para prisão imediata, o ex‑chefe de uma empresa estatal de defesa foi detido e conduzido para interrogatório.

Fundamentos da investigação

O inquérito, acionado pelo EPPO, apura se houve infrações às regras de licitação e à Lei Orçamentária ao encaminhar munições à Ucrânia. Um relatório de 2024 do Tribunal de Contas da Eslováquia já apontara “erros relacionados a regras orçamentárias” na aquisição e doação dessas munições, com envio de cópias à polícia para providências judiciais. Investigam‑se também doações de 13 caças MiG‑29 e de um sistema de defesa antiaérea.

Reações dos envolvidos

Em rede social, Jaroslav Naď repudiou as acusações, chamando as prisões de “show midiático” e reafirmando orgulho pelas medidas que adotou para ajudar a Ucrânia. Por sua vez, o ministro do Interior, Matúš Šutaj Eštok, defendeu a operação como essencial para “restaurar a legalidade” e coibir favorecimentos políticos na área de Defesa.

Implicações e desdobramentos

A ofensiva judicial agrava a polarização interna, onde grandes manifestações em apoio à continuidade da ajuda a Kiev ocorreram em 2024 e 2025. No plano internacional, Bruxelas observa com cautela as ações eslovacas, receosa de cortes adicionais no apoio a Ucrânia e de eventuais repercussões sobre fundos comunitários.

Perspectivas futuras

Espera‑se que o EPPO emita novos mandados de prisão ou bloqueios de bens ainda em junho, quando Naď retornar ao país. A oposição já sinalizou manifestações e possíveis recursos ao Tribunal Constitucional em caso de suspeitas de abuso de poder. A disputa jurídica e política seguirá moldando o futuro diplomático e institucional da Eslováquia.

Conclusão


O caso envolvendo o ex-ministro da Defesa Jaroslav Naď e outros ex-funcionários é emblemático do cenário complexo que a Eslováquia enfrenta ao redefinir sua posição geopolítica diante do conflito na Ucrânia. A investigação judicial, impulsionada pelo atual governo de Robert Fico, traduz não apenas uma disputa política interna, mas também o desafio de conciliar legalidade administrativa com interesses estratégicos e diplomáticos. O desenrolar desse processo terá impacto direto na credibilidade das instituições eslovacas e poderá influenciar a relação do país com a União Europeia, a OTAN e seus parceiros internacionais. Em um momento delicado para a segurança europeia, a transparência e o respeito ao devido processo legal serão essenciais para garantir estabilidade política e confiança pública na Eslováquia.

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