Divisão entre EUA e Europa sobre a UNIFIL no Líbano: estabilidade em risco

Soldado da ONU da UNIFIL observa a fronteira sul do Líbano usando binóculos, com veículo blindado da ONU ao fundo.
Um soldado da UNIFIL monitora a fronteira sul do Líbano, garantindo a estabilidade na região sob mandato da ONU. Foto: UNIFIL/Haidar Fahs.

A missão das Nações Unidas no Líbano (UNIFIL), presente no sul do país desde 1978, volta ao centro de um impasse diplomático. De um lado, os Estados Unidos defendem o encerramento gradual da operação, alegando custos excessivos e ineficácia. Do outro, europeus como França, Reino Unido e Itália insistem em sua prorrogação, vendo nela um elemento-chave para conter a escalada do Hezbollah e evitar uma nova guerra com Israel.

O mandato expira em 31 de agosto de 2025, e a decisão do Conselho de Segurança da ONU pode redefinir não apenas o futuro da missão, mas também o equilíbrio de forças no Oriente Médio.

Breve histórico da UNIFIL (1978–2025)

  • 1978 – Criada após a invasão israelense ao Líbano (Operação Litani), com a missão de supervisionar a retirada de tropas e apoiar o governo libanês.
  • 2000 – Israel se retira do sul do Líbano; a UNIFIL passa a monitorar a chamada Linha Azul, fronteira de fato entre os dois países.
  • 2006 – Após a guerra entre Israel e Hezbollah, a Resolução 1701 expande o mandato da UNIFIL, permitindo até 15 mil peacekeepers e estreita coordenação com o Exército Libanês (LAF).
  • 2010–2020 – A missão se estabiliza com cerca de 10–11 mil soldados de 40 países, mantendo operações de patrulha, monitoramento de violações e apoio humanitário.
  • 2025 – Apesar de reduzir tensões, a UNIFIL enfrenta críticas por não conter o rearmamento do Hezbollah e por custos considerados altos em relação aos resultados.

O impasse diplomático atual

  • EUA: defendem cortes drásticos ou o fim da missão. Argumentam que a UNIFIL não impede a presença militar do Hezbollah e custa caro aos cofres americanos.
  • Europa: propõe a prorrogação por 12 meses, sem prazo fixo de término. França, Itália e Reino Unido são os principais contribuintes em tropas, e veem a missão como indispensável para a estabilidade regional.
  • Líbano: solicitou formalmente a renovação por mais um ano (até agosto de 2026), destacando a fragilidade do Exército Libanês para assumir a segurança sozinho.
  • ONU: insiste que, embora limitada, a missão continua sendo um freio contra escaladas e um canal de comunicação entre as partes.

Quanto custa a UNIFIL e quem participa?

Indicador (2025)Valor aproximado
Orçamento anualUS$ 500 milhões (Security Council Report)
Contribuição dos EUA~ 27% (US$ 135 milhões) (AP News)
Número de peacekeepers~ 10.200 militares + civis (ONU)
Principais contribuintes em tropasItália (~1.000), França (~700), Indonésia (~1.200), Nepal (~900), Gana (~850), Índia (~800), Irlanda (~340) (UNIFIL)
Contribuição europeia total~ 30% das tropas (Security Council Report)

Cenários possíveis para o fim de agosto de 2025

Renovação total (12 meses, sem cortes)

  • Prós: garante continuidade das operações, reduz risco imediato de escalada militar, atende ao pedido do governo libanês.
  • Contras: mantém custos elevados; críticas americanas sobre eficácia persistem.

Renovação parcial (com cortes ou ajustes)

  • Prós: reduz orçamento, acomoda parcialmente a pressão dos EUA, mas preserva a presença internacional.
  • Contras: missão pode perder capacidade operacional; Hezbollah e Israel podem explorar lacunas.

Fim da missão

  • Prós: EUA reduzem custos e reafirmam sua política de “não a missões eternas”.
  • Contras: alto risco de confrontos diretos entre Hezbollah e Israel; enfraquecimento do Exército Libanês; perda de canal diplomático multilateral; impacto negativo para a credibilidade da ONU.

Conclusão

O futuro da UNIFIL é um teste para o multilateralismo. Para os EUA, trata-se de uma operação onerosa que não atinge seus objetivos estratégicos. Para a Europa e o Líbano, é um instrumento ainda essencial para evitar uma guerra aberta.

Seja prorrogada, reduzida ou encerrada, a decisão de agosto de 2025 será um divisor de águas: ou a ONU reafirma seu papel de estabilização no Oriente Médio, ou a segurança da região ficará mais dependente da lógica militar e das disputas entre Hezbollah e Israel — um cenário de alto risco para o Líbano e para a paz regional.

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