Sidi Ould Tah assume presidência do Banco Africano de Desenvolvimento: um novo ciclo para a África

Sidi Ould Tah, presidente do Banco Africano de Desenvolvimento, cumprimenta um colega durante evento formal em sala elegante.
Sidi Ould Tah, presidente do Banco Africano de Desenvolvimento, em encontro oficial com líderes africanos.

Na última segunda-feira, 1º de setembro de 2025, Sidi Ould Tah tomou posse como o nono presidente do Banco Africano de Desenvolvimento (BAD), em uma cerimônia realizada em Abidjan, Costa do Marfim. Sua eleição, em maio, foi marcada por uma expressiva vitória: 76,18% dos votos, a maior margem já registrada para um primeiro mandato na história da instituição.

Quem é Sidi Ould Tah?

Natural da Mauritânia, Ould Tah possui uma sólida carreira no setor financeiro africano e internacional. Antes de assumir o BAD, foi presidente do Banco Árabe para o Desenvolvimento Econômico em África (BADEA), onde quadruplicou o balanço patrimonial da instituição e elevou sua classificação de crédito para AAA. Além disso, ocupou cargos ministeriais em seu país natal, incluindo os de Ministro da Economia e Ministro do Desenvolvimento Econômico, com mais de 35 anos de experiência em financiamento do desenvolvimento.

Desafios e expectativas para o BAD

O BAD enfrenta uma conjuntura desafiadora:

  • Corte de US$ 555 milhões: O governo dos EUA anunciou uma redução significativa no financiamento ao Fundo Africano de Desenvolvimento (ADF), afetando diretamente os países mais pobres do continente.
  • Necessidade de US$ 400 bilhões anuais: Estima-se que a África precise de mais de US$ 400 bilhões por ano para financiar sua transformação estrutural. O BAD está buscando apenas US$ 25 bilhões na atual rodada de reposição de recursos.
  • Mudanças climáticas e endividamento: Os países africanos enfrentam crescente vulnerabilidade devido às mudanças climáticas e altos níveis de endividamento, exigindo uma gestão financeira mais robusta.

Para enfrentar esses desafios, Ould Tah propôs uma agenda focada em quatro pilares:

  1. Reformar a arquitetura financeira africana: Fortalecer instituições financeiras continentais para reduzir a dependência externa.
  2. Aproveitar o dividendo demográfico: Investir em educação e capacitação para uma força de trabalho jovem e dinâmica.
  3. Industrialização sustentável: Promover a industrialização com foco em sustentabilidade ambiental e inovação tecnológica.
  4. Desbloquear capitais em grande escala: Mobilizar recursos financeiros, incluindo parcerias público-privadas, para financiar projetos de infraestrutura e desenvolvimento.

Comparação com a gestão de Akinwumi Adesina

O antecessor de Ould Tah, Akinwumi Adesina, esteve à frente do BAD de 2015 a 2025 e foi conhecido por sua abordagem de inovação tecnológica e apoio a pequenos agricultores. Enquanto Adesina focou em políticas de crescimento rápido e financiamento agrícola, Ould Tah apresenta uma visão mais estratégica e integrada, priorizando:

  • Redução da dependência externa das instituições africanas.
  • Investimentos na capacitação de jovens e desenvolvimento industrial sustentável.
  • Mobilização de recursos privados em larga escala.

Essa mudança indica uma direção estratégica mais ampla e de longo prazo, que busca consolidar a soberania financeira da África.

Impacto regional nos países lusófonos

A liderança de Ould Tah tem implicações diretas para países lusófonos, como Angola, Moçambique, Cabo Verde, Guiné-Bissau e São Tomé e Príncipe, que dependem de financiamento internacional para infraestrutura, energia e desenvolvimento social.

  • Angola e Moçambique: Podem se beneficiar de investimentos em energia sustentável e transporte, alinhados à agenda de industrialização de Ould Tah.
  • Cabo Verde e Guiné-Bissau: Projetos de capacitação e empreendedorismo juvenil podem impulsionar o crescimento econômico e reduzir desigualdades.

Essa abordagem regional reforça a importância do BAD como motor de integração e desenvolvimento sustentável no continente.

Perspectivas futuras e stakeholders

Investidores, ONGs e governos africanos acompanham de perto a presidência de Ould Tah. As expectativas incluem:

  • Estabilidade financeira e redução da vulnerabilidade externa.
  • Projetos de infraestrutura sustentável e inovadora.
  • Parcerias público-privadas mais efetivas e atração de investimentos internacionais.

Especialistas em desenvolvimento africano, como economistas do Banco Mundial e representantes do Fundo Monetário Internacional, destacam que a liderança de Ould Tah pode fortalecer a resiliência econômica e a governança do continente.

Reações políticas e regionais

A posse de Ould Tah contou com líderes africanos, incluindo os presidentes Alassane Ouattara (Costa do Marfim) e Mohamed Ould Ghazouani (Mauritânia), que ressaltaram a importância de sua liderança para o avanço das aspirações de desenvolvimento da África. Ghazouani enfatizou a “pesada responsabilidade” de Ould Tah em garantir que o BAD continue sendo uma alavanca essencial para paz, prosperidade e crescimento.

Perspectivas para o futuro

A liderança de Sidi Ould Tah representa uma oportunidade para redefinir a trajetória de desenvolvimento da África, consolidando sua integração econômica e fortalecendo a soberania financeira do continente. Com foco em inovação financeira, sustentabilidade e capacitação de jovens, o BAD sob sua presidência tem o potencial de impulsionar projetos transformadores e alinhar o desenvolvimento africano às melhores práticas internacionais.

Conclusão

A posse de Sidi Ould Tah à frente do Banco Africano de Desenvolvimento marca um novo capítulo na história econômica e política da África. Com uma visão estratégica focada em sustentabilidade, capacitação da juventude e fortalecimento das instituições financeiras continentais, Ould Tah busca enfrentar os desafios estruturais que o continente enfrenta, desde o endividamento elevado até a vulnerabilidade às mudanças climáticas.

Sua liderança não apenas promete maior integração econômica entre os países africanos, mas também abre oportunidades para os países lusófonos se beneficiarem de investimentos estratégicos e projetos de desenvolvimento sustentável. Para investidores, governos e organizações internacionais, a presidência de Ould Tah representa uma chance de consolidar parcerias duradouras, reforçando a resiliência e o crescimento do continente.

Em síntese, o BAD sob a liderança de Sidi Ould Tah pode se tornar um motor de transformação econômica e social, capaz de alinhar o desenvolvimento africano às melhores práticas globais e fortalecer a soberania do continente em um cenário internacional cada vez mais complexo.

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