
No dia 1 de agosto de 2025, a Missão de Apoio da União Africana na Somália (AUSSOM) e as Forças Armadas Nacionais da Somália (SNAF) lançaram uma operação conjunta para retomar o controle de Barire, localidade estratégica a sudoeste de Mogadíscio. O objetivo central foi enfraquecer a capacidade operacional do grupo jihadista Al Shabab na região e garantir corredores humanitários para a população civil.
Composição da Força e Coordenação Multilateral
A AUSSOM, reestruturada em janeiro de 2025, reúne contingentes de Uganda, Djibouti, Quênia, Etiópia, Egito e Somália, sob o mandato da União Africana. A operação em Barire contou com:
- Inteligência tática partilhada entre SNAF e parceiros internacionais.
- Apoio logístico e aéreo limitado, voltado a minimizar danos colaterais.
- Participação crescente de milícias Ma’awisley, que vêm sendo formalmente integradas ao Exército Nacional Somali desde fevereiro de 2025.
Desfecho e Avaliação de Resultados
Segundo comunicado oficial da AUSSOM publicado em 3 de agosto de 2025, foram confirmadas 50 baixas entre combatentes do Al Shabab, sem registrar vítimas militares da missão. A operação também resultou em número indeterminado de feridos no lado jihadista. O representante especial da UA para a Somália, El Hadji Ibrahima Diene, reforçou que “A AUSSOM e as SNAF estão decididas a recuperar Barire e outros territórios ainda sob controle do Al Shabab para garantir paz e segurança duradouras”.
Dimensão Humanitária
Apesar do sucesso militar, a ofensiva impactou diretamente a população civil. Segundo dados da Organização Internacional para Migrações (OIM), cerca de 12.000 pessoas foram deslocadas temporariamente em decorrência dos combates, buscando abrigo em áreas vizinhas mais seguras. As agências humanitárias locais e internacionais intensificaram ações de assistência, priorizando alimentação, abrigo e cuidados médicos.
A restauração dos serviços básicos em Barire, como água potável, saúde e educação, é fundamental para evitar uma crise humanitária prolongada e garantir o apoio das comunidades locais à estabilização.
Análise Estratégica
Ganho Tático vs. Capacidade de Retaliação
- A eliminação de 50 combatentes representa um revés significativo, mas o Al Shabab mantém células adormecidas e capacidade para ataques suicidas e emboscadas.
- A integração dos Ma’awisley fortalece a presença local de forças leais ao governo, mas exige supervisão rigorosa para evitar abusos e rivalidades clânicas
Importância da Inteligência Local
- Informações de base comunitária e colaboração com líderes tradicionais têm se mostrado cruciais para mapear rotas de fuga e esconderijos.
- Minimização de Danos Colaterais
- Foco em operações diurnas e ação de forças especiais para reduzir impacto em civis, essencial para manter o apoio das comunidades afetadas.
Perspectivas de Longo Prazo: Desradicalização e Reintegração
Para garantir a estabilidade duradoura, as autoridades somalis, com apoio da União Africana e parceiros internacionais, estão desenvolvendo programas de desradicalização e reintegração social para ex-combatentes do Al Shabab que abandonam a militância. Estes programas visam a oferecer alternativas econômicas e sociais, diminuindo o ciclo de recrutamento por parte do grupo extremista.
Impacto Regional e Geopolítico
Segurança Regional: Países vizinhos como Quênia e Etiópia, que enfrentam ataques transfronteiriços, acompanham atentamente a operação como indicador da capacidade de contenção do Al Shabab dentro da Somália.
Rotas Marítimas Estratégicas: O Corno da África é uma rota marítima vital para o comércio internacional, especialmente para a navegação no Canal de Suez. A estabilidade na Somália é crucial para a segurança marítima e para combater a pirataria, que, apesar de reduzida, ainda representa ameaça.
Posicionamento da União Africana: O sucesso da AUSSOM fortalece a posição da UA como um ator central em missões de paz no continente, promovendo soluções africanas para desafios africanos.
Novos Desafios
- Estabilização Pós-Conflito: Garantir segurança e serviços básicos em Barire para evitar o retorno do extremismo.
- Coordenação Multilateral: Manter o suporte político, financeiro e de inteligência da comunidade internacional, respeitando a liderança africana no terreno.
Conclusão
A ofensiva em Barire, que resultou na morte de 50 combatentes do Al Shabab, representa um avanço tático importante para a AUSSOM e as forças somalis, mas o caminho para a paz definitiva requer uma abordagem integrada que contemple segurança, reconstrução, desradicalização e desenvolvimento social. A continuidade do apoio regional e internacional será fundamental para consolidar os ganhos recentes e garantir a estabilidade duradoura no Corno da África.
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