EUA impõem tarifa de 25% sobre produtos indianos: impacto econômico, fundamentos legais e implicações geopolíticas

Donald Trump e Narendra Modi durante reunião bilateral na sede da ONU, com bandeiras dos EUA e da Índia ao fundo
Donald Trump, presidente dos EUA, e Narendra Modi, primeiro-ministro da Índia, durante reunião na sede da ONU em Nova York — setembro de 2019. (Foto oficial da Casa Branca

Em um movimento com fortes implicações comerciais e diplomáticas, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciou na terça-feira (30) a imposição de uma tarifa de 25% sobre todos os bens importados da Índia, com vigência a partir de 1º de agosto de 2025. A decisão inclui ainda penalidades adicionais relacionadas à aliança estratégica entre Índia e Rússia, especialmente nas áreas de energia e defesa.

A medida representa um novo capítulo da política de “tarifas como ferramenta geopolítica” adotada por Trump desde sua primeira presidência, reacendendo tensões comerciais em meio a um cenário global já marcado por realinhamentos estratégicos.

Base legal e antecedentes tarifários

O novo pacote tarifário sucede o controverso episódio do “Liberation Day”, em 2 de abril de 2025, quando Trump anunciou uma tarifa de 26% especificamente contra a Índia. Aquela medida foi barrada por decisão judicial, sob argumento de que o presidente excedeu suas atribuições ao invocar a Lei de Poderes Econômicos de Emergência Internacional (IEEPA) para regular o comércio exterior.

Diferentemente daquela rodada, a tarifa de 25% agora anunciada está sendo imposta com base em prerrogativas comerciais tradicionais — possivelmente sob a Seção 301 (práticas comerciais desleais) ou Seção 232 (segurança nacional) do Trade Act, o que a torna mais difícil de ser anulada judicialmente.

Justificativas oficiais de Washington

Em publicação na Truth Social, o presidente Trump foi direto:

“A Índia tem nos explorado com tarifas brutais por décadas. Estamos corrigindo isso com uma tarifa justa de 25% sobre todos os seus produtos. América em primeiro lugar!”
Donald J. Trump, Truth Social, 30/07/2025

Pouco depois, ele voltou a se pronunciar:

“Eles [Índia] compram armas e petróleo barato da Rússia enquanto nós defendemos o mundo livre. Isso não é aceitável!”
Donald J. Trump, Truth Social, 30/07/2025

O Escritório do Representante Comercial dos EUA (USTR) publicou uma nota oficial justificando a medida como:

“Uma ação necessária para restaurar equilíbrio competitivo diante de tarifas excessivas, barreiras não tarifárias e parcerias com regimes sob sanção.”
Nota do USTR, 30/07/2025

Dados do próprio USTR apontam que as tarifas médias da Índia em produtos agrícolas superam 39%, chegando a 45% em óleos vegetais e até 50% em frutas, como maçãs — comparadas a tarifas americanas médias de 3%.

O fator Rússia: energia e defesa

Além das alegações comerciais, o pano de fundo da decisão é geopolítico. A Índia continua comprando grandes volumes de petróleo russo com desconto, tendo importado 35% de seu petróleo da Rússia no primeiro semestre de 2025, segundo dados da S&P Global. A Rússia também continua sendo fornecedora dominante de equipamentos de defesa indianos, mesmo com sanções ocidentais em vigor.

Resposta da Índia: indignação e retaliação avaliada

O governo indiano reagiu com firmeza. O Ministério das Relações Exteriores divulgou uma nota:

“Essa ação unilateral e arbitrária por parte dos Estados Unidos é decepcionante e contraria os princípios do sistema multilateral de comércio.”
Nota oficial do Ministério das Relações Exteriores da Índia, 30/07/2025

O Ministro do Comércio, Piyush Goyal, afirmou em coletiva de imprensa:

“Não aceitaremos pressão externa que comprometa nossa soberania estratégica. A Índia mantém relações com parceiros diversos, e continuará a fazê-lo de forma transparente.”
Piyush Goyal, 30/07/2025

O Secretário de Relações Exteriores, Vinay Mohan Kwatra, completou:

“A Índia continua comprometida com um comércio livre e justo, mas se reserva o direito de adotar todas as medidas necessárias para proteger seus interesses econômicos.”
Vinay Mohan Kwatra, 30/07/2025

Impacto econômico: comércio, setores e PIB

A medida atinge diretamente cerca de US$ 97 bilhões em exportações indianas anuais para os EUA. Os setores mais afetados são:

  • Têxteis e vestuário
  • Produtos farmacêuticos genéricos
  • Serviços de TI e outsourcing
  • Joias e pedras preciosas
  • Equipamentos industriais

De acordo com o instituto ICRA Ratings, a medida pode tirar até 0,5 ponto percentual do PIB da Índia em 2025–2026. A moeda indiana, rupia, caiu 1,3% frente ao dólar nas horas seguintes ao anúncio.

Riscos estratégicos e próximos movimentos

A medida ameaça o equilíbrio diplomático de uma das parcerias mais estratégicas do século XXI. Embora Índia e EUA tenham divergências pontuais, sua aliança tem sido essencial para conter o avanço da China no Indo-Pacífico.

Uma delegação dos EUA deve visitar Nova Délhi em agosto para retomar negociações suspensas desde fevereiro, quando ambos os países lançaram a chamada “Missão 500”, com a meta de alcançar US$ 500 bilhões em comércio bilateral até 2030.

Nos bastidores, o governo indiano já estuda acionar a OMC e estabelecer contramedidas tarifárias. No entanto, a eficácia da Organização Mundial do Comércio tem sido contestada por Trump, que bloqueou nomeações ao seu órgão de apelação durante sua primeira presidência.

Conclusão

A imposição da tarifa de 25% marca um ponto de virada nas relações entre Estados Unidos e Índia, dois pilares democráticos em lados opostos de uma disputa estratégica global. A medida combina pressão econômica com cálculo político, mirando tanto o comportamento externo da Índia quanto o eleitorado interno dos EUA — especialmente em estados industriais como Michigan, Ohio e Wisconsin.

A curto prazo, o impacto será sentido nos setores exportadores indianos e na inflação americana. A longo prazo, a decisão de Trump poderá redirecionar alianças estratégicas globais, aumentar o isolamento comercial da Índia — ou provocar um novo ciclo de negociação intensa e realinhamento de interesses entre as duas maiores democracias do mundo.

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