
Em 25 de junho de 2025, o Conselho Federal da Suíça anunciou o início de negociações exploratórias com a União Europeia para estabelecer uma parceria não vinculante de aquisição conjunta de armamentos. A iniciativa, cuidadosamente desenhada para respeitar a tradição de neutralidade suíça, visa reforçar as capacidades de defesa do país e oferecer condições mais competitivas à sua indústria em projetos de cooperação europeia.
Contexto e motivações
A invasão russa da Ucrânia em 2022 elevou de forma significativa as preocupações de segurança na Europa, levando o bloco a acelerar a integração de seus mercados de defesa. Em resposta, a UE lançou o Security Action for Europe (SAFE), um fundo de €150 bilhões para aquisições comuns de equipamentos militares, aberto também a países terceiros que firmem parcerias com o bloco.
Paralelamente, o European Defence Industrial Programme (EDIP), com orçamento de €1,5 bilhão, financia projetos de desenvolvimento tecnológico, exigindo que pelo menos 65 % dos componentes sejam produzidos dentro do espaço europeu ou em países associados.
Mecanismos de cooperação existentes
Para integrar-se em projetos de defesa da UE, nações não membros devem celebrar acordos prévios que definam termos de participação. Até o momento, a Suíça já:
- Ingressou no PESCO Cyber Ranges Federation em maio de 2025, um consórcio de ciberdefesa liderado pela Estônia, reforçando o intercâmbio de capacidades digitais.
- Recebeu convite oficial para aderir ao projeto de Mobilidade Militar (PESCO Military Mobility) em janeiro de 2025, agilizando o transporte transfronteiriço de tropas e equipamentos.
Outros países terceiros com parcerias semelhantes incluem Noruega, Reino Unido, EUA e Canadá.
Benefícios para a indústria suíça
A participação em iniciativas como SAFE e PESCO oferece à indústria de defesa suíça:
- Acesso a fundos substanciais (até €150 bi) para pesquisa e desenvolvimento;
- Colaboração tecnológica com empresas e institutos europeus;
- Economias de escala em grandes encomendas multinacionais;
- Ampliação de mercado, consolidando a presença em contratos europeus.
O governo suíço salienta que estas parcerias permitirão negociar “condições mais vantajosas” para fabricantes nacionais.
Estratégia de Política de Armamentos
Em novembro de 2024, o Conselho Federal encarregou o Departamento de Defesa, Proteção da População e Desporto (DDPS) de formular uma nova Estratégia de Política de Armamentos, com adoção prevista para meados de 2025. O documento visa modernizar o quadro legal e orientar investimentos em projetos conjuntos, garantindo coerência entre neutralidade e cooperação internacional.
Neutralidade em debate
Embora a Suíça mantenha sua neutralidade armada, parcerias “ad hoc” em projetos de interesse mútuo têm precedentes. Em outubro de 2024, o país ingressou na European Sky Shield Initiative (ESSI), dedicado a defesa antiaérea, sob cláusulas que permitem retirada em caso de conflito.
No entanto, setores conservadores e movimentos civis temem uma “erosão gradual” da neutralidade e podem requerer referendos para aprovar acordos que impliquem compromissos multilaterais.
Cooperação na reconstrução da Ucrânia
No mesmo 25 de junho de 2025, Berna aprovou um projeto de acordo de cooperação com a Ucrânia para facilitar a participação do setor privado suíço na reconstrução pós-conflito, criando a base legal para investimentos de até CHF 500 milhões até 2028.
Impactos e perspectivas
Com essas iniciativas, a Suíça busca:
- Modernizar suas Forças Armadas, acessando tecnologias europeias de ponta;
- Fortalecer sua indústria de defesa, captando contratos de grande escala;
- Consolidar seu papel geopolítico, participando ativamente da segurança regional;
- Conciliar neutralidade e segurança, contribuindo para a estabilidade da Europa.
O sucesso dependerá da habilidade de Berna em adaptar sua legislação interna e envolver o Parlamento – e possivelmente o eleitorado via referendos – para legitimar seus compromissos de cooperação. A abertura das negociações com a UE deverá ocorrer nas próximas semanas, com fases de consulta e definições de cronograma ainda a serem divulgadas.
Conclusão
A decisão suíça de explorar uma parceria de defesa com a UE representa um marco na política de segurança nacional, mesclando pragmatismo econômico e industrial com um olhar cauteloso sobre a neutralidade histórica. Ao mesmo tempo, a colaboração na reconstrução ucraniana reforça o papel de Berna como parceiro confiável em crises internacionais, num momento de amplas incertezas estratégicas na Europa.
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