
A guerra em Gaza entrou em uma nova e dramática fase nesta terça-feira (16), quando Israel lançou a ofensiva terrestre mais abrangente desde o início do conflito atual, avançando com tropas e blindados para o coração da Cidade de Gaza. A escalada ocorre após meses de bombardeios aéreos e marítimos e sob a crescente pressão internacional diante da devastação humanitária e das acusações de crimes de guerra.
A “fase principal” da ofensiva
De acordo com o Exército de Defesa de Israel (IDF), a operação marca a “fase principal” do plano de combate ao Hamas na Cidade de Gaza. Tropas de pelo menos duas divisões já avançam por áreas centrais, enquanto novas unidades estão em mobilização para se unir à ofensiva. O governo israelense afirma que entre 2.000 e 3.000 combatentes do Hamas ainda se encontram dentro da cidade, tornando-a o último grande bastião urbano da organização.
Autoridades militares israelenses pediram que civis evacuassem imediatamente a região, instruindo a população a deslocar-se para áreas ao sul da Faixa de Gaza. A ordem, no entanto, é de difícil execução para milhares de palestinos que permanecem presos entre os combates e a destruição da infraestrutura local.
O impacto humanitário
A ofensiva intensificou o drama vivido pela população civil. Longas colunas de deslocados deixam a Cidade de Gaza em direção ao sul e ao oeste, em meio a relatos de falta de alimentos, água potável, medicamentos e abrigo seguro. Hospitais já sobrecarregados tentam lidar com o fluxo contínuo de feridos, enquanto estruturas médicas também são afetadas indiretamente pelos combates.
Segundo a ONU, a situação em Gaza atingiu níveis “catastróficos”, com centenas de milhares de pessoas sem acesso a condições mínimas de sobrevivência. Em um relatório recente, investigadores independentes acusaram Israel de cometer atos que poderiam configurar genocídio. O governo israelense rejeitou as conclusões, chamando o documento de “tendencioso e falso”.
Reações internacionais e regionais
O início da ofensiva terrestre gerou fortes repercussões diplomáticas. Países árabes e muçulmanos condenaram duramente Israel, com destaque para o Qatar, após o ataque aéreo israelense em Doha que teria mirado lideranças do Hamas. O Egito também criticou as ações de Tel Aviv, afirmando que elas comprometem quaisquer chances de novos tratados de paz na região.
Nos Emirados Árabes Unidos, o presidente Mohammed bin Zayed intensificou sua tournée pelo Golfo, buscando coordenação regional em resposta à escalada. Para analistas, a movimentação revela preocupação entre os vizinhos árabes com o risco de o conflito se expandir além de Gaza.
Nos Estados Unidos, o secretário de Estado Marco Rubio reiterou que reconhecer um Estado Palestino neste momento poderia fortalecer o Hamas e dificultar negociações futuras. Sua declaração reforça a posição de Washington de manter apoio político e militar a Israel, ao mesmo tempo em que tenta preservar canais diplomáticos com mediadores como o Qatar.
Entre a estratégia militar e a política
O avanço terrestre israelense reflete tanto um cálculo estratégico quanto político. Para o governo de Benjamin Netanyahu, a destruição das capacidades militares do Hamas na Cidade de Gaza é vista como essencial para a segurança de Israel e para a própria sobrevivência política do premiê, cada vez mais pressionado por protestos internos e por críticas à condução da guerra.
No entanto, especialistas alertam que o custo humanitário e diplomático pode se tornar insustentável. A imagem internacional de Israel já sofre desgaste profundo, enquanto a acusação de genocídio na ONU aumenta a pressão por investigações e possíveis responsabilizações jurídicas futuras. Além disso, a ofensiva pode fortalecer facções extremistas na região, dificultando qualquer perspectiva de solução política duradoura.
Conclusão
A invasão terrestre da Cidade de Gaza marca um ponto de inflexão no conflito israelo-palestino. Israel busca eliminar a infraestrutura militar do Hamas, mas o preço em vidas civis e a destruição generalizada levantam sérias questões sobre proporcionalidade e legalidade. Enquanto Tel Aviv aposta em uma vitória militar, cresce o temor de que o prolongamento da guerra apenas amplifique a tragédia humanitária e complique ainda mais qualquer possibilidade de paz.
O futuro da região dependerá não apenas do desfecho dessa ofensiva, mas também da capacidade da comunidade internacional em pressionar por soluções políticas que transcendam a lógica da guerra e ofereçam, finalmente, perspectivas reais de estabilidade para israelenses e palestinos.
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