
Sob a presidência de Donald Trump, a União Europeia aproxima‑se de um acordo provisório de comércio bilateral que, segundo reportagens do Financial Times e da Reuters, aplicaria tarifas “recíprocas” de 10 % sobre produtos europeus, sem as isenções setoriais asseguradas ao Reino Unido. Além disso, Bruxelas enfrenta a ameaça de sobretaxas de até 17 % em agroalimentares caso um pacto definitivo não seja firmado até 1º de agosto de 2025. Este artigo analisa o contexto, os termos assegurados a Londres, as razões pelas quais a UE receberia condições menos vantajosas e os impactos para a economia europeia.
Contexto das Tarifas de Aço e Alumínio
Em fevereiro de 2025, o governo Trump restabeleceu tarifas de 25 % sobre importações de aço e alumínio de todos os parceiros comerciais — sem exceções — citando razões de segurança nacional e combate ao “dumping” estrangeiro . Em 4 de junho, Trump elevou ainda mais essas alíquotas para 50 %, reacendendo tensões comerciais com a UE, o Canadá e outros aliados .
Em reação, Ursula von der Leyen, presidente da Comissão Europeia, declarou:
“Estas tarifas não apenas prejudicam nossos exportadores, mas elevam os preços para os consumidores europeus, especialmente em bens essenciais como alimentos e matérias-primas.”
Em 9 de abril, a UE aprovou tarifas retaliatórias de €23 bilhões sobre produtos americanos, a serem aplicadas em fases ao longo de 2025 — uma demonstração clara de que Bruxelas está disposta a usar todas as ferramentas para proteger seu mercado.
Proposta de Acordo Provisório e Prazo
Segundo o Financial Times, negociadores europeus estariam prestes a assinar um “framework” que fixaria uma tarifa recíproca de 10 % para exportações da UE aos EUA enquanto avançam as tratativas de um acordo final . A administração Trump estendeu o prazo para fechar um entendimento até 1 de agosto de 2025, sob pena de aplicar sobretaxas setoriais — especialmente de até 17 % em produtos agroalimentares — caso não haja conclusão até lá .
Robert Lighthizer, representante comercial dos EUA, ressaltou que:
“O objetivo é garantir que o comércio seja justo e equilibrado, protegendo os empregos americanos enquanto mantém diálogo aberto com parceiros estratégicos.”
Condições Obtidas pelo Reino Unido
O Reino Unido finalizou em junho de 2025 um acordo com Washington que reduz tarifas em setores estratégicos, embora mantenha uma tarifa de base de 10 % sobre a maioria dos bens britânicos. Entre os benefícios para Londres estão:
- Setor automotivo e aeroespacial: alíquotas reduzidas para proteger exportações destes segmentos .
- Redução de barreiras para aço e alumínio: ainda que permaneça tarifa de 10 %, houve exclusões de sobretaxas mais elevadas.
- Setor farmacêutico e agronegócio: tratamento preferencial em negociações técnicas, com consultas ad hoc entre autoridades regulatórias de ambos os lados.
O ministro britânico do Comércio Exterior, Kemi Badenoch, comentou:
“Este acordo demonstra como negociamos com agilidade e foco, garantindo vantagens que fortalecem nossa economia em um momento crucial.”
Razões para Termos Mais Rígidos à UE
- Processo Decisório Complexo: A UE exige consenso entre 27 Estados‑membros e aprovação do Parlamento Europeu, tornando‑se menos ágil que o processo unipessoal do Reino Unido.
- Superávit Europeu: Bruxelas apostou em seu superávit de cerca de US 217,8 bilhões em 2024 como moeda de troca, mas os EUA condicionaram concessões a aquisições compensatórias, como compra de GNL e material de defesa.
- Alinhamento Político: A afinidade de Trump com o governo britânico pós‑Brexit pressionou pela “nação favorita” que Londres representa, enquanto a UE figura como bloco homogêneo, mas sem interlocutor singular.
O economista especializado em comércio internacional, Dr. Miguel Andrade, afirma:
“A rigidez da UE dificulta a negociação, enquanto os EUA capitalizam isso para impor condições duras. É um jogo de paciência e poder, e o Reino Unido se aproveita da agilidade política.”
Impactos na Economia Europeia
- Inflação e Custo ao Consumidor: Produtos como queijos franceses, vinhos italianos e embutidos espanhóis podem sofrer aumento médio de preços entre 8% e 15% no varejo europeu. Um exemplo direto são os consumidores alemães, que já enfrentam reajustes em suas compras semanais.
- Montadoras e Fornecedores: Empresas como Volkswagen e BMW alertam que tarifas de até 50 % sobre exportações para os EUA podem impactar negativamente seus lucros e emprego no setor.
- Agronegócio: Exportadores franceses de vinho e espanhóis de azeite relatam redução nas encomendas norte-americanas, devido ao aumento dos custos.
- Setor Industrial: Empresas já estudam realocar parte da produção para países fora do bloco UE, como México, Brasil e Índia, para evitar as tarifas mais altas.
Maria Santos, dona de uma pequena mercearia em Lisboa, diz:
“Já sinto que alguns preços estão subindo, especialmente em produtos importados. Isso pesa no orçamento das famílias.”
Perspectivas e Desdobramentos
- Acordo Final Pós‑1º de Agosto: Caso o “framework” não evolua, Trump poderá impor tarifas ainda mais elevadas — até 50 % em certos setores — forçando retaliações europeias.
- Recursos na OMC: A UE já sinalizou recorrer à Organização Mundial do Comércio, contestando a legalidade das tarifas “recíprocas” .
- Diversificação de Parcerias: Intensificação de negociações com Mercosul, Índia e Vietnã para reduzir a dependência do mercado americano.
- Cenário Político Futuro: Eleição presidencial de novembro de 2025 nos EUA pode alterar radicalmente o tom protecionista de Washington, reabrindo oportunidades de reequilíbrio comercial.
Conclusão
Sob o comando de Donald Trump, os EUA adotam postura protecionista que desafia a UE a responder com rapidez e pragmatismo. Enquanto o Reino Unido colhe benefícios de um acordo bilateral ágil, a UE enfrenta a urgência de firmar um pacto preliminar antes de 1 de agosto — sob risco de tarifas punitivas que podem abalar preços internos, cadeias produtivas e o ritmo de crescimento regional. A eficácia das retaliações europeias e o curso das negociações finais definirão, nos próximos meses, o novo equilíbrio no comércio transatlântico.
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