Turquia inicia fornecimento de gás natural à Síria: um marco energético e geopolítico na região

Ilustração de um gasoduto em um terreno árido, com as bandeiras da Turquia e da Síria ao fundo.
Ilustração mostrando o gasoduto simbolizando o início do fornecimento de gás natural da Turquia para a Síria, destacando um importante avanço energético e geopolítico na região.

No dia 2 de agosto de 2025, a Turquia dará início ao fornecimento de gás natural à Síria, em um movimento que representa um marco energético e geopolítico no Oriente Médio. O acordo, que envolve também o Azerbaijão e conta com financiamento do Catar, prevê o transporte de gás através da província turca de Kilis até a cidade síria de Aleppo, com o objetivo de reforçar a geração de eletricidade em um país cuja infraestrutura energética foi severamente afetada pelo conflito.

O acordo e a rota do gás

  • Capacidade e cronograma
    • A operação começa em 2 de agosto de 2025.
    • Inicialmente, serão enviados 3,4 milhões de metros cúbicos de gás por dia, volume que pode atingir até 6 milhões de metros cúbicos diários.
    • Em termos anuais, o fluxo pode totalizar até 2 bilhões de metros cúbicos de gás.
  • Infraestrutura
    • A via de transporte passa pela província de Kilis (Turquia) até Aleppo.
    • A reconstrução do gasoduto Kilis–Aleppo foi concluída em maio de 2025.
    • A cerimônia de inauguração contará com ministros da Turquia, do Azerbaijão e do Catar.
  • Parcerias e financiamento
    • O Azerbaijão, por meio da SOCAR, é candidato a parceiro operacional do projeto.
    • O Catar participa no financiamento das obras e da operação inicial.

Infraestrutura física: estado atual do gasoduto e usinas sírias

O gasoduto Kilis–Aleppo, com cerca de 60 quilômetros de extensão na parte turca e aproximadamente 70 quilômetros dentro do território sírio, passou por reparos e modernizações essenciais para permitir o fluxo seguro e contínuo de gás. A infraestrutura síria, severamente danificada pela guerra civil, apresenta desafios importantes:

  • Estado das usinas térmicas
    As principais usinas térmicas de Aleppo, que dependem do gás natural, tiveram suas operações interrompidas ou reduzidas drasticamente nos últimos anos, devido a danos em equipamentos, falta de combustível e restrições financeiras. Apesar disso, reformas iniciais em algumas dessas usinas já foram realizadas, com apoio técnico e financeiro internacional, visando a reativação gradual das capacidades produtivas.
  • Rede de distribuição interna
    A rede de gasodutos sírios dentro das zonas urbanas e industriais está fragmentada e carece de manutenção adequada, o que implica a necessidade de investimentos contínuos para ampliar o alcance do fornecimento e garantir a estabilidade no abastecimento de energia para residências e empresas.
  • Planos futuros
    As autoridades sírias planejam expandir o sistema de gasodutos para conectar outras regiões estratégicas, como Hama e Idlib, assim que o ambiente de segurança permitir.

Impactos econômicos

  • Geração de energia
    Espera-se produzir até 1 200 MW de eletricidade a partir do gás importado.
    Com isso, a disponibilidade diária de energia na Síria pode saltar das atuais 3–4 horas para cerca de 10 horas por dia.
  • Recuperação industrial
    O abastecimento está destinado principalmente a usinas térmicas existentes em Aleppo e regiões adjacentes, o que deve reativar parques industriais e incentivar o comércio local.
  • Investimentos futuros
    Parcerias energéticas podem se estender a exploração de hidrocarbonetos e projetos de redes elétricas, atraindo capital estrangeiro para a reconstrução pós-conflito.

Aspectos geopolíticos e diplomáticos

  • Relações Turquia–Síria
    A iniciativa marca a transição da Turquia de apoiadora de facções rebeldes para aliada estratégica do novo governo sírio, deposto Bashar al‑Assad em dezembro de 2024.
  • Influência regional
    O papel do Azerbaijão fortalece sua posição como fornecedor alternativo de gás no Cáucaso, enquanto o Catar amplia seu alcance financeiro no Mediterrâneo oriental.
  • Equilíbrio de poder
    Este acordo poderá modificar as dinâmicas com Rússia, Irã e Estados Unidos, que mantêm interesses militares e econômicos na Síria.

Riscos de segurança e desafios operacionais

O fornecimento de gás natural enfrenta riscos significativos relacionados à segurança e estabilidade da região fronteiriça entre Turquia e Síria:

  • Presença de grupos armados
    Embora o controle da província de Kilis seja firme por parte da Turquia, o território sírio adjacente ainda apresenta bolsões de grupos armados remanescentes do conflito, alguns com influência de milícias curdas, extremistas islâmicos e facções locais que se opõem ao governo central. Esses grupos podem ameaçar o gasoduto com sabotagens ou ataques, especialmente em áreas rurais próximas à fronteira.
  • Zona de conflito e insegurança
    A região de Aleppo, apesar de estar majoritariamente sob controle governamental, ainda registra episódios de violência esporádica e tensões étnicas, o que pode interferir na manutenção e operação das usinas e redes de distribuição.
  • Medidas de proteção
    Turquia e Síria já planejam uma cooperação de segurança para garantir a integridade da infraestrutura energética, com patrulhas conjuntas e monitoramento constante, embora o sucesso dessas medidas dependa da estabilidade política interna e de acordos diplomáticos sólidos.

Conclusão

O início do fornecimento de gás natural turco à Síria não é apenas um avanço energético, mas um movimento estratégico que pode acelerar a reconstrução síria e redefinir alianças no Oriente Médio. Se for bem gerido, o projeto servirá como modelo de cooperação pós-conflito, mas seu êxito dependerá da segurança, do investimento contínuo em infraestrutura e da manutenção de um ambiente político estável.

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