
Durante a próxima visita do primeiro-ministro indiano Narendra Modi ao Japão (29–31 de agosto), será anunciado um pacote de investimentos de 10 trilhões de ienes (≈ US$ 68 bilhões) ao longo de uma década. A meta é atualizar o compromisso anterior de 5 trilhões de ienes em cinco anos, estabelecido em 2022.
Setores estratégicos em destaque
Os investimentos se concentrarão fundamentalmente em:
- Semicondutores: fortalecimento de uma cadeia de suprimentos resiliente com transferência tecnológica japonesa;
- Minerais críticos: como lítio e cobalto, vitais para baterias e energias renováveis, reduzindo a dependência de fornecedores chineses;
- Telecomunicações e infraestrutura digital: integrados à nova Economic Security Initiative;
- IA: lançamento de um AI Cooperation Initiative dedicado ao desenvolvimento tecnológico e ecossistemas de startups;
- Digital Partnership 2.0: ampliando o escopo além da manufatura para inovação tecnológica;
- Energia limpa, farmacêuticos e saúde: com enfoque em sustentabilidade e resiliência produtiva.
Histórico de cooperação Índia–Japão
A iniciativa se insere numa trajetória de parcerias marcantes. Um dos exemplos mais emblemáticos é o projeto ferroviário de alta velocidade Mumbai–Ahmedabad, conhecido como o “trem-bala indiano”, financiado majoritariamente pelo Japão. Essa cooperação em infraestrutura pesada mostra como Tóquio e Nova Délhi vêm construindo confiança mútua e experiências de integração industrial e tecnológica.
Geopolítica: Indo-Pacífico e nova dinâmica regional
Esse movimento reflete a ambição conjunta de Índia e Japão de consolidar uma visão de um Indo-Pacífico livre e aberto, como resposta à crescente influência da China. Além disso, a Índia superou o Japão como destino preferencial para investimentos em toda a Ásia, segundo o Bank of America e outras fontes.
O Japão, por sua vez, mantém posição de liderança em equipamentos para fabricação de chips, com cerca de 30% do mercado global de maquinaria para semicondutores.
Impacto econômico e oportunidades para a Índia
Especialistas estimam que o plano pode acrescentar aproximadamente 0,5 a 0,7 ponto percentual ao crescimento do PIB anual da Índia, por meio de:
- Criação de empregos qualificados em tecnologia avançada;
- Atração de capital privado adicional, reforçada pelo “efeito multiplicador” japonês;
- Fortalecimento da infraestrutura produtiva e logística.
Desafios, legitimidade política e riscos
Apesar da expectativa positiva, há obstáculos relevantes:
- A complexidade regulatória interna na Índia pode atrasar implementações;
- A competição com a China seguirá intensa, especialmente em setores como semicondutores e energia limpa;
- O anúncio ainda depende de aprovação legislativa no Japão e da criação de mecanismos práticos de implementação na Índia — o que indica que não se trata de um compromisso automático, mas de uma meta sujeita a negociações políticas e orçamentárias.
Impacto global nas cadeias de suprimentos
Para além do bilateralismo, esse megainvestimento pode redefinir cadeias globais de suprimento de tecnologia, conectando Índia, Japão, Estados Unidos e países europeus em um novo ecossistema de semicondutores, minerais estratégicos e IA. Ao diversificar centros de produção, reduz-se o risco de dependência excessiva de Taiwan e China — um tema central para a segurança econômica mundial.
O que esperar nos próximos meses
- Estão previstas assinaturas de memorandos de entendimento setoriais e avanços legais para financiamento público e privado já a partir de 2026;
- Espera-se que o anúncio oficial inclua mecanismos de seguimento intergovernamental e cooperação empresarial;
- As negociações também deverão alinhar metas específicas de curto prazo, especialmente no fornecimento de minerais críticos e semicondutores.
Conclusão
O plano japonês de 10 trilhões de ienes à Índia reforça a parceria emergente entre as duas nações. Trata-se de uma aliança não apenas econômica, mas estratégica, que pode transformar o equilíbrio de poder e inovação na Ásia — e, por extensão, no mundo — na próxima década.
Faça um comentário