
A cortiça portuguesa, produto símbolo de sustentabilidade e tradição, acaba de conquistar um espaço estratégico no comércio internacional. Com o novo entendimento comercial entre a União Europeia (UE) e os Estados Unidos (EUA), rolhas e derivados entram na lista de bens isentos de tarifas a partir de 1.º de setembro de 2025. A decisão vai muito além da economia: revela como a diplomacia climática e o comércio verde estão a moldar alianças globais.
Por que a cortiça importa tanto
Portugal é o maior produtor e exportador de cortiça do mundo. Em 2023, o setor faturou cerca de €1,23 mil milhões, sendo que três em cada quatro euros vieram de rolhas. A produção é única: a cortiça é retirada sem cortar o sobreiro, preservando as florestas mediterrânicas e ajudando a capturar carbono. Ou seja, um produto que combina tradição, inovação e sustentabilidade.
Fato rápido: Portugal exportou €1,23 bi em cortiça em 2023 — 75% foram rolhas.
Para os EUA, maiores consumidores de vinho do planeta, isso é estratégico. Sem tarifas adicionais, a cortiça portuguesa fica mais competitiva frente a rolhas plásticas ou metálicas — alternativas menos sustentáveis.
“Esta decisão é um reconhecimento do valor único da cortiça portuguesa e reforça a sua posição como produto sustentável de excelência no mercado internacional,” afirmou João Rui Ferreira, presidente da APCOR, em nota oficial.
Evolução das exportações de cortiça portuguesa de 2019 a 2024.

O que mostra: A linha verde indica o crescimento contínuo das exportações, de €950 milhões em 2019 até €1,3 bilhão em 2024. O ponto de destaque é 2023, com €1,23 bilhão exportados, sendo 75% em rolhas.
Linha do tempo do acordo
- 31 de julho de 2025 – UE e EUA anunciam as bases do novo acordo comercial.
- 21 de agosto de 2025 – Declaração conjunta especifica produtos com tarifas reduzidas ou eliminadas; a cortiça está entre os beneficiados.
- 1.º de setembro de 2025 – Início da aplicação prática do pacote de isenções.
Vale lembrar: enquanto a cortiça ficou isenta, outros produtos europeus enfrentam tarifas. O vinho, por exemplo, terá taxa de 15% ao entrar nos EUA, e os automóveis só terão redução plena quando a UE cumprir contrapartidas.
“O acordo mostra que a Europa pode negociar vantagens estratégicas em setores sustentáveis, ao mesmo tempo que fortalece a parceria transatlântica,” declarou um porta-voz da Comissão Europeia.
Mas nem tudo são flores
- Assimetria no acordo: o vinho europeu paga tarifa, o que pode pressionar produtores.
- Dependência política: algumas reduções (como nos carros) ainda dependem de decisões legislativas em Bruxelas.
- Detalhes técnicos: empresas terão de adaptar-se às novas regras aduaneiras para garantir que a isenção se aplique corretamente.
O sinal político
A decisão de isentar a cortiça não é apenas econômica. É também geopolítica:
- Para os EUA, significa aproximar-se da Europa e dos seus produtos sustentáveis, em tempos de tensão com a China.
- Para a UE, é prova de que pode negociar vantagens em setores estratégicos.
- Para Portugal, é a consagração de um produto tradicional transformado em instrumento de influência internacional.
Conclusão
Com a nova isenção, a cortiça portuguesa ganha mais força no mercado norte-americano e se consolida como um símbolo do comércio verde. Portugal reforça a sua posição global, a União Europeia mostra músculo nas negociações internacionais e os EUA enviam uma mensagem clara: sustentabilidade e competitividade podem andar de mãos dadas.
O sobreiro mediterrânico, árvore resiliente por natureza, acaba de se tornar também uma peça-chave no tabuleiro da geopolítica.
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