Trump critica políticas europeias de imigração e clima em discurso na ONU

Presidente Donald Trump embarcando em helicóptero oficial a caminho da Assembleia Geral da ONU
Donald Trump embarca no helicóptero oficial em direção à Assembleia Geral das Nações Unidas, em Nova Iorque.

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, voltou a direcionar fortes críticas à União Europeia durante seu discurso na 80ª Assembleia Geral da ONU, em Nova Iorque. Em uma fala marcada por tom nacionalista e confrontativo, Trump acusou as políticas de imigração e de enfrentamento às mudanças climáticas adotadas pelos países europeus de estarem “arruinando” o continente, enfraquecendo sua cultura e colocando em risco a estabilidade social e econômica.

A retórica contra a imigração

Trump reafirmou uma de suas principais bandeiras políticas: o endurecimento contra a imigração. Segundo ele, a política de fronteiras abertas implementada por países europeus ao longo da última década estaria “destruindo o patrimônio cultural” do continente e favorecendo a ascensão da insegurança.

Esse discurso não é novo. Durante sua primeira presidência (2017–2021), Trump já havia criticado duramente a chanceler alemã Angela Merkel por sua política de acolhimento a refugiados, especialmente durante a crise migratória de 2015. Em 2019, chegou a afirmar que a Europa estava “perdendo sua identidade” devido à entrada de migrantes. Agora, em 2025, ele retoma essa narrativa em escala global.

De acordo com dados do Eurostat, a União Europeia recebeu cerca de 3,5 milhões de solicitações de asilo entre 2015 e 2022, com destaque para refugiados sírios, afegãos e, mais recentemente, ucranianos após a invasão russa. Para defensores da integração, esses números representam tanto um desafio humanitário quanto uma oportunidade de renovação demográfica em sociedades europeias envelhecidas.

Críticas à agenda climática europeia

Outro alvo de Trump foi a política climática da União Europeia, frequentemente vista como uma das mais ambiciosas do mundo. O presidente norte-americano declarou que os investimentos maciços em energias renováveis e transição verde “sacrificam empregos, encarecem a energia e colocam a indústria em desvantagem competitiva”.

As declarações contrastam com a posição da Comissão Europeia, que anunciou recentemente que pretende apresentar novas metas climáticas antes da COP30, no Brasil. Para Bruxelas, o fortalecimento da agenda ambiental é estratégico tanto para a redução das emissões globais quanto para a liderança geopolítica da Europa.

Estudos da Agência Europeia do Ambiente indicam que o setor de energia renovável gerou cerca de 1,7 milhão de empregos diretos e indiretos na UE em 2023, e que a transição verde tem potencial de expandir esse número significativamente até 2030. Para organizações ambientais, portanto, a crítica de Trump ignora os benefícios econômicos da transição.

Repercussão no bloco europeu

Líderes da União Europeia reagiram com cautela às falas de Trump. O presidente do Conselho Europeu, António Costa, declarou que as relações transatlânticas estão passando por uma fase de “estabilização” e que, apesar das divergências, há espaço para cooperação em temas como a defesa da Ucrânia e o comércio internacional.

ONGs e especialistas em migração, no entanto, lembraram que a narrativa que associa imigração a insegurança tem sido amplamente contestada por estudos acadêmicos. Pesquisas recentes apontam que a criminalidade não aumentou proporcionalmente ao fluxo migratório e que, em muitos países, imigrantes contribuem de forma positiva para o mercado de trabalho e para a manutenção dos sistemas de previdência social.

Impactos geopolíticos

As críticas de Trump não são apenas retóricas. Elas refletem uma disputa maior pela definição de prioridades no cenário internacional. Enquanto os EUA priorizam segurança de fronteiras, reindustrialização e competitividade, a União Europeia busca se projetar como defensora do multilateralismo, do clima e dos direitos humanos.

Esse choque de agendas tem potencial para reconfigurar a cooperação internacional, em especial na ONU e na Organização Mundial do Comércio. Além disso, especialistas alertam que a insistência de Trump em associar imigração a insegurança pode fortalecer narrativas semelhantes dentro da Europa, beneficiando partidos de extrema-direita em ano eleitoral em países-chave.

Um teste para a Europa

O discurso de Trump surge em um momento delicado para o continente europeu. A economia da zona do euro dá sinais de desaceleração, a instabilidade política na França continua a preocupar mercados e a crise migratória no Mediterrâneo persiste. Ao mesmo tempo, a União Europeia tenta manter sua posição de liderança climática às vésperas da COP30.

Diante disso, a fala do presidente norte-americano representa mais um teste para a coesão interna da Europa. Se por um lado desafia os líderes do bloco a defenderem sua agenda, por outro reforça pressões internas que podem enfraquecer o projeto europeu de integração.

Conclusão

O discurso de Donald Trump na Assembleia Geral da ONU funciona tanto como um espelho quanto como um detonador: espelha divergências profundas entre visões concorrentes sobre migração, clima e competitividade econômica; e, ao mesmo tempo, pode detonar efeitos políticos e diplomáticos na Europa. As críticas diretas às políticas de abertura e à transição verde põem em evidência um dilema central para os governos europeus: conciliar respostas eficazes a preocupações legítimas de segurança e emprego, sem renunciar a compromissos com direitos humanos, coesão social e liderança climática.

As consequências práticas dependem agora da reação do bloco — se a União Europeia reforçará sua narrativa multilateral e climática, se adotará medidas internas para responder às ansiedades sociais, ou se abrirá espaço para agendas mais restritivas impulsionadas por forças populistas. Especialistas, ONGs e dados econômicos terão papel decisivo para desmontar narrativas simplistas e orientar políticas públicas baseadas em evidência.

Em última instância, a fala de Trump representa um teste para a resiliência europeia: a forma como as instituições, partidos e a sociedade civil responderem a esse desafio dirá muito sobre a capacidade do continente de preservar sua coesão interna e seu papel no palco internacional nas próximas semanas e meses.

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