
Na quarta-feira, 21 de maio de 2025, durante a cerimônia de lançamento de um destróier de 5.000 toneladas no porto de Chongjin, o líder norte-coreano Kim Jong Un presenciou o tombamento lateral da embarcação. Em raro reconhecimento público, ele qualificou o incidente como um “ato criminoso” causado por “descaso absoluto” e “empirismo não científico” e determinou que o navio fosse restaurado antes da reunião do Partido, em junho.
Detalhes do Acidente
- Método de lançamento: o navio foi submetido a um side-launch, técnica de custo reduzido usada quando faltam rampas inclinadas ou docas secas.
- Mecanismo da falha: o carro-suporte da popa deslizou prematuramente, desalinhou o equilíbrio e esmagou seções do fundo do casco, deixando o destróier tombado de lado.
- Consequências imediatas: embora não haja relatos oficiais de vítimas, a Marinha sul-coreana confirmou que o navio permanece parcialmente submerso com os tubos de mísseis expostos.
Box Explicativo: Lançamento Lateral (Side-Launch)
O que é? Uma manobra em que o navio é empurrado lateralmente sobre trilhos ou carretéis alinhados à água.
Vantagens: requer menos infraestrutura, reduz custos de construção de rampas inclinadas ou docas secas.
Riscos: exige controle preciso de velocidade e equilíbrio; qualquer desalinhamento pode provocar tombamento ou danos graves ao casco.
Comparação Técnica de Destróieres
Classe / Marinha | Deslocamento | Sistema de Mísseis | Método de Lançamento |
---|---|---|---|
Choe Hyon (Coreia do Norte) | ~5.000 t (full load) | VLS táticos e de cruzeiro | Side-launch sem doca seca |
KDX-II (Coreia do Sul) | 5.500 t (std) / 6.520 t | 32 células Mk 41 VLS (SM-2), RAM, Harpoon | Rampa inclinada em estaleiro |
Atago (Japão) | 7.700 t (std) / 10.000 t | Aegis SPY-1D, 96 células Mk 41 VLS (SM-2/SM-3) | Docas secas ou slipway dedicado |
Type 052D (China) | 7.500 t (full load) | 64 VLS (HHQ-9, YJ-18, CIWS Type 730) | Docas secas, rampas especializadas |
Explicação dos termos técnicos usados na comparação de destróieres:
- Docas secas: são estruturas onde o navio pode ser colocado para reparos ou construção em ambiente seco. Basicamente, a doca é fechada e a água é drenada, deixando o casco do navio exposto para inspeção, manutenção ou montagem detalhada, com alta precisão. Elas permitem maior controle e segurança na construção de embarcações grandes.
- Rampas inclinadas em estaleiro: são estruturas longas e inclinadas que ligam o estaleiro ao mar. O navio é construído sobre essa rampa e, na hora do lançamento, ele desliza inclinando-se para a água, entrando no mar pela proa ou popa. Esse método é comum e relativamente simples para navios maiores, desde que haja espaço e terreno adequado.
- Slipway dedicado: é um tipo específico de rampa feita especialmente para lançar e recuperar embarcações. Diferentemente de uma rampa comum, um slipway dedicado tem mecanismos, guias e suportes para facilitar o controle do lançamento e a recuperação segura do navio.
Contexto Orçamentário e Industrial
- Participação no orçamento: a Coreia do Norte projetou destinar 15,9% de seus gastos governamentais à defesa em 2024, mantendo esse patamar em 2025.
- Foco na construção naval: embora não haja números absolutos oficiais, analistas estimam que uma fração significativa desse montante sustenta projetos como a classe Choe Hyon.
- Infraestrutura e mão de obra:
- Estaleiro de Chongjin: sem doca seca e com um único slipway lateral, equipado apenas com paredes de contenção adicionadas em 2024.
- Capacitação técnica: carência de treinamento especializado e de equipamentos de precisão eleva o risco de falhas em embarcações de grande tonelagem.
Aspectos Políticos Internos
- Uso propagandístico de falhas anteriores: o regime já reconheceu publicamente erros em lançamentos de satélites e no colapso de prédios residenciais, apresentando Kim Jong Un como redentor e punindo executivos responsáveis.
- Punições anunciadas: a KCNA responsabilizou o Departamento de Indústria de Munições, a Academia de Ciências e a Universidade Kim Chaek, sinalizando que os envolvidos enfrentarão sanções internas e possivelmente processos disciplinares.
Reações Externas e Testes Militares
Logo após o acidente, Pyongyang disparou mísseis de cruzeiro da região sul de Chongjin, indicando que, apesar do revés, mantém ritmo acelerado de testes de armamentos ─ parte de sua estratégia para dissuadir forças sul-coreanas e estadunidenses na península.
Análise de Especialistas
- Yang Wuk (Asan Institute): classifica o evento como “profundamente humilhante” para o regime, mas vê na transparência controlada uma forma de coibir boatos internos.
- Choi Il (ex-comandante da Marinha da ROK): alerta que, sem investimentos em docas secas e capacitação, incidentes semelhantes são quase certos em futuros lançamentos.
Conclusão
O lançamento fracassado em Chongjin expõe a dicotomia entre as ambições navais de Kim Jong Un e as restrições industriais e tecnológicas da Coreia do Norte. A ênfase orçamentária em defesa, aliada à falta de infraestrutura adequada, revela os limites materiais de um projeto naval alardeado como símbolo de poder, mas vulnerável a contratempos que arriscam a imagem e a autoridade do regime.
Atualização
Além do incidente recente em Chongjin, a Coreia do Norte já havia anunciado em março deste ano sua intenção de construir seu primeiro submarino nuclear, reafirmando a ambição do regime de ampliar sua projeção de poder marítimo. Esses eventos, ocorrendo em um curto intervalo de tempo, evidenciam a prioridade dada por Pyongyang à modernização e fortalecimento de sua marinha, mesmo diante dos desafios técnicos e orçamentários.
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