Rússia e Indonésia aprofundam laços com encontro de Putin e Prabowo em São Petersburgo

Presidente da Rússia, Vladimir Putin, aperta a mão do presidente da Indonésia, Prabowo Subianto, após reunião no Fórum Econômico Internacional de São Petersburgo.
Putin e Prabowo selam compromisso de cooperação estratégica após reunião no Palácio Konstantin, em São Petersburgo — Foto: Dmitri Lovetsky/AP./ Al Jazeera

Em 19 de junho de 2025, o presidente russo Vladimir Putin recebeu em São Petersburgo o seu colega indonésio, Prabowo Subianto, selando uma declaração de “parceria estratégica” que abarca economia, energia, defesa e tecnologia. O encontro ocorre num momento em que Moscou busca contrabalançar o isolamento ocidental e Jacarta, sob a liderança de Prabowo, diversifica suas parcerias bilaterais, mantendo uma política externa de não‑alinhamento.

Contexto e Impulso Estratégico

  • Global South: Para a Rússia, intensificar o diálogo com a maior economia do Sudeste Asiático reforça sua presença no Sul Global, diante de sanções ocidentais pós‑invasão da Ucrânia.
  • Não‑alinhamento indonésio: Prabowo, no poder desde 2024, busca equacionar interesses entre China, Estados Unidos e agora Rússia, sem comprometer a neutralidade histórica de Jacarta.

Quadro Econômico e Fundo de Investimentos

  • Fundo bilateral de €2 bilhões: Danatara (fundo soberano indonésio) e o Russian Direct Investment Fund (RDIF) firmaram acordo para criar um veículo de investimentos conjunto de €2 bi, voltado a projetos em infraestrutura, energia e tecnologia.
  • Novo Banco de Desenvolvimento do BRICS: Em março de 2025, Prabowo confirmou que a Indonésia ingressará no chamado “banco do BRICS”, acelerando sua transformação econômica e diversificando fontes de financiamento.

Comércio e Acordos Tarifários

  • Acordo de Livre Comércio (FTA): Está em negociação um FTA entre Indonésia e União Econômica Eurasiática, com previsão de ser concluído ainda em 2025 durante o Fórum Econômico de São Petersburgo, ampliando acesso a 180 milhões de consumidores.
  • Fluxo comercial crescente: O comércio bilateral tem apresentado expansão impulsionada por exportações indonésias de commodities (petróleo de palma, minério) e vendas russas de fertilizantes e equipamentos pesados.

Cooperação Energética e Nuclear

  • Meta nuclear de 2032: Jacarta visa inaugurar sua primeira usina nuclear até 2032 para diversificar a matriz, hoje 60% a 70% dependente de carvão. Rosatom está entre as principais candidatas ao projeto.
  • Transição energética: A parceria prevê ainda estudos de viabilidade para pequenos reatores modulares (SMRs) e transferência de tecnologia para garantir segurança e controle de emissões.

Defesa e Segurança

  • Exercícios navais conjuntos: Desde novembro de 2024, Rússia e Indonésia realizam manobras no Mar de Java, ampliando cooperação marítima e intercâmbio de inteligência.
  • Negociações de armamentos: Debates avançam sobre suprimento de sistemas antiaéreos e drones russos, alinhados à estratégia de diversificação de fornecedor de defesa de Jacarta.

Implicações Geopolíticas

  • Equilíbrio de poder: O reforço da aliança bilateral oferece a Moscou uma porta de entrada estratégica no Sudeste Asiático, enquanto Indonésia amplia seu jogo diplomático sem romper com parceiros ocidentais.
  • BRICS em expansão: A entrada da Indonésia no bloco—que agora reúne Brasil, Rússia, Índia, China, África do Sul, Egito, Etiópia, Irã e Emirados Árabes Unidos—reforça sua meta de ser alternativa ao G7 e de projetar vozes do Sul Global.

Perspectivas no Fórum Econômico de São Petersburgo

  • Plenária conjunta: Além de participarem de debates sobre economia digital e turismo, Putin e Prabowo deverão liderar o Russia–Indonesia Business Dialogue, visando converter as declarações políticas em contratos concretos.
  • Ausência ocidental: Com a redução da presença de empresas europeias e norte‑americanas no SPIEF devido às sanções, o espaço para negócios russo‑indonésios se amplia, mas esbarra em desafios regulatórios e financeiros.

Conclusão

O encontro em São Petersburgo consolida a visão de um eixo Rússia‑Indonésia que transcende meros gestos protocolares, apontando para investimentos de longo prazo em energia limpa, defesa e infraestrutura. Resta monitorar se os acordos avançarão na prática e como o delicado equilíbrio geopolítico de Jacarta se adaptará a esta parceria robusta.

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