União Europeia e Índia intensificam negociações para fechar o Acordo de Livre Comércio até o fim de 2025

Primeiro-ministro da Índia Narendra Modi em reunião com Ursula von der Leyen, presidente da Comissão Europeia, em Nova Deli, com bandeiras da Índia e da União Europeia ao fundo.
Modi se encontra com Ursula von der Leyen em Nova Deli durante negociações de Acordo de Livre Comércio entre Índia e União Europeia.

O diálogo entre a União Europeia (UE) e a Índia entrou em uma fase decisiva. Depois de anos de estagnação, as negociações para um Acordo de Livre Comércio (ALC) ganham novo impulso, com objetivo de concretização até o final de 2025. Com estatísticas atualizadas, contexto estratégico e vozes oficiais, este artigo oferece uma análise aprofundada e jornalística do tema.

Linha do Tempo: Negociações UE–Índia

AnoEvento-chave
2007Início das negociações para um Acordo Abrangente de Comércio e Investimento (BTIA).
2013Após cerca de 12 a 15 rodadas, as tratativas foram suspensas devido às divergências sobre acesso a mercado, propriedade intelectual e regulamentações.
2021No dia 8 de maio, durante o encontro de cúpula, UE e Índia concordaram em retomar oficialmente as negociações, incluindo pilares como investimento e indicações geográficas.
2022Retomada efetiva das negociações em meados do ano, em meio a novo contexto geopolítico com foco estratégico no Indo-Pacífico.
2025Intensificação das negociações: a 13ª rodada está programada para ocorrer em Nova Délhi entre 8 e 12 de setembro. Ambas as partes reforçam compromisso para fechar o ALC até o fim do ano.

Panorama Comercial Atual

  • Comércio de bens (2023–24): Entre UE e Índia movimentaram €120 bilhões (≈ US$ 141,6 bilhões), o que representa cerca de 11,5% do comércio total indiano.
  • Outra fonte registra €124 bilhões em bens em 2023, com serviços chegando a quase €60 bilhões.
  • Dados adicionais mostram que comércio de serviços em 2023 entre os dois chegou a €59,7 bilhões, com déficit para a UE de €7,9 bilhões.
  • Em termos globais, o comércio total entre os dois blocos chegou a US$ 137,5 bilhões no ano fiscal 2023–24, um salto de aproximadamente 90% na última década.

Exportações e Setores Relevantes

  • A UE importa principalmente da Índia: maquinários, aparelhos, produtos químicos, metais, minerais e têxteis. A Índia compra da UE: máquinas, equipamentos de transporte e produtos químicos.
  • Setores-chave em jogo nas negociações: automóveis, bebidas alcoólicas, produtos farmacêuticos, têxteis, produtos agrícolas, além de serviços digitais e propriedade intelectual.

Vozes Oficiais

  • Comissária Europeia Ursula von der Leyen afirmou durante visita a Nova Délhi: “Este será o maior acordo de seu tipo em qualquer lugar do mundo… Tempo e determinação contam, e esta parceria chega no momento certo.”
    Reforço do comprometimento em concluir o acordo até o fim de 2025.
  • Ministro do Comércio indiano Piyush Goyal destacou que as negociações foram retomadas após longos anos e agora apresentam “avançaram rapidamente”, com a rodada de setembro sendo decisiva.
  • Sobre os pontos de conflito, as partes discutem tarifas entre 100% a 150% sobre carros, vinhos e uísques, bem como regras do WTO, proteções regulatórias, questões de sustentabilidade e movimento de profissionais.

Impacto Geopolítico e Estratégico

O momento geopolítico favorece a retomada das negociações:

  • A UE busca reduzir dependência da China e fortalecer alianças com democracias emergentes na Ásia.
  • Para a Índia, o ALC representa não apenas ganhos econômicos, mas também reforço de seu papel estratégico global — especialmente em meio a tensões comerciais com os EUA.
  • As negociações também incluem pilares tecnológicos, de defesa e conectividade, ampliando o alcance além do puro comércio.

Cenários Futuros: para onde pode caminhar o acordo?

Apesar do otimismo demonstrado por Bruxelas e Nova Délhi, especialistas apontam que o processo de negociação ainda pode seguir diferentes rumos nos próximos meses. Entre os cenários possíveis, destacam-se:

Acordo fechado até o fim de 2025

Este é o objetivo político declarado por ambas as partes. Um fechamento bem-sucedido consolidaria o maior acordo comercial já firmado pela União Europeia em termos de população abrangida. Para a Índia, seria um marco histórico, reforçando sua imagem como potência econômica emergente e parceira estratégica do Ocidente.

Prorrogação para 2026

Caso os impasses sobre tarifas agrícolas, automóveis e serviços digitais não sejam resolvidos a tempo, o mais provável é uma extensão das negociações para 2026. Embora represente atraso, não significaria fracasso — apenas um ajuste ao ritmo da diplomacia e às pressões internas em cada lado.

Impasse definitivo

O cenário menos desejado, mas ainda possível, é o de colapso das negociações, repetindo o que ocorreu em 2013. Pressões de agricultores indianos, sindicatos europeus e disputas sobre propriedade intelectual podem inviabilizar um consenso. Um impasse definitivo seria visto como retrocesso estratégico e enfraqueceria a capacidade da UE de firmar grandes acordos globais em meio à competição geopolítica.

Conclusão

O Acordo de Livre Comércio UE–Índia representa um momento decisivo para o comércio global, com potencial para redesenhar fluxos econômicos, reforçar parcerias estratégicas e influenciar geopolítica no Indo-Pacífico. Ao mesmo tempo, os desafios internos e divergências técnicas continuam sendo obstáculos importantes, tornando o fechamento do acordo um processo que exige negociação firme, estratégia e diplomacia de alto nível.

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