
Na terça‑feira, 1º de julho de 2025, o primeiro‑ministro François Bayrou resistiu ao seu oitavo voto de desconfiança na Assembleia Nacional, graças à abstenção estratégica do Rassemblement National (RN), liderado por Marine Le Pen. Contudo, o verdadeiro teste virá no outono, quando Bayrou terá de aprovar um rigoroso plano de € 40 bilhões em cortes para o orçamento de 2026, sob a mira tanto da esquerda quanto da extrema‑direita — juntos, esses blocos têm votos suficientes para derrubá‑lo.
Um respiro temporário
O RN, maior bancada isolada do Parlamento, calculou que seria mais custoso derrubar Bayrou imediatamente — pois isso enviaria um “sinal muito ruim” às agências de rating e ao FMI, segundo a ex‑primeira‑ministra Élisabeth Borne. A decisão de adiar o confronto direto até o momento das negociações orçamentárias reflete a cautela do RN diante de um cenário geopolítico incerto e de suas próprias divisões internas após a condenação de Marine Le Pen por desvio de fundos, que elevou o perfil de Jordan Bardella como potencial líder em 2027.
As exigências do RN
Há menos de um mês, o RN já havia imposto quatro “linhas vermelhas” orçamentárias que custaram o emprego de Michel Barnier em 2024. Para o orçamento 2026, essas exigências foram mantidas e até endurecidas:
- Zero aumento de impostos;
- Corte de subsídios a fontes renováveis, privilegiando o nuclear como símbolo de soberania energética;
- Proibição de medidas que reduzam benefícios sociais já concedidos;
- Veto a qualquer projeto energético plurianual aprovado por decreto — o que o partido qualificou de “casus belli”.
A rejeição popular a Bayrou
Segundo o último barômetro Ifop, divulgado em 30 de junho, 80% dos franceses desaprovam a atuação de Bayrou como primeiro‑ministro — o maior índice de insatisfação já registrado para o cargo desde 1958. Esse recorde histórico supera até a impopularidade de Edith Cresson em 1991, consolidando a percepção de um governo frágil e pouco eficaz na gestão das reformas sociais e fiscais.
A pressão dos socialistas
Na semana anterior, o Partido Socialista anunciou que apresentará uma nova moção de desconfiança devido ao fracasso nas negociações sobre a reforma das pensões, criada pelo presidente Macron e conduzida por Bayrou, que eleva a idade de aposentadoria de 62 para 64 anos. Embora improvável sem o apoio do RN, essa iniciativa sublinha o ambiente de incerteza que domina a legislatura desde as eleições antecipadas de 2024.
Cenários para o outono
Bayrou apresentará um esboço do orçamento de 2026 até meados de julho e o texto final em setembro. Caso fracasse em obter um consenso, a extrema‑direita e a esquerda poderão se unir para derrubá‑lo. Em paralelo, o presidente Emmanuel Macron dispõe, a partir de 8 de julho, da prerrogativa de dissolver o Parlamento e convocar novas eleições, mas muitos de seus aliados receiam que isso amplifique a crise política diante da popularidade crescente do RN.
Conclusão
O adiamento da queda de Bayrou não altera o fato de que seu governo caminha sobre um terreno minado. Se não conseguir negociar concessões que satisfaçam os blocos rivais, ele corre sério risco de renúncia ou de ser derrubado já no outono, deixando o país à mercê de uma instabilidade política que poderá retardar ainda mais as reformas essenciais à solvência fiscal da França.
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