
Em junho de 2025, o Pentágono anunciou o sucesso de testes do Long Range Discrimination Radar (LRDR) em Clear Space Force Station, no Alasca, marcando um passo decisivo para a integração desse sensor no ambicioso programa Golden Dome — um escudo antimisil orçado em US $ 175 bi destinado a proteger os Estados Unidos de ameaças balísticas emergentes, particularmente da China e da Rússia. Este artigo revisa o estado-da-arte do LRDR, detalha a arquitetura e os objetivos do Golden Dome, analisa o contexto geopolítico e orçamentário e atualiza com informações recentes sobre espectro, cronograma de testes e integração de dados.
Teste do LRDR no Alasca
Na segunda-feira, 16 de junho de 2025, o LRDR, desenvolvido pela Lockheed Martin, detectou, rastreou e reportou dados de um míssil-alvo lançado sobre o Pacífico Norte, a mais de 2 000 km da costa do Alasca. Operando em banda S com tecnologia GaN-AESA (Active Electronically Scanned Array), o radar oferece 220° de cobertura e alta capacidade de discriminar ogivas de decoys — requisito essencial para o Golden Dome.
Apesar do sucesso dessa demonstração, vale lembrar que o planejamento original do Flight Test Other-26 (FTX-26) foi adiado em agosto de 2023 por uma “anomalia de alvo”; o teste principal agora está reprogramado para 2025, após análises de correção e ajustes de software/hardware do radar.
O que é o Golden Dome?
Instituído por ordem executiva em janeiro de 2025, o Golden Dome é um programa de defesa antimisil em camadas com orçamento estimado em US $ 175 bi, gerenciado pela Força-Espaço em parceria com a MDA e o USNORTHCOM. Seus pilares são:
- Satélites de alerta precoce: constelação em baixa e média órbitas com sensores infravermelhos e radares de vigilância espacial, integrados via “Common Ground-Space Enterprise Architecture” desenvolvida pela Amentum/Jacobs.
- Radares terrestres: o LRDR no Alasca e futuros sensores de próxima geração em regiões estratégicas.
- Interceptadores múltiplos: GBIs, THAAD, Aegis BMD e futuro Next Generation Interceptor (NGI), este último com contrato de até US $ 17,7 bi e entrega prevista até 2028.
- Comando unificado: sistema C2 que processa dados em tempo real para decisões automáticas de engajamento.
Contexto Estratégico e Ameaças
O reforço do LRDR e o Golden Dome respondem à modernização de arsenais adversários:
- China: já possui mísseis hipersônicos e um programa de expansão de ICBMs, estimando mais de 600 ogivas até 2030.
- Rússia: usa saturação de decoys e contadores eletrônicos para desafiar sistemas de defesa múltipla.
- Irã e Coreia do Norte: continuam aprimorando alcance e precisão de mísseis balísticos, pressionando pela constante evolução dos sensores de discriminação.
Desafios Orçamentários e de Espectro
Embora receba US $ 25 bi iniciais, o Golden Dome enfrenta:
- Risco de estouro de custos: projeções do CBO sugerem ultrapassar US $ 500 bi em duas décadas, quase três vezes o valor estimado .
- Prazos ambiciosos: operacional até janeiro de 2029; críticos apontam que a integração de novas tecnologias espaciais e de rede exige mais tempo .
- Leilão de banda S pela FCC: recente estudo da CSIS alerta que a venda da faixa 3,10–3,45 GHz — “Goldilocks zone” para radares antimisil — pode degradar severamente o desempenho do LRDR e de outros sistemas, pedindo impedimento legislativo.
Perspectivas e Conclusão
O teste bem-sucedido do LRDR reitera sua maturidade técnica e sublinha sua relevância para o Golden Dome. Contudo, o realismo orçamentário, o aperfeiçoamento da cadeia de satélites e a preservação do espectro militar são fatores críticos para que o programa não se torne “mais um elefante branco” em defesa dos EUA. A cooperação transatlântica, tratados de não proliferação e uma gestão fiscal rígida serão determinantes para transformar o Golden Dome em um escudo viável e eficaz até 2029.
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