
Enquanto os olhos do mundo se voltam para a crise climática e a insegurança alimentar, Taiwan avança silenciosamente com uma de suas estratégias mais eficazes de diplomacia internacional: a cooperação agrícola com países africanos. A nova edição do curso intensivo de capacitação técnica promovido por Taiwan para profissionais africanos está, muito provavelmente, em andamento neste mês de julho de 2025 — seguindo o modelo bem-sucedido realizado no mesmo período em 2024.
Embora os dados oficiais da edição atual ainda não tenham sido publicados, o histórico do programa revela um esforço contínuo de Taiwan para projetar influência por meio de transferência de tecnologia e formação prática.
O Programa em Resumo
O curso — oficialmente chamado de “Programa Intensivo de Treinamento Agrícola para Elites Africanas” — é organizado pela Universidade Nacional de Ciências e Tecnologia de Pingtung (NPUST), com apoio dos Ministérios da Educação, Agricultura e Relações Exteriores de Taiwan, e financiado pelo Fundo de Cooperação e Desenvolvimento Internacional (ICDF).
Na edição de julho de 2024, participaram 25 profissionais da agricultura de oito países africanos (Eswatini, Tanzânia, Quênia, Somaliland, África do Sul, Namíbia, Nigéria e Líbia). Durante três semanas, esses técnicos participaram de treinamentos em:
- Agricultura tropical sustentável;
- Controle biológico de pragas;
- Planejamento de estufas e manejo animal;
- Biotecnologia vegetal e irrigação de precisão;
- Visitas a centros como o World Vegetable Center e fazendas-modelo.
Casos de Impacto Local: O que mudou após o curso
Embora ainda faltem relatórios públicos consolidados, fontes do MOFA (Ministério das Relações Exteriores de Taiwan) indicam que alguns dos participantes de 2024 já iniciaram projetos em seus países de origem. Exemplo:
- Na Tanzânia, um agrônomo participante começou a aplicar técnicas de compostagem avançada e manejo biológico de pragas em pequenas cooperativas familiares, reduzindo o uso de pesticidas químicos.
- Na Namíbia, relatos indicam que uma participante retornou com planos de construir uma estufa-modelo com base nos sistemas hidropônicos taiwaneses, com apoio técnico remoto da NPUST.
Esses efeitos locais mostram que o programa não se limita à formação individual, mas gera efeitos multiplicadores reais nas comunidades agrícolas.
Comparação com outras potências: o diferencial taiwanês
Taiwan não é o único país com presença agrícola na África. Mas sua abordagem é muito diferente de outras potências, como China ou União Europeia:
País/Bloco | Foco da Cooperação Agrícola | Críticas comuns | Diferencial de Taiwan |
---|
China | Infraestrutura e maquinário | Dependência, contratos opacos | Taiwan aposta em capacitação técnica e baixo custo |
União Europeia | Segurança alimentar e meio ambiente | Burocracia e lentidão | Taiwan é mais ágil e prática |
Taiwan | Formação técnica e transferência direta | Alcance limitado geograficamente | Programa compacto, com impacto profundo local |
Taiwan adota uma estratégia conhecida como “diplomacia de conhecimento”, priorizando a capacitação de pessoas, e não apenas o envio de insumos ou obras.
Geopolítica discreta: Taiwan ampliando laços sob pressão da China
A cooperação com países africanos também tem um pano de fundo estratégico importante: a disputa diplomática entre Taiwan e a China continental. A maioria dos países africanos reconhece Pequim, e não Taipei, como governo legítimo da “China”.
Diante disso, Taiwan busca ampliar laços com países africanos por meio de ações técnicas e educacionais, sem exigir reconhecimento diplomático formal, mas garantindo presença, influência e boa vontade.
Programas como esse funcionam como ponte diplomática informal, permitindo que Taiwan continue relevante globalmente mesmo com bloqueios em instituições internacionais como a ONU.
Expectativas para 2025 e além
Espera-se que a edição de 2025, ainda não oficialmente documentada, traga novidades como:
- Introdução de tecnologias digitais no campo: uso de drones, sensores, IoT agrícola;
- Expansão para mais países africanos — incluindo parcerias com universidades locais;
- Programas de mentoria a distância, onde ex-participantes atuem como tutores em futuras edições.
A longo prazo, Taiwan pode vir a ser reconhecida como uma potência de cooperação técnica de nicho, principalmente em agricultura tropical inteligente e sustentável.
Conclusão
O curso agrícola oferecido por Taiwan a técnicos africanos é muito mais do que um treinamento. É um exemplo de como países de menor porte podem exercer influência significativa no cenário internacional por meio de educação, inovação e cooperação horizontal real.
Com impacto local comprovado, reconhecimento diplomático crescente e perspectivas de expansão, este programa representa não apenas uma ponte entre Taiwan e África — mas um modelo global de como fazer diplomacia com propósito e resultados.
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