Escalada de Bombardeios de Israel em Gaza Antecede Negociações na Casa Branca por Cessar‑Fogo

Palestinos inspecionam destruição em escola da ONU atingida por ataque aéreo israelense em Gaza.
Palestinos avaliam os destroços em uma escola da UNRWA que abrigava deslocados e foi atingida por um ataque aéreo israelense em Gaza, em 30 de junho de 2025. Foto: REUTERS/Mahmoud Issa.

Em 30 de junho de 2025, forças israelenses intensificaram drasticamente seus ataques no norte de Gaza, resultando em uma das noites mais letais de bombardeios em semanas. O recrudescimento da ofensiva ocorreu poucas horas antes de um enviado israelense desembarcar em Washington para discutir um plano de trégua de 60 dias com autoridades da Casa Branca. Enquanto, no terreno, civis relatavam ataques contínuos a escolas e residências, em Washington crescia a expectativa sobre o futuro imediato dos esforços de cessar‑fogo e da troca de reféns.

Contexto e Escalada em 30 de Junho de 2025

Nesta segunda‑feira, Israel emitiu ordens de evacuação em massa para bairros do norte de Gaza, incluindo o subúrbio de Zeitoun, onde tanques penetraram as áreas orientais. Apesar dos avisos prévios—pela entrega de panfletos e telefonemas—aviões e artilharia continuaram a bombardear escolas e domicílios, forçando famílias a fugir sob explosões descritas como “terremotos” por moradores locais. Autoridades de saúde de Gaza registraram 25 mortos apenas naquele dia, incluindo 10 em Zeitoun; posteriormente, Nasser Hospital em Khan Younis confirmou mais 13 vítimas, totalizando 38 mortos em 30 de junho.

Negociações na Casa Branca por um Cessar‑Fogo de 60 Dias

Pouco depois desse episódio, Ron Dermer, ministro de Assuntos Estratégicos de Israel e confidente de Benjamin Netanyahu, chegou à Casa Branca para discutir o plano de trégua proposto pelos Estados Unidos. O esboço prevê um cessar‑fogo de 60 dias em troca da libertação de metade dos reféns israelenses remanescentes, mediante a entrega de prisioneiros palestinos e restos mortais de falecidos. Em paralelo, esperava‑se que o acordo servisse de base para negociações regionais mais amplas, incluindo potenciais acordos de normalização com Estados do Golfo.

Impacto Humanitário e Deslocamento

Desde o início da guerra em 7 de outubro de 2023, quando militantes do Hamas mataram 1.200 civis israelenses e fizeram 251 reféns, os confrontos levaram à morte de pelo menos 56.500 palestinos—incluindo mais de 17.400 crianças—segundo o Ministério da Saúde de Gaza em 29 de junho de 2025. Mais de 80% da população de 2,3 milhões está deslocada, vivendo em condições precárias, com falta de alimentos, água potável e assistência médica. Trechos inteiros do território encontram‑se sob ordens de evacuação ou designados como zonas militarizadas.

Objetivos Militares versus Riscos Civis

O Exército de Defesa de Israel (IDF) afirma que seus ataques miram centros de comando do Hamas, depósitos de armas e túneis subterrâneos em áreas urbanas densamente povoadas, medidas consideradas cruciais para desarmar o grupo e pressionar pela libertação de reféns. Ainda assim, analistas e organizações de direitos humanos questionam a eficácia dos avisos prévios, lembrando que o bombardeio sistemático de infraestrutura civil —como escolas e abrigos da ONU— agrava o sofrimento de não‑combatentes.

Stumbling Blocks nas Negociações de Trégua

Hamas condiciona qualquer cessar‑fogo a uma retirada completa de Israel de Gaza e ao fim imediato das hostilidades, pré‑requisitos rejeitados por Jerusalém, que exige a desmilitarização do território. Essa divergência impede a consolidação de acordos duradouros; a última trégua de janeiro foi rompida em março, refletindo o alto grau de desconfiança entre as partes.

Cálculos Regionais e Políticos

O desfecho recente da breve guerra de 12 dias entre Israel e Irã, finalizada em 24 de junho de 2025, acrescenta um novo elemento ao tabuleiro estratégico. Netanyahu afirmou que esse episódio abriu “novas oportunidades” para a libertação de reféns em Gaza, reforçando a tensão em torno das negociações com os EUA. Por sua vez, o governo Trump busca alavancar essa conjuntura para impulsionar um acordo de paz mais amplo no Oriente Médio, ainda que pressões internas em Israel e nos EUA possam moldar o ritmo das operações e do diálogo.

Perspectivas Futuras

Concluídas as conversas em Washington, resta saber se Israel e Hamas conseguirão converter o plano de 60 dias em um cessar‑fogo estável. Especialistas alertam que, sem garantias de acesso humanitário irrestrito, reconstrução e um roteiro político que aborde as causas centrais do conflito, qualquer trégua corre o risco de ruir rapidamente, perpetuando o ciclo de violência e aprofundando a crise humanitária em Gaza.

Conclusão

A intensificação dos bombardeios em Gaza no momento em que se discutem acordos de cessar-fogo revela a complexidade e a fragilidade do conflito israelo-palestino. Apesar dos esforços diplomáticos conduzidos por Washington, e da proposta de trégua de 60 dias, a realidade no terreno mostra um cenário de violência contínua, deslocamentos em massa e destruição sistemática de infraestrutura civil.

O número de mortos, que já ultrapassa 56.500 palestinos e 1.200 israelenses, representa não apenas uma tragédia humana, mas um obstáculo moral e político para qualquer tentativa de reconciliação duradoura. A exigência de desarmamento do Hamas por parte de Israel e a exigência de retirada completa das forças israelenses por parte do grupo palestino parecem, por ora, inconciliáveis.

No entanto, a diplomacia ainda tem espaço — especialmente se for acompanhada de pressão internacional coordenada, garantia de assistência humanitária em larga escala e compromissos políticos de médio e longo prazo. Sem isso, cada trégua será apenas uma pausa temporária em um conflito que já perdura há décadas. O verdadeiro desafio, agora, é transformar cessar-fogos em soluções estruturais. O tempo está se esgotando — e são os civis que mais pagam o preço da estagnação diplomática.

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