
Na esteira de crescentes tensões na região do Indo-Pacífico, o Paquistão marcou presença destacada na 32ª Reunião Ministerial do Fórum Regional da ASEAN (ARF), realizada em Kuala Lumpur nos dias 10 e 11 de julho de 2025. Liderada pelo Vice‑Primeiro‑Ministro e Ministro das Relações Exteriores, Senador Mohammad Ishaq Dar, a delegação paquistanesa reafirmou seu compromisso com a segurança multilateral e avançou proposições para elevar seu status de parceiro de diálogo dentro do bloco. Este artigo revisita os principais pontos debatidos, corrige imprecisões e incorpora novas informações confiáveis sobre motivação, reações internacionais e perspectivas estratégicas para Islamabad.
Contexto do ARF e adesão do Paquistão
Fundado em 1994, o ARF é o principal fórum de diálogo político‑segurança na Ásia, composto por 27 membros entre Estados‑membros da ASEAN e parceiros de diálogo. O Paquistão tornou‑se parceiro setorial em 2004 e utiliza o fórum para iniciativas de confiança mútua e diplomacia preventiva na região. Na edição de 2025, Islamabad enfatizou a ambição de ascender de parceiro setorial a parceiro de diálogo pleno, conforme destacado pelo Alto Comissário do Paquistão na Malásia, Syed Ahsan Raza Shah.
Pauta e participação paquistanesa
O Senador Dar chegou a Kuala Lumpur em 10 de julho de 2025 e participou das sessões ministeriais no dia 11, ao lado de secretários‑gerais e chanceleres dos 27 países membros. Em seu discurso, Dar defendeu:
- Multilateralismo Inclusivo: promover estruturas que integrem todos os atores regionais sem hierarquias exclusivas;
- Resolução Pacífica de Conflitos: reafirmar o uso do diálogo para litígios territoriais, incluindo a questão da Caxemira, em consonância com as resoluções do Conselho de Segurança da ONU;
- Fortalecimento da Conectividade: apoiar projetos de infraestrutura como a visão de “Ponte Ásia–Eurásia” para incrementar rotas comerciais terrestres e marítimas.
Além disso, o Vice‑Primeiro‑Ministro se reuniu com membros da comunidade paquistanesa em Kuala Lumpur, reforçando laços culturais e fomentando intercâmbios empresariais locais.
Debate preparatório em Penang
Na reunião de oficiais seniores realizada em Penang em 11 de junho de 2025, delegados indianos e paquistaneses se confrontaram sobre terrorismo e disputas hídricas, evidenciando vetores históricos de tensão. Porém, esse embate também trouxe à tona a ambição paquistanesa de aumentar seu papel no fórum e fomentou discussões sobre uma diplomacia preventiva mais ampla na região.
Reações regionais e desafios internos
Entre os membros da ASEAN, a proposta paquistanesa foi recebida com nuances distintas:
- Apoio: Malásia e Indonésia elogiaram a iniciativa de diversificação de parcerias e colaboraram com Islamabad em propostas de cooperação naval no Estreito de Malaca.
- Ceticismo: Cingapura e Vietnã manifestaram preocupações relativas à estabilidade política interna do Paquistão e à capacidade de implementação de compromissos de segurança de longo prazo.
Adicionalmente, alguns analistas apontam que a ausência de representantes do Ministério da Defesa paquistanês, devido a prioridades domésticas, pode limitar o alcance prático das propostas apresentadas no ARF.
Novo panorama geopolítico
O engajamento do Paquistão ocorre em um cenário de recomposição estratégica:
- China: reitera apoio à diplomacia multilateral, estreitando laços com Islamabad através da Iniciativa do Cinturão e Rota;
- Índia: intensifica a política “Act East”, observando com cautela o avanço paquistanês no ARF;
- EUA e Japão: estimulam a ASEAN a manter independência em suas parcerias e monitoram a estabilidade no subcontinente indiano para preservar fluxos comerciais.
Perspectivas e próximos passos
Para obter status de parceiro pleno do ARF, o Paquistão deverá demonstrar coerência em suas políticas domésticas de segurança e fortalecer mecanismos regionais de monitoramento de ameaças, especialmente em cibersegurança e não proliferação nuclear. Caso alcance essa meta, poderá participar de iniciativas de exercícios conjuntos e influenciar diretamente a agenda de segurança do Indo‑Pacífico.
Conclusão
A participação ativa do Paquistão nos diálogos de segurança da ASEAN representa uma tentativa estratégica de ampliar sua influência regional e contribuir para a estabilidade do Indo-Pacífico. Apesar dos desafios internos e do ceticismo de alguns membros, Islamabad mantém seu compromisso com o multilateralismo e a diplomacia preventiva. O desdobramento desse engajamento nos próximos meses será crucial para definir o papel do Paquistão na arquitetura de segurança asiática.
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