
A maior feira de defesa de Taiwan, realizada em Taipé, trouxe este ano uma novidade significativa: a presença reforçada da Europa no setor de segurança da ilha, em um momento de crescente pressão militar e diplomática da China.
Tradicionalmente dependente dos Estados Unidos para aquisição de armamentos, Taiwan evitou durante três décadas compras substanciais da Europa, temendo represálias de Pequim. No entanto, a conjuntura internacional, marcada pela guerra na Ucrânia e pela intensificação da rivalidade entre Washington e Pequim, alterou o cenário.
Alemanha e República Tcheca ganham destaque
Pela primeira vez, o Escritório de Comércio da Alemanha em Taipé participou oficialmente da exposição, apresentando avanços nas áreas de segurança e aeroespacial. A Airbus, gigante europeia, fez sua estreia com um drone tático voltado para missões de inteligência, além de helicópteros de uso multifuncional.
O ministro da Defesa de Taiwan, Wellington Koo, visitou o pavilhão da República Tcheca e se reuniu com o senador Pavel Fischer, que destacou o dilema da ilha frente à pressão chinesa. Fischer declarou: “Taiwan enfrenta uma situação de risco existencial, e a Europa tem responsabilidade em mostrar solidariedade”.
O gesto simboliza o fortalecimento de laços entre países da Europa Central e Oriental com Taiwan, especialmente desde a invasão russa da Ucrânia em 2022 — evento que fez crescer a percepção de riscos compartilhados entre Pequim e Moscou.
O peso estratégico da aproximação europeia
Embora ainda haja cautela entre várias capitais europeias, a disposição em se aproximar de Taiwan tem crescido. O ministro das Relações Exteriores taiwanês, Lin Chia-lung, intensificou visitas a cidades europeias, refletindo maior confiança para interações oficiais com o continente.
Além disso, o Reino Unido já participa de maneira prática ao ajudar Taiwan a construir seus primeiros submarinos de fabricação local, um projeto crucial para reforçar a capacidade de dissuasão marítima diante da expansão naval chinesa.
Contexto global e riscos calculados
O envolvimento europeu ocorre em um momento delicado. A China continua a afirmar que Taiwan é parte de seu território e reage de forma agressiva a qualquer sinal de apoio externo à ilha. Como destaquei em China reafirma soberania sobre Taiwan em demonstração de firmeza diplomática e militar, Pequim considera tais gestos como interferência em seus assuntos internos e ameaça com medidas diplomáticas e econômicas.
Por outro lado, empresas e governos europeus enxergam oportunidades estratégicas e comerciais. Um executivo de fabricante de drones taiwanês destacou: “A situação global mudou. Antes, era impossível pensar em cooperação com a Europa. Agora, ela está acontecendo”.
Conexão entre os conflitos
A guerra na Ucrânia serviu como catalisador para que muitos países europeus percebessem paralelos entre a agressividade russa e a postura da China no estreito de Taiwan. Essa analogia reforça a visão de que o futuro da segurança europeia também pode estar vinculado ao equilíbrio de poder no Indo-Pacífico.
Conclusão
A presença reforçada da Europa na feira de defesa de Taiwan sinaliza uma mudança gradual, mas estratégica, no equilíbrio de forças internacionais. Ainda que limitada diante do protagonismo norte-americano, a participação europeia mostra que a ilha não está isolada — e que, na disputa entre democracia e autoritarismo, o continente europeu tende a desempenhar um papel cada vez mais ativo, mesmo correndo riscos diplomáticos com Pequim.
Até que ponto a Europa estará disposta a enfrentar pressões de Pequim em nome da defesa de Taiwan?
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