Fracasso no Lançamento de Destróier em Chongjin Abala Ambições Navais da Coreia do Norte

Kim Jong Un participa da cerimônia de lançamento de um novo destróier multipropósito em Nampo, Coreia do Norte, em abril de 2025.
Kim Jong Un durante a cerimônia de lançamento do destróier multipropósito em Nampo, Coreia do Norte, em 26 de abril de 2025. Foto: KCNA via REUTERS.

Na quarta-feira, 21 de maio de 2025, durante a cerimônia de lançamento de um destróier de 5.000 toneladas no porto de Chongjin, o líder norte-coreano Kim Jong Un presenciou o tombamento lateral da embarcação. Em raro reconhecimento público, ele qualificou o incidente como um “ato criminoso” causado por “descaso absoluto” e “empirismo não científico” e determinou que o navio fosse restaurado antes da reunião do Partido, em junho.

Detalhes do Acidente

  • Método de lançamento: o navio foi submetido a um side-launch, técnica de custo reduzido usada quando faltam rampas inclinadas ou docas secas.
  • Mecanismo da falha: o carro-suporte da popa deslizou prematuramente, desalinhou o equilíbrio e esmagou seções do fundo do casco, deixando o destróier tombado de lado.
  • Consequências imediatas: embora não haja relatos oficiais de vítimas, a Marinha sul-coreana confirmou que o navio permanece parcialmente submerso com os tubos de mísseis expostos.

Box Explicativo: Lançamento Lateral (Side-Launch)

O que é? Uma manobra em que o navio é empurrado lateralmente sobre trilhos ou carretéis alinhados à água.
Vantagens: requer menos infraestrutura, reduz custos de construção de rampas inclinadas ou docas secas.
Riscos: exige controle preciso de velocidade e equilíbrio; qualquer desalinhamento pode provocar tombamento ou danos graves ao casco.

Comparação Técnica de Destróieres

Classe / MarinhaDeslocamentoSistema de MísseisMétodo de Lançamento
Choe Hyon (Coreia do Norte)~5.000 t (full load)VLS táticos e de cruzeiroSide-launch sem doca seca
KDX-II (Coreia do Sul)5.500 t (std) / 6.520 t32 células Mk 41 VLS (SM-2), RAM, HarpoonRampa inclinada em estaleiro
Atago (Japão)7.700 t (std) / 10.000 tAegis SPY-1D, 96 células Mk 41 VLS (SM-2/SM-3)Docas secas ou slipway dedicado
Type 052D (China)7.500 t (full load)64 VLS (HHQ-9, YJ-18, CIWS Type 730)Docas secas, rampas especializadas

Explicação dos termos técnicos usados na comparação de destróieres:

  • Docas secas: são estruturas onde o navio pode ser colocado para reparos ou construção em ambiente seco. Basicamente, a doca é fechada e a água é drenada, deixando o casco do navio exposto para inspeção, manutenção ou montagem detalhada, com alta precisão. Elas permitem maior controle e segurança na construção de embarcações grandes.
  • Rampas inclinadas em estaleiro: são estruturas longas e inclinadas que ligam o estaleiro ao mar. O navio é construído sobre essa rampa e, na hora do lançamento, ele desliza inclinando-se para a água, entrando no mar pela proa ou popa. Esse método é comum e relativamente simples para navios maiores, desde que haja espaço e terreno adequado.
  • Slipway dedicado: é um tipo específico de rampa feita especialmente para lançar e recuperar embarcações. Diferentemente de uma rampa comum, um slipway dedicado tem mecanismos, guias e suportes para facilitar o controle do lançamento e a recuperação segura do navio.

Contexto Orçamentário e Industrial

  • Participação no orçamento: a Coreia do Norte projetou destinar 15,9% de seus gastos governamentais à defesa em 2024, mantendo esse patamar em 2025.
  • Foco na construção naval: embora não haja números absolutos oficiais, analistas estimam que uma fração significativa desse montante sustenta projetos como a classe Choe Hyon.
  • Infraestrutura e mão de obra:
    • Estaleiro de Chongjin: sem doca seca e com um único slipway lateral, equipado apenas com paredes de contenção adicionadas em 2024.
    • Capacitação técnica: carência de treinamento especializado e de equipamentos de precisão eleva o risco de falhas em embarcações de grande tonelagem.

Aspectos Políticos Internos

  • Uso propagandístico de falhas anteriores: o regime já reconheceu publicamente erros em lançamentos de satélites e no colapso de prédios residenciais, apresentando Kim Jong Un como redentor e punindo executivos responsáveis.
  • Punições anunciadas: a KCNA responsabilizou o Departamento de Indústria de Munições, a Academia de Ciências e a Universidade Kim Chaek, sinalizando que os envolvidos enfrentarão sanções internas e possivelmente processos disciplinares.

Reações Externas e Testes Militares

Logo após o acidente, Pyongyang disparou mísseis de cruzeiro da região sul de Chongjin, indicando que, apesar do revés, mantém ritmo acelerado de testes de armamentos ─ parte de sua estratégia para dissuadir forças sul-coreanas e estadunidenses na península.

Análise de Especialistas

  • Yang Wuk (Asan Institute): classifica o evento como “profundamente humilhante” para o regime, mas vê na transparência controlada uma forma de coibir boatos internos.
  • Choi Il (ex-comandante da Marinha da ROK): alerta que, sem investimentos em docas secas e capacitação, incidentes semelhantes são quase certos em futuros lançamentos.

Conclusão


O lançamento fracassado em Chongjin expõe a dicotomia entre as ambições navais de Kim Jong Un e as restrições industriais e tecnológicas da Coreia do Norte. A ênfase orçamentária em defesa, aliada à falta de infraestrutura adequada, revela os limites materiais de um projeto naval alardeado como símbolo de poder, mas vulnerável a contratempos que arriscam a imagem e a autoridade do regime.

Atualização

Além do incidente recente em Chongjin, a Coreia do Norte já havia anunciado em março deste ano sua intenção de construir seu primeiro submarino nuclear, reafirmando a ambição do regime de ampliar sua projeção de poder marítimo. Esses eventos, ocorrendo em um curto intervalo de tempo, evidenciam a prioridade dada por Pyongyang à modernização e fortalecimento de sua marinha, mesmo diante dos desafios técnicos e orçamentários.

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