Tentativa de “Revolução Colorida”: Análise das Manifestações na Sérvia

Manifestantes bloqueiam a estrada durante protesto antigoverno em Belgrado, Sérvia, 29 de junho de 2025.
Manifestantes bloqueiam a estrada em Belgrado durante protesto antigoverno que exige eleições antecipadas, em 29 de junho de 2025. Foto: Marko Djurica/Reuters.

No último fim de semana de junho de 2025, a Sérvia testemunhou uma das maiores mobilizações populares dos últimos anos. Manifestações em Belgrado reuniram entre 40 mil (segundo o Ministério do Interior) e 140 mil pessoas (segundo organizadores), demandando eleições antecipadas e o fim dos 12 anos de governo do presidente Aleksandar Vučić. Os protestos, inicialmente liderados por estudantes após o trágico desabamento da estação de trem de Novi Sad, evoluíram para um movimento amplo contra a corrupção, o autoritarismo e a falta de transparência.

Acusações de “revolução colorida”

Na segunda-feira 30 de junho, o porta‑voz do Kremlin, Dmitry Peskov, declarou que não se podia descartar o emprego de táticas de “revoluções coloridas” para desestabilizar o governo sérvio, mas afirmou ter certeza de que as autoridades locais restabeleceriam a ordem rapidamente. O termo faz referência a movimentos populares em ex-países soviéticos que, segundo Moscou, teriam sido fomentados por serviços de inteligência ocidentais.

O jogo geopolítico e os laços com a Rússia

A Sérvia mantém estreitas relações com Moscou. Em 9 de maio de 2025, o presidente Vučić participou do desfile do Dia da Vitória na Praça Vermelha, em Moscou. Em fevereiro, o vice‑primeiro‑ministro Aleksandar Vulin reuniu-se em Moscou com o chefe da SVR, Sergei Naryshkin, acusando agências ocidentais de conspirar para promover o movimento de rua na Sérvia. Além disso, relatório da FSB russa, citado pelo presidente sérvio, afirma que não houve uso de armas sônicas pela polícia durante um protesto em março de 2025, reforçando a narrativa de provação externa.

Reação interna e acusações mútuas

O presidente Vučić acusou “poderes estrangeiros não especificados” de tentar derrubar o governo, mas garantiu que a tentativa fracassou e agradeceu publicamente ao apoio russo. Já o vice‑primeiro‑ministro Vulin agradeceu ao Secretário do Conselho de Segurança russo, Sergey Shoigu, pela “posição firme” e pelo compartilhamento de informações para conter a instabilidade.

Implicações políticas domésticas

Com as eleições parlamentares marcadas para 2027, o governo Vučić busca consolidar a narrativa de guardião da ordem como estratégia eleitoral. Por outro lado, a oposição tenta transformar o movimento em plataforma unificada para reivindicar reformas profundas no sistema judiciário e maior independência da mídia.

Possíveis cenários futuros

  • Repressão controlada: intensificação da segurança, prisões estratégicas e concessões superficiais para desmobilizar os manifestantes.
  • Diálogo limitado: abertura de comissões parlamentares de inquérito sobre corrupção, porém sem antecipar as eleições, buscando dividir a oposição.
  • Radicalização: caso o movimento se alinhe a sindicatos e outras categorias, pode ganhar novo fôlego e atrair atenção internacional, complicando a justificativa de “interferência estrangeira”.

Conclusão

A referência a uma potencial “revolução colorida” revela a importância geopolítica da Sérvia para a Rússia e a tentativa do governo de enquadrar a insatisfação popular como produto de conspirações externas. O desfecho desse embate entre demandas democráticas e narrativas de segurança moldará não apenas o horizonte político interno, mas também o equilíbrio de influências nos Bálcãs.

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