
Em 22 de junho de 2025, os Estados Unidos lançaram ataques aéreos contra as instalações nucleares iranianas em Fordow, Natanz e Isfahan, empregando bombardeiros B-2 Spirit e bombas GBU-57A/B “Massive Ordnance Penetrator” para neutralizar supostas infraestruturas militares subterrâneas. No dia seguinte, o governo paquistanês emitiu uma forte condenação, considerando as ações como “violação ao direito internacional” e advertindo para o risco de “consequências catastróficas” em toda a região.
Contradição Diplomática Paquistanesa
Em 21 de junho, Islamabad anunciara a nomeação do presidente Donald Trump ao Prêmio Nobel da Paz, elogiando-o como “verdadeiro pacificador” por mediar o fim de um conflito de quatro dias com a Índia. Já em seu comunicado oficial sobre os bombardeios ao Irã, o Ministério das Relações Exteriores afirmou que “a diplomacia é o único caminho para resolver a crise iraniana” e repudiou a escalada de violência, sem, porém, esclarecer a contradição entre as duas posições.
Repercussões Domésticas
Em Karachi, milhares de manifestantes saíram às ruas para protestar contra os ataques dos EUA e de Israel ao Irã. Durante a mobilização, uma grande bandeira americana com a imagem de Trump foi colocada no chão para que os manifestantes pisassem sobre ela, enquanto entoavam slogans contra os “imperialismos” americano e israelense, além de críticas à Índia, tradicional rival regional.
Reações Internacionais
- Iranianos classificaram os bombardeios como “assalto brutal” e ameaçaram retaliação, mantendo viva sua determinação de prosseguir com o programa nuclear caso se sintam ameaçados.
- Organização Internacional de Energia Atômica (AIEA) confirmou que não houve vazamento radioativo significativo nas instalações atingidas.
- Reino Unido: o primeiro-ministro Keir Starmer apoiou os ataques, qualificados como resposta necessária à “ameaça nuclear iraniana”.
- Índia: o premiê Narendra Modi, após conversa telefônica com o presidente iraniano Masoud Pezeshkian, fez apelo veemente por “desescalada imediata” e retomada do diálogo.
- Arábia Saudita externou “preocupação profunda” e pediu moderação, reiterando laços históricos com o Irã.
- Nações Unidas convocaram sessão de emergência, com o secretário-geral António Guterres advertindo para o “perigo de escalada catastrófica” e defendendo que “só a diplomacia pode preservar a paz”.
Impactos Geopolíticos
O endurecimento da política americana em relação ao programa nuclear iraniano eleva o risco de confrontos diretos e aprofunda a desconfiança entre Teerã e Washington. Para o Irã, o ataque reforça a narrativa de cerco externo, potencialmente acelerando seu esforço de autossuficiência militar. Concomitantemente, pressiona países como Omã e Catar a intensificar seus papéis de mediadores.
Perspectivas Futuras
Diante da ambiguidade paquistanesa, Islamabad poderá perder credibilidade tanto junto a Teerã — que se ressentirá da demora em adotar uma solidariedade mais clara — quanto junto a Washington, em cujo apoio estratégico o país continua fortemente dependente. Nos próximos dias, espera-se que o Paquistão proponha iniciativas multilaterais de diálogo, possivelmente em fóruns como a Organização de Cooperação Islâmica, para reconciliação de posições e contenção dos ânimos.
Conclusão
A simultaneidade entre a nomeação de Donald Trump ao Nobel da Paz e a condenação dos bombardeios ao Irã evidencia os dilemas geopolíticos enfrentados pelo Paquistão: equilibrar alianças estratégicas com Washington, credibilidade no mundo muçulmano e estabilidade regional. O desfecho deste episódio dependerá da habilidade de Islamabad em articular uma diplomacia coerente que promova o diálogo e evite contradições públicas capazes de fragilizar sua atuação internacional.
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