
Desde abril de 2023, o Sudão vive uma guerra civil entre o Exército Sudanês e a Força de Apoio Rápido (RSF). O conflito já deixou mais de 40 mil mortos e deslocou cerca de 12 milhões de pessoas, gerando uma das maiores crises humanitárias atuais.
Em 4 de agosto de 2025, o Ministério das Relações Exteriores do Sudão divulgou um comunicado acusando os Emirados Árabes Unidos (EAU) de financiar mercenários colombianos e africanos que atuam ao lado da RSF contra o Exército regular. Segundo o governo sudanês, “há provas irrefutáveis de que combatentes estrangeiros estão sendo recrutados e pagos por meio de uma rede de intermediários ligada aos Emirados”.
Vídeos e fotografias divulgados pelas Forças Conjuntas em Darfur mostram combatentes identificados como colombianos em operações militares. No entanto, a autenticidade dessas imagens ainda não foi confirmada por observadores independentes. Em nota, o governo dos Emirados Árabes Unidos negou todas as acusações, classificando-as como “infundadas” e parte de “tentativas de atrapalhar o processo de paz”.
O conflito no Sudão ganhou ainda mais complexidade em 6 de março de 2025, quando o país levou o caso ao Tribunal Internacional de Justiça (CIJ), acusando os EAU de violar a Convenção de Genocídio ao apoiarem a RSF em ataques contra a etnia Masalit em Darfur. Porém, em 5 de maio, o CIJ rejeitou o pedido de medidas emergenciais por entender que não tinha jurisdição para o caso.
Após essa decisão, o Conselho de Defesa do Sudão anunciou o rompimento das relações diplomáticas com os Emirados Árabes Unidos, decisão que Abu Dhabi não reconhece.
Motivações Geopolíticas
Especialistas apontam que os Emirados Árabes Unidos têm interesses estratégicos claros no Sudão. A região do Mar Vermelho é crucial para o comércio global e para o transporte de energia. O apoio à RSF poderia permitir aos EAU ampliar sua influência sobre essa rota vital.
Segundo o analista de segurança internacional, Dr. Michael Eisenstadt, do Washington Institute for Near East Policy, “o uso de mercenários permite aos Emirados manterem uma presença militar indireta, com menor exposição diplomática e riscos internacionais”.
Além disso, o Sudão é alvo de investimentos em infraestrutura e agronegócio por empresas dos Emirados. A instabilidade pode favorecer condições contratuais mais vantajosas para essas companhias.
Impactos Regionais
A intensificação da presença de mercenários estrangeiros exacerba a violência em Darfur e ameaça a estabilidade dos países vizinhos, como Chade e Eritreia. Organizações internacionais, como a Human Rights Watch, alertam para o aumento dos riscos de crimes de guerra e violações dos direitos humanos no conflito sudanês.
Até o momento, a comunidade internacional permanece cautelosa, adotando uma postura diplomática reservada diante das denúncias.
Conclusão
A acusação do Sudão contra os Emirados Árabes Unidos expõe a complexidade dos interesses externos nos conflitos africanos. A utilização de mercenários representa uma estratégia geopolítica delicada, que agrava o sofrimento da população local e dificulta os esforços de paz. A continuidade dessa situação dependerá da atuação dos atores internacionais e da transparência dos governos envolvidos.
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