Alemanha pede maior protagonismo europeu após mudança de postura de Trump sobre a Ucrânia

Ministro alemão Johann Wadephul reunido com a Presidente da Comissão Europeia Ursula von der Leyen em Bruxelas, sentados em sofás, conversando de forma séria em um ambiente de escritório.
Johann Wadephul se reúne com Ursula von der Leyen em Bruxelas para discutir cooperação europeia e relações transatlânticas, 30 de abril de 2025.

A política europeia em relação à guerra na Ucrânia entrou em um novo capítulo depois que o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, surpreendeu a comunidade internacional ao apoiar publicamente a recuperação de todo o território ucraniano perdido desde 2014. A mudança de tom em Washington, celebrada por Kiev, levou o governo alemão a pedir que a Europa assuma um papel mais ativo e estratégico na condução da resposta ao conflito.

Uma guinada inesperada em Washington

Desde sua volta ao poder em janeiro de 2025, Donald Trump vinha sinalizando uma postura ambígua em relação à Ucrânia. Por um lado, defendia cortes nos gastos militares norte-americanos no continente europeu e criticava o que chama de “dependência excessiva” dos aliados em relação a Washington. Por outro, mantinha apoio político a Kiev, ainda que sem comprometer novos pacotes bilionários de ajuda.

A declaração recente marcou uma virada. Trump afirmou que a Ucrânia deve “retomar tudo o que lhe pertence, sem concessões territoriais à Rússia”, deixando claro que, em sua visão, não pode haver acordo de paz baseado em perda de soberania. Além disso, o presidente norte-americano provocou Moscou ao dizer que a Rússia se tornou um “tig­re de papel” e que estaria “lutando sem rumo”, apesar de manter aparências de força. Essas falas reforçaram a percepção de que Washington não pretende suavizar sua posição frente ao Kremlin.

Reação da Ucrânia

O presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, reagiu positivamente às declarações de Trump. Em entrevistas recentes, ele expressou surpresa, mas considerou a posição do presidente dos EUA como um “sinal positivo”. Zelensky destacou que Trump demonstrou um apoio mais firme à Ucrânia, o que indica que os Estados Unidos estarão ao lado do país até o fim da guerra. Ele também comentou que Trump pode influenciar outros líderes globais, como o presidente chinês Xi Jinping, a reavaliar suas posições em relação à guerra da Rússia na Ucrânia. Zelensky enfatizou que qualquer futuro acordo de paz não poderá incluir concessões territoriais, alinhando-se à nova postura de Trump.

A reação de Berlim

O governo alemão, tradicionalmente cauteloso em temas de segurança, respondeu com firmeza. Porta-vozes em Berlim destacaram que a Europa não pode depender das oscilações da política norte-americana e precisa construir sua própria capacidade de resposta. Para a Alemanha, isso inclui ampliar a ajuda militar e econômica à Ucrânia, coordenar esforços diplomáticos mais robustos e investir na indústria de defesa do bloco.

O chanceler alemão afirmou que “o destino da Ucrânia é também o destino da Europa”, sublinhando que a guerra ameaça diretamente a segurança continental e exige protagonismo europeu. A mensagem foi clara: com os Estados Unidos redefinindo prioridades, a União Europeia deve demonstrar independência estratégica.

Impacto na União Europeia

O posicionamento alemão reacende debates internos no bloco. Países da Europa Central e Oriental — como Polônia e Estados Bálticos — há muito pedem maior firmeza contra Moscou e veem a nova postura dos EUA como alinhada às suas preocupações. Já membros como Hungria e Eslováquia mantêm reservas quanto ao envio de armamentos pesados e preferem uma solução negociada.

Bruxelas enfrenta, portanto, um dilema: fortalecer a unidade europeia diante de uma Rússia cada vez mais agressiva, sem deixar que divisões internas minem a credibilidade do bloco. A Alemanha, como maior economia da UE, assume papel central nesse equilíbrio.

Rússia observa com cautela

Em Moscou, a mudança de discurso de Trump foi recebida com desconfiança. A imprensa russa sugeriu que se trata de uma “tática de barganha” para obrigar Kiev a adotar posições mais flexíveis em futuras negociações. O Kremlin, no entanto, reforçou sua retórica, afirmando que “qualquer tentativa de retomar territórios será respondida de forma decisiva”.

Além disso, o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, reagiu diretamente às declarações de Trump. Ele rejeitou a afirmação de que a Rússia estaria em dificuldades econômicas ou militarmente enfraquecida, dizendo que essas observações distorcem a realidade. Em resposta à comparação feita por Trump, Peskov ironizou: “não há ursos de papel; a Rússia é um urso real”. Ele ainda ressaltou que a economia russa segue estável, apesar das sanções, e que a operação militar é conduzida de forma planejada para preservar recursos e minimizar perdas. Segundo Peskov, o chanceler Sergei Lavrov deverá consolidar essa posição nas próximas negociações diplomáticas com os EUA.

O peso da reconstrução e da segurança

Além da questão militar, está em jogo o futuro da reconstrução ucraniana e a redefinição do papel europeu no sistema internacional. Economistas alertam que o custo da guerra já ultrapassa centenas de bilhões de euros e que somente uma coordenação global poderá sustentar a recuperação de longo prazo.

Para a Alemanha, assumir protagonismo não significa apenas enviar tanques ou sistemas de defesa aérea, mas também liderar uma coalizão econômica e política capaz de garantir estabilidade após o fim do conflito.

Conclusão

A guinada de Donald Trump ao apoiar a retomada total do território ucraniano reposiciona o debate sobre a guerra e coloca a Europa diante de uma escolha estratégica. A resposta alemã evidencia a consciência de que, independentemente da política em Washington, o continente precisa assumir mais responsabilidades.

Nesse novo tabuleiro, a União Europeia pode sair fortalecida se conseguir unir esforços e mostrar capacidade de liderança global. Caso contrário, corre o risco de permanecer refém de decisões externas e exposta às incertezas de uma guerra que continua a moldar o futuro da ordem internacional.

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