
No início da TICAD 9, o primeiro‑ministro japonês Shigeru Ishiba anunciou a criação da “Indian Ocean–Africa Economic Zone”, uma ambiciosa iniciativa que visa conectar economicamente a África aos países do Oceano Índico e fortalecer cadeias de fornecimento regionais, num contexto de diminuição da influência dos EUA e ascensão da presença chinesa no continente.
Financiamento e capacitação
- Empréstimos de até US$ 5,5 bilhões, coordenados com o Banco Africano de Desenvolvimento (AfDB), para apoiar o desenvolvimento sustentável na África e aliviar o endividamento local.
- Treinamento de 30 000 especialistas em IA em três anos, com foco em digitalização e criação de empregos no continente.
- Financiamento adicional ao Quênia: 25 bilhões de ienes (~US$ 169 milhões) via mecanismos “samurai” para setores como montagem de automóveis e energia, parte dos acordos firmados em TICAD 9.
Parceria consolidada com o AfDB
- O Japão coopera com o AfDB desde 1973, sendo cofinanciador de cerca de US$ 9 bilhões em projetos africanos através do EPSA.
- A existência de um escritório estratégico do AfDB em Tóquio facilita a integração de investimentos asiáticos na África e reforça a implementação do novo plano.
Setores específicos beneficiados
A zona econômica proposta tem potencial de impactar vários setores estratégicos africanos:
- Energia: expansão de redes elétricas, energias renováveis e eficiência energética.
- Transportes e logística: portos, ferrovias e infraestrutura de transporte regional, com destaque para integração com rotas do Oceano Índico.
- Tecnologia e digitalização: capacitação em IA, software e serviços digitais, promovendo modernização de indústrias locais.
- Manufatura e industrialização: montagem de veículos, produção de materiais industriais e fortalecimento de clusters regionais para exportação.
Visão estratégica e geopolítica
- O projeto serve como pilar da estratégia FOIP (Free and Open Indo‑Pacific), expandindo a presença japonesa no Global South e fortalecendo a integração econômica do Índico com a África.
- O apoio à Área Continental de Livre Comércio Africana (AfCFTA) reforça o compromisso de Tóquio com a competitividade e autonomia africana.
Impacto esperado e transformação digital
- A digitalização e o treinamento em IA podem impulsionar a industrialização africana, a profissionalização da mão de obra e a integração global das cadeias produtivas.
- O modelo de ação — público-privada e multissetorial — oferece alternativa aos tradicionais investimentos em infraestrutura de outros atores globais.
Riscos e críticas
Embora promissor, o plano enfrenta desafios e resistências potenciais:
- Burocracia e coordenação multilateral: diferentes níveis de governo africano e japonês podem atrasar a implementação.
- Adaptação tecnológica: países africanos podem ter dificuldade em absorver novas tecnologias e práticas de IA rapidamente.
- Riscos políticos: mudanças em governos ou prioridades políticas no Japão ou em países africanos podem reduzir o ritmo ou a escala do projeto.
- Preocupações locais: comunidades podem questionar impactos ambientais, distribuição de empregos e acesso aos benefícios econômicos.
Próximos passos
- A formalização dependerá da Declaração de Yokohama, a ser assinada ao final da conferência.
- A efetividade exigirá parcerias com governos africanos, adaptação às estratégias de comércio regional e absorção da tecnologia nos sistemas locais.
Conclusão
A proposta japonesa de uma zona econômica conectando o Oceano Índico à África, com financiamento robusto e capacitação digital, reforça o papel do Japão como parceiro estratégico de longo prazo no desenvolvimento africano. Setores-chave como energia, transportes, tecnologia e manufatura poderão ser beneficiados, embora desafios políticos, logísticos e tecnológicos ainda precisem ser superados.
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