
No dia 4 de agosto de 2025, a Embraer, gigante brasileira do setor aeroespacial, anunciou uma parceria estratégica de longo prazo com a Lituânia, após a escolha do avião militar C-390 Millennium como nova aeronave de transporte das Forças Armadas do país europeu. Mais do que um acordo comercial, o movimento representa um reposicionamento do Brasil no xadrez geopolítico internacional e uma afirmação de sua capacidade de projeção tecnológica.
A Embraer e o C-390 Millennium: poder brasileiro no ar
A Embraer é a terceira maior fabricante de aviões comerciais do mundo e um dos poucos players globais com capacidade de projetar e fabricar plataformas de defesa de alta performance. O C-390 Millennium é uma aeronave de transporte militar multimissão, com capacidade de operar em terrenos hostis, realizar missões de evacuação, reabastecimento aéreo, transporte logístico e lançamento de paraquedistas e cargas.
Desde sua introdução, o C-390 tem sido reconhecido por sua robustez, confiabilidade e custo-benefício, sendo adotado por nações como Portugal, Hungria, Países Baixos e, agora, Lituânia. Essa expansão indica não apenas a excelência do produto, mas também a confiança crescente em uma indústria militar do Sul Global.
O significado da parceria com a Lituânia
O acordo firmado com a Lituânia vai muito além da aquisição de aeronaves. A parceria inclui colaboração em manutenção, engenharia, inovação e infraestrutura de cadeia de suprimentos nos setores de defesa e aeroespacial. Em outras palavras, trata-se de uma cooperação industrial e tecnológica de longo prazo, com potência para transformar relações bilaterais e ampliar a presença do Brasil em plataformas industriais europeias.
A Lituânia, membro da OTAN e da União Europeia, tem buscado diversificar suas fontes de defesa frente à crescente instabilidade no leste europeu. Optar por uma solução brasileira, em vez de fabricantes tradicionais como Lockheed Martin ou Airbus, representa uma abertura a novos parceiros e, talvez, uma estratégia de autonomização dentro de alianças internacionais.
Brasil como fornecedor estratégico de defesa
Esse movimento consolida o Brasil como um ator relevante no fornecimento de soluções de defesa em um mercado historicamente dominado por potências do norte global. Não se trata apenas de competitividade industrial, mas de um reposicionamento do país como um agente capaz de cooperar em igualdades tecnológicas com seus pares do hemisfério norte.
Essa inserção se alinha a outros movimentos recentes, como:
- Parcerias tecnológicas com a Índia, África do Sul e Emirados Árabes na defesa;
- Acordos de cooperação espacial com Estados Unidos e União Europeia;
- Exportações crescentes de sistemas militares por empresas como Avibras, Imbel e AEL Sistemas.
Considerações geopolíticas e estratégicas
O fortalecimento da Embraer no setor de defesa reabre o debate sobre a capacidade do Brasil de exercer “poder brando técnico”. Exportar aeronaves não é apenas movimentar a economia: é gerar dependência logística, treinamentos militares conjuntos, participação em doutrinas de operação e exercícios multilaterais. Em outras palavras, é ampliar sua zona de influência.
Além disso, a participação do Brasil em cadeias de suprimento europeias pode ser um passo estratégico para reduzir dependência de insumos militares dos EUA e da China, algo que tem sido buscado por países-membros da União Europeia.
Conclusão
A parceria entre a Embraer e a Lituânia marca um momento-chave para a indústria de defesa brasileira. Representa a confiança internacional em sua capacidade tecnológica, amplia sua presença na Europa e sinaliza uma mudança no jogo geopolítico, em que potências emergentes têm cada vez mais protagonismo. Para o Brasil, é uma vitrine de soberania industrial. Para a Lituânia, uma estratégia de diversificação inteligente. Para o mundo, um sinal claro: a multipolaridade também se constrói com parafusos, asas e turbinas.
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